Isaura Daniel
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São Paulo – Pesquisadores do Brasil e da Síria estão trabalhando para encontrar soluções mais eficientes ao combate da cydia pomonella, uma praga que ataca árvores frutíferas, principalmente de pêra e maçã. Os dois países integram um grupo internacional de pesquisa formado também por representantes do Chile, África do Sul, Áustria, Estados Unidos, Argentina, Armênia, Suíça e Canadá. Eles fazem encontros a cada um ano e meio e trocam informações sobre os avanços de cada país no combate ao inseto.
O grupo trabalha sob a chancela da Agência Internacional de Energia Atômica (AEIA) e da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). A primeira fase do projeto foi concluída em março, com um encontro na cidade de Vacaria, no Rio Grande do Sul. Agora, de acordo com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Adalécio Kovaleski, que lidera o projeto no Brasil, o grupo pedirá novamente o subsídio e o apoio da AEIA para continuar a cooperação.
O trabalho é ligado à AEIA em função das pesquisas apontarem como um dos caminhos para a eliminação da cydia pomonella a esterilização dos insetos, o que é feito com o uso da energia atômica. Os insetos machos são esterilizados com Cobalto 60 e depois liberados na natureza para copularem com as fêmeas. Como as fêmeas admitem apenas uma cópula em vida, acreditando que já estejam fecundas, não copulam com outros machos. Dessa maneira, as comunidades da praga vão diminuindo.
Segundo Kovaleski, o Canadá mantém uma biofábrica que gera 15 milhões de insetos por semana. O país trabalha com esse método há 12 anos. O compartilhamento da experiência, por meio do grupo de pesquisadores, tem como um dos objetivos difundir a técnica. A Síria, de acordo com o pesquisador, já está começando a trabalhar com o método. Participam do grupo dois pesquisadores ligados à Comissão de Energia Atômica da Síria e a instituições de ensino do país. A África do Sul, segundo Kovaleski, já importou insetos estéreis para experimentação e a Argentina está iniciando a produção dos insetos.
No Brasil, os pesquisadores estão negociando a possibilidade de produzir a praga estéril em uma biofábrica que existe em Petrolina, no estado de Pernambuco, que trabalha atualmente com mosca-da-fruta. Diferente de outros países, segundo Kovaleski, no Brasil a praga não está em áreas comerciais, mas apenas em zonas urbanas, como em quintais de residências. A intenção de usar o inseto estéril, no caso, é para impedir que ela vá para as plantações e eliminar definitivamente a praga das zonas urbanas.
De acordo com Kovaleski, a cydia pomonella foi detectada nas cidades de Lajes, em Santa Catarina, e nos municípios gaúchos de Vacaria, Bom Jesus e Caxias do Sul. O método usado até agora para o combate é a remoção das árvores e a substituição delas por plantas que dêem outro tipo de frutas. Na safra 1997/1998, quando o trabalho começou, foram recolhidos 22 mil insetos. Na safra 2006/2007 foram 220 insetos. O objetivo é usar insetos estéreis para acabar de vez com a praga.
A Síria, assim como o Brasil, é produtora de maçãs. A praga ataca as plantações na primavera e no verão e repousa no inverno. Por isso os países de clima quente são prejudicados. Desde que o grupo de pesquisadores foi formado, há cerca de seis anos, ocorreram encontros no Canadá, na África do Sul, na Argentina e no Brasil.