Alexandre Rocha
São Paulo – Diplomatas dos países árabes e da América do Sul voltam a se encontrar nos dias 18 e 19 deste mês em Caracas, capital da Venezuela, para dar andamento às decisões da cúpula dos chefes de estado das duas regiões, realizada em Brasília em maio de 2005, e de encontros setoriais que ocorreram desde então.
Durante a reunião será formada a comissão responsável por acompanhar as atividades multilaterais na área de cultura, cuja criação foi aprovada no encontro de ministros da Cultura árabes e sul-americanos, realizado em Argel no início do ano. Será nomeado também o comitê executivo para assuntos econômicos, idealizado na reunião de ministros da Economia ocorrida em abril, em Quito, capital do Equador. O evento em Caracas ocorre logo após a Venezuela ter entrado no Mercosul, bloco econômico que conta com Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
"Serão feitos um levantamento e uma avaliação do que foi feito até agora, eventuais correções de rumos e a programação de novas atividades", disse Ânuar Nahes, diplomata responsável no Itamaraty pelas atividades de seguimento da cúpula.
Vai ser apresentado, por exemplo, um piloto do site sobre cooperação tecnológica entre as duas regiões, realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).
O site elaborado vai tratar principalmente de recursos hídricos e manejo de regiões semi-áridas, temas de interesse das duas regiões. A Argélia, inclusive, sediou em junho a conferência internacional sobre desertificação realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Na área cultural, será discutido também o lançamento do livro "O deleite do espantoso em tudo do que é maravilhoso", escrito no século 19 por Iman al-Baghdadi. De acordo com Nahes, o livro é o relato da viagem de três anos que o autor árabe fez ao Brasil. "O manuscrito ficou perdido durante anos e foi encontrado em uma biblioteca de Berlim, na Alemanha", afirmou o diplomata.
A obra já foi traduzida para o português por Paulo Farah, professor de língua, literatura e cultura árabe da Universidade de São Paulo (USP). O livro deverá ser co-editado pelas bibliotecas nacionais do Brasil e da Argélia. "Vamos ver também se há interesse da Biblioteca Nacional da Venezuela em editá-lo em espanhol", declarou Nahes.
Em Caracas, os diplomatas vão definir ainda a realização de encontros de ministros do Meio Ambiente, da área social e a próxima reunião de chanceleres dos dois blocos. A delegação brasileira deverá ser chefiada pelo embaixador Pedro Motta, subsecretário-geral de Política do Itamaraty, e vai contar com a participação de Nahes e de representantes da Embrapa, do IBICT e do Museu Goeldi, do Pará, que idealizou a exposição "Uma história de dois rios: o Amazonas e o Nilo". O projeto tem como objetivo mostrar características ambientais e humanas que cercam os dois maiores rios do mundo, localizados no Brasil e no Egito.