Alexandre Rocha
São Paulo – A Arábia Saudita está interessada em atrair empresas brasileiras para o setor de mineração do país. Na semana passada o presidente da Saudi Arabian Mining Company (Maaden), Abdallah Dabbagh, esteve no Brasil para falar sobre o assunto com companhias nacionais do segmento e, de acordo com ele, as conversas são promissoras. "Existem boas oportunidades para companhias do Brasil", disse ele à ANBA, após visita à sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo.
A Maaden, estatal do setor de mineração da Arábia Saudita, passa por um processo de privatização que deve ser concluído até o final do ano. A empresa vai firmar joint-ventures com companhias privadas para explorar quatro setores: metais preciosos, fosfatos, bauxita e minerais industriais. Atualmente a maior parte do seu faturamento, de US$ 250 milhões por ano, vem da produção de ouro. A idéia, no entanto, é investir pesado na extração de outros minerais para exportação.
"A Arábia Saudita depende do petróleo e do gás há muito tempo e o governo quer diversificar a economia", disse Dabbagh, que é geólogo. Ele esteve no Brasil, a convite do Itamaraty, junto com outros executivos sauditas: o vice-presidente do setor de petroquímicos da Saudi Arabian Basic Industries Corporation (Sabic), Homood Al-Tuwaijri, e o diretor da área de energia da agência de investimentos do país, Abdulwahab Al-Sadoun. Eles visitaram grandes companhias brasileiras das áreas de petroquímicos e mineração, além de estatais como a Petrobras e o Banco do Brasil. Seguem os principais trechos da entrevista:
ANBA – Como é o trabalho da Maaden?
Abdallah Dabbagh – Somos uma sociedade anônima, sendo que 100% das ações pertencem ao governo, mas com o objetivo de privatização até o final deste ano. Nós começamos há nove anos com um capital inicial de US$ 1,2 bilhão. Hoje nós temos quatro minas em operação e somos uma empresa de mineração e processamento com atividades diversificadas. As atividades são divididas em quatro áreas principais. A primeira é a de metais preciosos, como ouro e prata, na qual nós temos as quatro minas em operação que produzem cerca de 350 mil onças de ouro por ano e nós temos outras duas minas, um em construção e outra em desenvolvimento para expandir as operações. E pensamos que há uma boa oportunidade para companhias internacionais do Brasil para explorar conosco na Arábia Saudita.
E as outras áreas?
A segunda é a de fosfatos. Nós estamos desenvolvendo um projeto de US$ 1,2 bilhão para produzir fosfato diamônico para uso como fertilizante, que deve estar pronto em 2009 e produzir 3 milhões toneladas por ano. Estes fertilizantes são utilizados aqui no Brasil e há demanda para eles. A terceira é a de bauxita. Nós estamos desenvolvendo minas de bauxita para produzir alumina em uma refinaria e daí para uma fundição para produzir alumínio. Então nós teremos uma indústria de alumínio totalmente integrada. Este projeto está sendo desenvolvido ao custo de US$ 4,5 bilhões e deverá estar concluído em 2010. A quarta área é a de minerais industriais e estamos trabalhando com magnesita, caulim, silicatos e outros minerais.
Como será feita a privatização?
Ela será feita de duas maneiras. Primeiro vamos dobrar o capital no mercado de ações local e aí firmar joint-ventures nestes projetos específicos com parceiros internacionais que tenham tecnologia e experiência nas operações e no mercado.
Qual a participação que as companhias internacionais poderão ter?
Esta discussão está ocorrendo agora. Existem algumas companhias brasileiras e de outros países com quem nós estamos discutindo e é por isso que eu estou aqui.
Mas será possível para uma companhia estrangeira ter mais de 50% do negócio?
Isso vai depender do perfil da empresa, de qual a sua especialidade e experiência, etc. As companhias internacionais têm também a opção de ir para a Arábia Saudita por conta própria, porque nós temos uma nova lei sobre mineração que foi aprovada e que permite a empresas internacionais explorar e desenvolver minas na Arábia Saudita.
Hoje qual é o capital da empresa?
O capital está sendo avaliado pelo banco JP Morgan. A oferta pública inicial deverá gerar um aumento de US$ 3 bilhões para US$ 6 bilhões, mas essa é apenas uma estimativa.
Qual é o faturamento anual da companhia?
Hoje o faturamento vem praticamente só do ouro e no ano passado foi de cerca de US$ 250 milhões. Os outros megaprojetos, como eu os chamo, ainda estão em desenvolvimento.
E vocês importam alguma matéria-prima, ou só produzem lá?
Alguns dos processos requerem importação de algumas matérias-primas, mas nós não estamos aqui em busca disso e sim para conversar com empresas que têm know-how na área que nós trabalhamos.
E como foram estas conversas?
Foram muito positivas. As empresas daqui têm um trabalho de nível internacional e encontrei pessoas muito profissionais e hospitaleiras. Eu gostei muito da minha estadia aqui, embora tenha sido muito corrida. Gostei muito da diversidade das pessoas, das atividades desenvolvidas e da amizade que nos foi oferecida por todos, especialmente pelo Ministério das Relações Exteriores que fez o convite para a delegação saudita vir e encontrar nossos colegas de setor.
O senhor poderia dizer quais são as companhias que visitou?
Neste momento as discussões são confidenciais, mas assim que tivermos um acordo faremos o anúncio.
Há um valor mínimo que as empresas privadas devem investir?
Não, o investimento será baseado no que for negociado entre a Maaden e a companhia parceira.
Mas haverá uma licitação?
Não, serão acordos negociados.
A produção é destinada ao mercado local ou é exportada?
Atualmente todo o ouro fica no mercado local, mas a produção de fertilizantes e alumínio será 95% destinada ao mercado internacional. Nós vamos produzir, como eu já disse, cerca de 3 milhões de toneladas de fosfato diamônico e cerca de 720 mil toneladas por ano de alumínio.
Então podemos dizer que a Maaden está interessada em atrair empresas brasileiras e existem boas perspectivas nesse sentido?
Sim. E eu posso dizer que a Arábia Saudita se abriu para os mercados internacionais. Nós ingressamos na Organização Mundial do Comércio (OMC) no final do ano passado, ocorreram grandes reformas na legislação para encorajar os investimentos estrangeiros, temos uma nova lei de mineração que é muito competitiva e permite a todos praticamente se candidatar a licenças de exploração.
Quando vão ocorrer mais conversar com as empresas brasileiras?
Nos próximos dois meses.
Por que o governo saudita decidiu abrir o mercado?
A Arábia Saudita depende do petróleo e do gás há muito tempo e o governo quer diversificar a economia. Neste sentido, o setor de mineração tem um grande potencial de geração de empregos para os jovens, de levar desenvolvimento para áreas rurais onde há esta atividade e também para melhorar a infra-estrutura do país.