Giuliana Napolitano
São Paulo – O Brasil sabe muito pouco sobre os países árabes. Boa parte das informações que chegam ao país – e ao Ocidente, de maneira geral – se resume a guerras, conflitos religiosos e traços culturais considerados exóticos.
O fato é que há muito mais para se saber sobre a região. Para se ter uma idéia, os países árabes – 22, no total – têm uma das maiores rendas per capita do mundo, e muitos deles acabam de entrar num processo de abertura comercial e industrialização para além do setor petrolífero. O que abre inúmeras oportunidades de negócios a empresas de todas as nacionalidades.
O mercado de consumo também é promissor: estima-se que a população expandida do bloco chegue a 1,3 bilhão de pessoas. Isso porque, devido à criação de diversas zonas francas, a região se tornou centro de reexportação e distribuição de bens e serviços para a Índia, Paquistão, Irã e para os países da antiga União Soviética.
O porto de Jebel Ali, que fica na cidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, é o segundo maior do mundo em movimentação de contêineres. O primeiro é o de Cingapura. "Em Jebel Ali, existe toda uma estrutura de apoio muito bem definida", explica o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Michel Alaby.
"São serviços financeiros, de logística, zonas francas. Tudo é rápido e fácil", completa Alaby, que é especialista nas relações comerciais entre o Brasil e os países árabes.
Recentemente, o potencial econômico do bloco saltou aos olhos de empresários e do governo federal. Principalmente porque é um campo ainda pouco explorado pelo Brasil. O país responde por menos de 2% das exportações feitas anualmente ao mundo árabe – em 2002, o total comprado por esses países passou dos US$ 160 bilhões.
Apesar de pouco expressivo, porém, é um comércio que vem crescendo. No ano passado, as exportações brasileiras à região chegaram a US$ 2,6 bilhões, 73% a mais do que foi vendido em 2000. As importações ficaram em US$ 2,3 bilhões – um dos poucos superávits comerciais alcançados pelo Brasil no comércio com o bloco.
Reconhecendo a importância da região, no final do ano, Luiz Inácio Lula da Silva fará a primeira visita de um presidente eleito do Brasil a diversos países árabes, entre eles, Síria, Egito e Emirados Árabes Unidos.
Divisão em grupos
Lula encontrará países que têm muitas semelhanças, especialmente religiosas, culturais e geográficas. Mas também há diferenças significativas, especialmente no campo econômico.
A maioria dos países é dividida por blocos. Um dos mais desenvolvidos é o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), formado pelas nações que compõem a Península Arábica: Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes, Kuwait e Omã.
Esse bloco concentra os países de maior renda per capita da região. No Catar, por exemplo, a renda anual é de cerca de US$ 30 mil. Nos Emirados Árabes, chega a US$ 18,5 mil e no Kuwait, a US$ 15 mil. Como comparação, em 2002, o Brasil registrou uma renda per capita de pouco mais de US$ 2,5 mil.
No ano passado, os países do Golfo importaram do Brasil o equivalente a US$ 1,4 bilhão – mais da metade de tudo o que foi vendido pelo país ao mundo árabe. As exportações desse bloco ao mercado brasileiro foram de US$ 846 milhões.
Mais da metade do petróleo
A base da economia dos países do CCG é o petróleo. A Arábia Saudita tem a maior reserva de petróleo do mundo, de 261 bilhões de barris – volume que corresponde a um quarto das reservas globais.
Em segundo lugar, aparece o Iraque, com 113 bilhões de barris, seguido pelos Emirados Árabes (98 bilhões) e pelo Kuwait (97 bilhões). Ou seja, quatro países árabes controlam mais da metade das reservas de petróleo do mundo – e três deles fazem parte do CCG.
Os países do Conselho de Cooperação do Golfo também já constituem uma área de livre comércio. Segundo Michel Alaby, o bloco "caminha para a criação de um mercado comum". "Esses países já têm uma tarifa externa comum e trabalham para ter uma moeda comum daqui a sete, oito anos", afirma.
De acordos isolados ao mercado comum
A criação de um mercado comum é, na verdade, o ideal dos 22 países árabes hoje. "Existem diversos acordos bilaterais, entre o Egito e a Síria, a Síria e o Líbano, além do CCG, mas a intenção desses países é ampliar para um mercado comum, apesar de todas as diferenças que existem na região", diz Alaby.
De acordo com o secretário-geral da União das Câmaras de Comércio, Indústria e Agricultura dos Países Árabes, Elias Ghantous, até 2005 a Área de Livre Comércio Árabe entrará em vigor em 16 países, o que abre espaço para a formação do mercado comum.
Magreb e Cham
Outros dois grupos de países árabes são os que se localizam no Norte da África e o Cham. Do Cham fazem parte a Jordânia, o Líbano, Palestina, Síria e Iraque. Ao contrário da maioria dos países árabes, que ficam em áreas desérticas, esse bloco tem terrenos cultiváveis. Em compensação, possuem pequenas reservas de petróleo.
Os países árabes do Norte da África são Egito, Djibuti, Ilhas Comores, Somália, Sudão e as nações que formam o Magreb (Argélia, Líbia, Mauritânia, Tunísia e Marrocos).
As rendas per capita desses dois grupos são inferiores à do Golfo. No Norte da África, a média no ano passado foi de US$ 1,1 mil e, no Cham, ficou em cerca de US$ 2 mil.
Mas são países mais populosos. A África árabe concentra cerca de 195 milhões de pessoas e o Cham, 54 milhões, enquanto o CCG tem apenas 32 milhões. Apenas o Egito, que é o país mais árabe de maior população, tem 71 milhões de habitantes.
Os países do norte da África e do Cham vêm passando por um processo de abertura econômica e de privatizações, o que os torna pólos de atração de investimentos externos.
Além disso, muitos acabam de implementar políticas de desenvolvimento industrial e estão buscando parcerias empresariais para o fornecimento de máquinas e matérias-primas. "Eles dependem da importação de bens de capital e de matérias-primas", afirma Michel Alaby.
Também integra o bloco de países árabes o Iêmen. O país faz parte da Península Arábica e tem sua economia baseada em petróleo. Sua renda per capita anual, porém, de apenas US$ 414, é uma das menores da região.