São Paulo – Ontem foi dia de começar a colocar em prática o que foi discutido durante a cúpula América do Sul-Países Árabes. A Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), por exemplo, deverá criar uma divisão para ajudar nas negociações entre o Mercosul e o Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), que vão negociar um tratado de livre comércio. A idéia partiu do diretor do departamento de promoção comercial do Itamaraty, Mário Vilalva, durante abertura do Encontro Empresarial Brasil-Países Árabes promovido pela CCAB no Hotel Renaissance, em São Paulo.
O presidente da Câmara, Antonio Sarkis Jr., e o secretário-geral do GCC, Abdul Rahman Bin Hamad Al-Attiyah, aprovaram a proposta. De acordo com Sarkis, a CCAB está disposta a colaborar. Os detalhes e o formato do novo departamento, porém, ainda precisam ser estudados.
Em torno de 400 empresários brasileiros e 90 árabes participaram ontem do primeiro dia do encontro de negócios promovido pela CCAB. Nas salas do Renaissance estavam desde empresas do setor confecção, até indústrias de café. A ATW Comercial Importadora e Exportadora, do interior de São Paulo, por exemplo, procurava compradores para as bijuterias, roupas e acessórios que vende. A ATW já exporta para o México, Israel e Canadá e ontem teve o seu primeiro contato com os árabes.
Entre as empresas brasileiras também estavam a M. Dias Branco, holding do Ceará que possui 10 fábricas de biscoitos e massas no Brasil e é dona da marca Adria. A companhia, líder no setor no país, tem intenção de entrar no mercado árabe com uma das suas marcas, a Richester.
A Café Canecão e a Vanucci, fabricante de refrigerantes e xaropes para sucos, as duas de Campinas, também estavam em busca de compradores árabes. A Vanucci ainda não exporta. A Canecão vende no mercado externo 100 toneladas de café das 500 que produz ao mês e tem entre os seus compradores a Arábia Saudita. O representante da Phael Confecções, da cidade paulista de Auriflama, trouxe uma mala cheia de roupas íntimas e moda praia para mostrar aos árabes. A empresa possui quatro unidades industriais, três delas no Mato Grosso do Sul, e produz cerca de mil peças de roupas ao mês.
Compras
Entre os árabes estavam empresas como a importadora Agrimpex, do Marrocos. O gerente geral da companhia, Martin Langer, estava interessado em comprar portas e janelas de madeira. A Agrimpex, que importa cerca de US$ 25 milhões ao ano, trabalha também com compra de commodities, como soja e algodão. Langer veio disposto a estabelecer contatos diretos com indústrias brasileiras, já que já chegou a comprar produtos do país, mas por meio de multinacionais.
O sírio Hanna Saliba, presidente da confecção Hanna e Matta Saliba, procurava fornecedores de tecidos. A empresa produz entre cinco e seis mil peças por dia e exporta 95% da produção para Oriente Médio, Europa e Canadá. A produção engloba desde calças jeans até camisetas e camisas. A Hanna é licenciada pela Walt Disney para produzir camisetas com os personagens da marca e possui três lojas na Síria e uma nos Emirados Árabes Unidos.
O presidente da Companhia Daoud de Comércio, Fayez Daoud, da Síria, veio a São Paulo, disposto a encontrar fornecedores para diversos tipos de produtos, como soja, milho, fosfato, cálcio, carnes, além de equipamentos e máquinas para abate de frango e silos.
A vez do setor privado
Incentivar o setor privado a tomar a dianteira das relações entre o Brasil e os países árabes foi justamente o foco do seminário realizado antes das rodadas de negócios. "Nossa perspectiva é de que as relações (com os países árabes) aumentem e a Câmara não vai medir esforços para se alcançar este objetivo", disse Antonio Sarkis Jr.
Na mesma linha, o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, disse que, após a cúpula de Brasília, a responsabilidade está agora está nas mãos dos empresários. "Agora a bola está com o setor privado", declarou. "Cabe a vocês (empresários) potencializar as oportunidades", acrescentou o ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan.
Já o secretário-geral do GCC disse que é preciso aproveitar a "oportunidade histórica" criada pela cúpula para promover o comércio e as parcerias. O secretário-geral da União Geral das Câmaras de Comércio, Indústria e Agricultura dos Países Árabes, Elias Ghantous, disse que é necessário ampliar a transferência de tecnologias entre o Brasil e o mundo árabe.
Neste sentido, durante o evento foi assinado um memorando de intenções entre o governo do estado de São Paulo e a Liga Árabe para promover a cooperação em várias áreas. "É um esforço de São Paulo para aproximar as universidades, o setor de ciência e tecnologia e procurar fortalecer as relações comerciais", disse o governador Geraldo Alckmin.
Investimentos
Durante o encontro, os governos da Argélia, Egito, Jordânia e Tunísia organizaram workshops para apresentar as oportunidades de investimentos existentes em seus países. "Temos a previsão de construir 1,2 mil quilômetros de rodovias", exemplificou Djamel Zeriguine, representante da Agência de Promoção de Investimentos da Argélia, acrescentando que teve início no país um processo para privatizar 1.238 empresas públicas.
Do Egito, quem apresentou as oportunidades foi Ashraf El-Attal, diretor da empresa Egyptian Traders Co. e coordenador do Conselho Empresarial Brasil-Egito. "Nossa sugestão é de que os países utilizem o Egito como centro de distribuição para outros países árabes ou para fabricar os produtos", afirmou. (Isaura Daniel, Marina Sarruf, Geovana Pagel e Alexandre Rocha)