Giuliana Napolitano
São Paulo – As exportações do Brasil para países em desenvolvimento vêm crescendo mais do que as vendas para as economias avançadas. Também é maior do que a média mundial a participação brasileira nas importações das nações menos desenvolvidas. É o que mostra um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) divulgado na última sexta-feira (27).
De acordo com a pesquisa, de 2000 até outubro de 2003 (último mês avaliado pelo Iedi), as exportações brasileiras aumentaram em média 11%. As vendas para os países desenvolvidos subiram 9%. Para as nações mais pobres, apesar da crise na Argentina, que é um dos maiores mercados para os produtos nacionais, a alta foi de 13%. Houve ainda uma expansão de 17% nos negócios com os países classificados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como "de transição": basicamente, leste europeu, Europa central e Mongólia.
Com isso, a participação das economias mais avançadas nos destinos das exportações brasileiras caiu de 61,5% para 58,2% no período. Ao mesmo tempo, a fatia dos países em desenvolvimento e de transição passou de 36,7% para 40,2%.
Segundo o diretor-executivo do Iedi, Julio Sérgio Gomes de Almeida, a mudança teve início há cerca de quatro anos, quando o Mercosul começou a entrar em crise. "O lado positivo da crise foi que ela despertou o interesse dos empresários em buscar novos mercados e diversificar as exportações", afirmou, em entrevista à ANBA.
O interesse virou questão de primeira necessidade pouco depois. O colapso da Argentina fez as exportações brasileiras para o Mercosul caírem 23% em 1999; depois subiram 14% em 2000 e voltaram a baixar 18% e 48% nos dois anos seguintes. Para se ter uma idéia da crise, diz estudo do Iedi, apesar de os embarques para o bloco comercial terem crescido 71% no ano passado, o volume de negócios – que somou US$ 5,7 bilhões – ainda é inferior ao total vendido em 1999 (US$ 6,8 bilhões)
Com isso, a produção passou a ser escoada para outros mercados: as vendas para a África, por exemplo, aumentaram 44% em 2001 e 27% em 2002. Para o Oriente Médio e Turquia, a alta foi de 38% e 13%, respectivamente. E, no caso dos países asiáticos em desenvolvimento, houve expansão de 46% e 37% nesses dois anos.
"Bom mercado"
"Ou seja, os dados mostram que os países em desenvolvimento são um bom mercado para o Brasil, e não tínhamos isso em conta", afirmou Gomes de Almedia. "É importante saber isso de forma clara, especialmente numa época em que se discute a Alca, subsídios na OMC (Organização Mundial do Comércio) e acordos com a União Européia. Vemos que há um comércio bastante florescente também do outro lado", acrescentou.
O executivo lembra que parte dos negócios feitos no Mercosul também foi direcionada a países em desenvolvimento, especialmente os da União Européia e os Estados Unidos. Mas a procura pelos mercados em desenvolvimento foi maior. Segundo ele, por duas razões principais.
Uma delas foi o estabelecimento de multinacionais no Brasil, que se tornou a base de exportação dessas empresas para a América Latina. Foi o que aconteceu com a indústria automotiva e também com a de celulares. Isso ocorreu em muitos setores industriais. No caso da agropecuária, em razão do aumento da produção agrícola brasileira e do crescimento, quase que na mesma medida, do protecionismo das nações mais ricas, foi necessário buscar novos mercados. "Isso levou o empresário a procurar mercados alternativos", concluiu Almeida.
Participação maior
O estudo do Iedi mostra ainda que, apesar de a participação das exportações brasileiras no total de produtos comercializados no mercado internacional ser pequena – de cerca de 1% -, a taxa é maior nos países em desenvolvimento. Em 2003, por exemplo, chegou a 2%.
A região que mais compra bens do Brasil é a América Latina: no ano passado, o país contribuiu com 6,1% das importações desses países. Se for excluído o México – que é membro do Nafta -, a participação sobe para 17%. Em seguida, mas bem atrás, aparecem África (1,7%), Oriente Médio e Turquia (1,4%) e países asiáticos em desenvolvimento (0,9%). Entre as nações ricas, a parcela brasileira ficou em 0,8% em 2003.
Pouca novidade
Os países em desenvolvimento ganharam importância na pauta de exportações do Brasil, mas a maior parte do aumento das vendas ocorreu em razão de mercados já conhecidos e explorados pelo Brasil. "Ainda ficamos devendo uma expansão maior para mercados realmente novos", disse Almeida.
Por exemplo: no caso do Oriente Médio e Turquia, excluindo-se o Irã, que é o maior comprador de produtos brasileiros na região, o crescimento das exportações diminui de 22% para 9%. Na América Latina, sem a Argentina, a redução é de 26% para 9%. E, na Ásia sem a China, a alta passa de 49% para apenas 1%. Na média de todos os países em desenvolvimento, a expansão das vendas, em vez de 13%, fica em 8%.
O executivo acredita, no entanto, que a tendência daqui para frente é ampliar os negócios também para esses mercados não tradicionais. "Primeiro, buscamos os países com os quais já temos comércio. Agora, a expectativa é de que sejam procuradas outras regiões", explicou. "O governo também está mais ligado nisso", acrescentou.
No ano passado, o governo organizou missões comerciais a países secundários na pauta de exportações do país, como os árabes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez, em dezembro, a primeira visita oficial de um presidente eleito do Brasil ao Oriente Médio e Norte da África em mais de um século. Também foi organizada, pela Agência de Promoção de Exportações (Apex) e pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), a maior feira de negócios do país no mundo árabe, a Semana do Brasil em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
A expectativa do governo e da CCAB é de que as exportações brasileiras para essa região cheguem a US$ 7 bilhões até 2006. No ano passado, as vendas ficaram em US$ 2,7 bilhões.