Marina Sarruf
São Paulo – Sempre ligada à cultura árabe, a professora brasileira de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, Jalusa Prestes Abaide, está no Líbano desde fevereiro de 2006 concluindo seu pós-doutorado em Direito Ambiental Internacional. Além de neta de libaneses, Jalusa é coordenadora do Núcleo de Estudos Libaneses (NEL) da UFSM, formado em 2001 em parceria com a Universidade Santo Espírito de Kaslik, que fica a cerca de 15 quilômetros de Beirute, capital do país árabe.
"Vim para o Líbano para desenvolver um projeto sobre as conseqüências jurídicas e econômicas do turismo nas áreas de preservação ambiental. As áreas arqueológicas e as reservas naturais são o forte do país", afirmou Jalusa, que retorna ao Brasil em março de 2007. Segundo ela, é interessante conhecer a estrutura administrativa de um país pouco conhecido do mundo ocidental em seu aspecto jurídico.
"O desenvolvimento econômico exige responsabilidades dos governos no que se refere à sua sustentabilidade, e o turismo é uma forma de desenvolvimento, que também pode causar sérios impactos ao meio ambiente urbano e rural", explicou Jalusa.
De acordo com ela, o Líbano sempre foi um país que atraiu turistas do mundo todo. No entanto, de alguns anos para cá esse cenário mudou. "Parece que a geopolítica não está contribuindo muito", disse Jalusa. Durante esse período no país árabe, ela pode presenciar claramente o efeito das questões econômicas e políticas no turismo. Por outro lado, Jalusa também desenvolveu um projeto paralelo: um guia turístico das reservas naturais do Líbano.
O guia foi elaborado por ela e pelo pesquisador brasileiro descendente de libaneses, Roberto Khatlab, que mora em Beirute. "A idéia é divulgar o guia também no Brasil", disse Jalusa. Segundo ela, a maior dificuldade para levar adiante o projeto é a falta de patrocínio. "Estamos com muitos projetos aqui, mas o maior problema é o financiamento. Tivemos apoio dos ministérios libaneses da Cultura e do Turismo e das universidades, mas não temos como financiar a edição do guia e pagar os tradutores, por exemplo", completou.
A viagem de Jalusa está sendo financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Ministério da Educação do governo brasileiro que financia projetos para a qualificação de docentes do país. De acordo com Khatlab, a viagem de Jalusa serve como um incentivo a outros professores brasileiros a irem pesquisar no Líbano e fortalecer as relações acadêmicas entre os dois países.
No início de 2006, o ministro brasileiro da Educação, Fernando Haddad, esteve no Líbano e na Síria, onde se encontrou com os ministros dos dois países para discutir programas de cooperação educacional entre as nações. Os acordos de cooperação já tiveram início com a viagem de Jalusa. A professora conseguiu firmar um convênio entre os dois núcleos de pesquisa, o NEL da UFSM e o Centro de Pesquisa sobre a Emigração Libanesa da Universidade Notre Dame de Beirute, que conta com o apoio de Khatlab.
Segundo Jalusa, a idéia agora é criar um Centro de Estudos Brasileiros na Universidade Santo Espírito de Kaslik, nos mesmos moldes do NEL na UFSM. "Eles estão bem abertos para o Brasil e demonstraram interesse", disse. Além de trocar informações entre os centros de estudos, a idéia é promover intercâmbio de alunos e professores entre as universidades. Outra proposta de Jalusa é a criar uma universidade libanesa no Brasil. "No começo poderiam ser apenas de cursos de pós-graduação", disse.
Nas raízes
Essa já é a segunda vez que Jalusa vai para o Líbano. "Se pudesse, voltaria todo ano", afirmou. Ela conta que o seu avô saiu de Jounieh, cidade libanesa, em 1912 com destino ao Brasil. Em Santa Maria, ele ajudou a fundar a primeira sociedade libanesa da cidade na década de 30. No momento, Jalusa também está na cidade natal do avô tentando levantar a história de suas raízes. "Tenho interesse em escrever um livro sobre a história da minha família", completou.