Alexandre Rocha
alexandre.rocha@anba.com.br
São Paulo – A julgar pelos resultados de outras missões comerciais promovidas pelo governo da Bahia, a ida de uma delegação baiana para os Emirados Árabes Unidos, no final de abril, deverá render bons negócios ao estado. A afirmação é o do governador Jaques Wagner, que liderou a viagem. “Já temos vários exemplos de frutos que foram colhidos a partir de viagens como a dos Emirados Árabes”, disse ele à ANBA por meio de sua assessoria de imprensa.
A delegação foi composta pelo governador, seu chefe de gabinete, Fernando Schmidt, o secretário estadual da Indústria, Comércio e Mineração, Rafael Amoedo, e nove empresários baianos. Em Dubai e Abu Dhabi, eles se reuniram com executivos de empresas e representantes de órgãos públicos.
Um dos encontros foi com um diretor da empresa saudita Savola, que atua nas áreas de commodities agrícolas, alimentos e varejo e é dona da Panda, maior rede de supermercados da Arábia Saudita. O grupo baiano falou sobre oportunidades de investimentos no agronegócio, ramo que teve grande expansão no estado nos últimos anos.
Os brasileiros estiveram também com executivos da administradora portuária DP World que, segundo Wagner, quer ampliar seus negócios na América Latina, e tiveram contatos “promissores” com a DAS Holding, companhia de investimentos de Abu Dhabi. Leia a seguir parte das repostas enviadas pelo governador à ANBA:
ANBA – Quais foram os locais visitados na viagem aos Emirados?
Jaques Wagner – Em Dubai, o porto e Zona Franca de Jebel Ali, o Centro de Distribuição da Apex-Brasil (Agência de Promoção das Exportações e Investimentos), a Dubai Sports City, o Ministério do Turismo e a Câmara de Comércio e Indústria de Dubai. Além disso, houve uma reunião com o xeque Hamdan bin Rachid Al Maktoum (vice-governante de Dubai). Em Abu Dhabi foram visitadas as obras de ampliação do Aeroporto Internacional de Abu Dhabi e a sede da DAS Holding.
Quais eram os objetivos da viagem?
O objetivo da missão foi apresentar aos investidores árabes as oportunidades de negócios oferecidas pela Bahia em áreas como infra-estrutura, com destaque para portos, a ferrovia Oeste-Leste e os investimentos necessários para viabilizar a campanha para a Bahia sediar jogos da Copa do Mundo de Futebol em 2014; turismo; biodiesel; e o setor imobiliário.
Os objetivos foram atingidos?
O resultado parcial é animador. A expectativa é que a Bahia possa colher frutos já no ano que vem. A missão esteve com um executivo do grupo Savola, conglomerado da Arábia Saudita com atividades em produção e distribuição de gêneros alimentícios, além de investimentos em agronegócios. Mostramos o interesse da Bahia em receber investimentos nesse setor e convidamos o representante da Savola para visitar a Bahia e conhecer in loco as oportunidades apresentadas.
Em outro encontro, os executivos da DP World (administradora portuária) manifestaram seu interesse em expandir os negócios na América Latina. Na Zona Franca de Jebel Ali, incluindo o Porto de Dubai, operam mais de 7 mil empresas de 120 países. A DP World é proprietária de 55 terminais em 28 países, incluindo Argentina, Peru e Venezuela.
Em Abu Dhabi houve um encontro promissor com executivos da DAS Holding, grupo de investimentos cujo dono é o xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, atual ministro de Assuntos Presidenciais dos Emirados Árabes Unidos. A DAS Holding é um dos maiores fundos de investimento dos Emirados, atuando em diversos segmentos, como logística, medicina, construção, serviços financeiros e tecnologia da informação.
Foram alinhavados acordos ou qualquer outro tipo de intercâmbio?
Como tem acontecido com outras missões internacionais do governo baiano desde 2007, as possibilidades de intercâmbio foram delineadas e agora os contatos devem prosseguir até a formalização de eventuais acordos. A expectativa é que eles surjam a partir do natural processo de maturação dos contatos realizados.
Qual a impressão o senhor teve do país e dos contatos que manteve por lá?
O mundo árabe é um forte investidor, ainda mais com a atual valorização do petróleo no mercado internacional. Essa potência financeira pode ser constatada facilmente por quem visita os Emirados e conhece de perto a carteira de investimentos de suas empresas e a pujança de seus empreendimentos, incluindo os do setor imobiliário. Nesse contexto, a missão empresarial deixou o país com a certeza de ter conseguido motivar aqueles que sequer conhecem a Bahia para que o mundo árabe possa vir investir no estado.
A missão terá desdobramentos futuros?
Os desdobramentos devem acontecer na medida em que forem estreitados os contatos iniciados na visita oficial. A experiência tem mostrado que esses desdobramentos com certeza virão. Já temos vários exemplos de frutos que foram colhidos a partir de viagens como a dos Emirados Árabes.
Foi a partir de uma visita ao Japão, no ano passado, que a empresa Mitsui, um dos maiores conglomerados japoneses, enviou representantes ao interior da Bahia, adquiriu cerca de 100 mil hectares de terras no oeste, nos municípios de São Desidério e Correntina, e, junto com uma cooperativa americana, está implantando a maior processadora de algodão da América Latina.
Da China, visitada também em 2007, foram atraídos outros negócios que estão se concretizando: foi assinado um protocolo de intenções para investimentos chineses na construção de 10 complexos industriais para produção de açúcar e etanol, no extremo sul, no semi-árido e no oeste. Além disso, um grupo empresarial chinês pretende, se confirmado o potencial para produção de minério de ferro no município de Lage, investir cerca de R$ 1,5 bilhão, gerando cerca de 2,5 mil empregos. Os investidores chineses também estão avaliando a participação em grandes investimentos em infra-estrutura na Bahia, como a construção de novos portos e da ferrovia Oeste-Leste, e em turismo.
Outra importante interlocução foi aberta após visita aos Estados Unidos. Foi daí que a secretária de Estado, Condolezza Rice, decidiu incluir Salvador em sua visita ao Brasil, tendo se comprometido em se empenhar para divulgar o estado e promover a vinda de turistas à Bahia, valorizando o segmento afro-descendente. Também atraímos, dos EUA, a implantação da Comanche Clean Energy, fábrica de produção de biodiesel com uso de mamona e pinhão-manso, já em fase de implantação em Simões Filho, num investimento de R$ 9 milhões.
Em Cancun, no México, após a participação do governador no Fórum Econômico Mundial para a América Latina, foi conquistada uma parceria inédita: em janeiro de 2009, haverá uma sessão especial voltada para a Bahia em Davos, na Suíça, onde a versão original do encontro reúne os maiores líderes empresariais do planeta. Mais uma grande oportunidade de “vender” a Bahia para potenciais investidores.