Giuliana Napolitano*
São Paulo – A reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que terminou na última quarta-feira (24), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, pode render mais negócios ao Oriente Médio. Desde a semana passada, quando começaram os eventos extra-oficiais ligados à agenda central, autoridades árabes têm dito que o encontro foi a chance de a região mostrar aos maiores representantes do sistema financeiro global – que, pela primeira vez, estiveram reunidos num país árabe – as mudanças que vêm ocorrendo nesse setor no Oriente Médio.
Coincidência ou não, alguns bancos já começam a tomar medidas de aproximação. Na própria quarta-feira, o Credit Suisse, gigante do setor financeiro mundial, anunciou que pretende abrir uma filial no Centro Financeiro Internacional de Dubai (CFID).
O banco deve se candidatar a uma licença para operar na região, informaram agências internacionais.
O Credit Suisse se junta a outros grandes conglomerados financeiros mundiais, como o Allianz, e bancos, como o Deutsche Bank, que buscam se estabelecer em Dubai.
O CFID é, basicamente, uma zona de livre comércio de serviços financeiros nos Emirados Árabes, que segue as normas e estrutura regulatória de pólos de referência no mundo, como Londres e Nova York. O centro ainda não está funcionando. A expectativa é de que o governo local assine nas próximas semanas o decreto que permite a abertura para negócios.
O presidente do Conselho Regulatório do CFID, Ian Hay Davidson, disse nesta semana que, apesar de Dubai estar no centro de uma das regiões mais ricas do planeta, ainda não tem um centro financeiro à altura. Ele estima que existam em torno de 150 a 170 companhias privadas na região que usariam os serviços do centro.
À agência de notícias árabe Menafn.com, o vice-presidente do Credit Suisse para a Ásia e Oriente Médio, Joe Straehle, afirmou: "Examinamos de perto o modelo do Centro Financeiro Internacional de Dubai e fizemos uma avaliação bastante positiva. Estamos convencidos do potencial dessa região dinâmica e estamos muito comprometidos com essa iniciativa".
Citibank quer ajudar o Iraque
Outros bancos também começam a se estabelecer na região. É o caso do Citigroup. Nesta semana, a instituição voltou a discutir um acordo de cooperação com a Jordânia no segmento de bancos e investimentos. A proposta do Citi é a de servir como um centro de treinamento para o novo setor financeiro do Iraque.
Numa reunião com o rei Abdullah, da Jordânia, o diretor regional do Citi, Stanley Fischer, disse que a instituição estaria interessada em "juntar a experiência dos bancos sauditas à do Citigroup no processo de reabilitação dos bancos iraquianos".
Outra tacada do Citi no Oriente Médio foi a decisão de vender sua participação no banco saudita Saudi American Bank. A medida é vista por analistas como uma estratégia do banco para entrar diretamente no mercado da Arábia Saudita assim que o país ingressar na Organização Mundial do Comércio (OMC) e abrir seus serviços financeiros à concorrência internacional.
Religião
As instituições começam a ser atraídas, também, por um outro segmento: o dos serviços financeiros que seguem os princípios da religião islâmica. Segundo a agência de notícias Gulf News, esse ramo vem crescendo a uma taxa anual de 15%.
De olho no potencial, o grupo BNP Paribas abriu recentemente uma unidade voltada especialmente a clientes islâmicos em Bahrein, país do Golfo que é considerado a capital financeira do Oriente Médio.
Uma das principais diferenças do setor financeiro islâmico para o tradicional diz respeito aos juros.
A lei islâmica, a Sharia, condena a cobrança de juros. Ou seja, os bancos não podem cobrar juros de empréstimos, nem remunerar fundos de investimentos renda fixa. O que acaba acontecendo é que essa remuneração, em vez de ser feita com base nas taxas de juros convencionais, é substituída por uma participação nos ganhos ou perdas que os bancos têm ao administrarem os recursos dos clientes.
A Sharia permite, porém, investimentos em ações, porque representam um ativo real. Mas há restrições: as aplicações só podem ser feitas em papéis de empresas que não ferem os princípios da religião islâmica. Bebidas alcoólicas e armas, por exemplo, ficam de fora.
Como era de se esperar, as características são controversas, e nem todas as instituições financeiras estão dispostas a operar nessas condições. O BNP Paribas, porém, acredita que o esforço vale a pena. "É uma fonte de investimentos que não podemos mais ignorar", resumiu o vice-presidente do BNP, Amin Raad, explicando a iniciativa do banco.
O segmento tem se mostrado tão rentável que ultrapassou as fronteiras do Oriente Médio – há fundos de ações islâmicos sendo vendidos até mesmo nos Estados Unidos. Estima-se que o total de recursos islâmicos investidos em todo o mundo some cerca de US$ 260 bilhões.
*(com agências internacionais)