Giuliana Napolitano
São Paulo – Na semana passada, o governo federal e grupos de empresários deram os primeiros passos para aumentar as relações comerciais do Brasil com a Argélia. Uma missão liderada pela ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, voltou do país africano com pelo menos três projetos em andamento: o estabelecimento de parcerias nas áreas de infra-estrutura, energia e construção, a liberação das exportações de carne bovina do Brasil para a Argélia e a criação de um conselho empresarial entre os dois países.
Até o final deste ano, o Brasil deve exportar cerca de 400 toneladas de carne bovina para a Argélia, informou o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Michel Alaby, que também participou da missão. Será a primeira venda de carne do Brasil ao parceiro africano.
O negócio pôde ser fechado porque o Ministério do Desenvolvimento e a Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (ABIEC) providenciaram o certificado sanitário que era exigido pelo governo argelino para aceitar a carne brasileira. A expectativa do Ministério é de que, com a decisão, o Brasil chegue a vender 100.000 toneladas de carne por ano à Argélia – o que renderia US$ 100 milhões.
Eliminar barreiras
Os empresários que participaram da missão também decidiram criar um Conselho Empresarial Brasil-Argélia. Segundo Michel Alaby, o Conselho será liderado pela CCAB e pela Câmara de Comércio e Indústria de Argel.
"O objetivo do Conselho", explicou Alaby, "é propor soluções para eliminar barreiras comerciais, de investimentos etc. e ajudar o governo a aumentar o comércio, a transferência tecnológica e os investimentos entre esses dois países".
Também participaram da missão empresas como a Embraer, a Braskem e a Andrade Gutierrez. De acordo com Alaby, foram assinados diversos protocolos para cooperação tecnológica entre os dois países na área de infra-estrutura e energia.
Um deles foi o memorando de intenções entre a Petrobras e estatal argelina de petróleo Sonnatrech, para que a empresa brasileira participe da exploração de petróleo em águas profundas na Argélia.
Convite presidencial
Segundo o Ministério de Minas e Energia, a missão enviada à Argélia teve o objetivo de intensificar as relações comerciais entre os dois países. Durante a viagem, a ministra Dilma Roussef entregou ao presidente argelino Abdelaziz Bouteflika uma carta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, convidando-o a visitar o Brasil.
"(Esse convite) manifesta o desejo brasileiro de explorar as coincidências e afinidades que, ao longo do tempo, vêm marcando as relações bilaterais", declarou Dilma, em discurso durante a missão. "Buscamos aprofundar, de maneira inovadora e determinada, todas as possibilidades de aperfeiçoar esse relacionamento".
Açúcar X petróleo
A balança comercial do Brasil com a Argélia é deficitária desde o final da década de 80, principalmente em razão das importações de petróleo. No ano passado, o saldo foi negativo em US$ 927 milhões.
Mas as exportações vêm crescendo. Em 2002, as vendas externas ficaram em US$ 87 milhões, 93% a mais do que o volume registrado no ano anterior. No mesmo período, as importações foram de US$ 1 bilhão, valor praticamente igual ao de 2001.
O Brasil vende à Argélia basicamente açúcar. No ano passado, apenas as exportações dessa commodity passaram dos US$ 50 milhões, quase 60% de tudo o que foi exportado ao país no período.
Mas a Argélia importa muito mais do que isso. Em 2001, o país comprou do exterior o equivalente a US$ 11,2 bilhões, principalmente, em trigo, derivados de leite, medicamentos, embarcações aéreas e espaciais e equipamentos de telecomunicação.
As importações brasileiras praticamente se resumem a petróleo e derivados. Em 2002, esses itens representaram cerca de 98% do total comprado pelo Brasil. A Argélia integra o Magreb, grupo de países árabes do Norte da África, do qual também fazem parte a Líbia, Mauritânia, Tunísia e o Marrocos.