Giuliana Napolitano
São Paulo – Não há números precisos, mas estimativas de entidades ligadas ao setor apontam que as exportações de software ficaram em torno de US$ 250 milhões em 2003. É pouco mais de 2% de tudo o que a indústria faturou no ano: US$ 11 bilhões, nas contas da Sociedade para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex), organização privada criada em 1993. Mas a meta do governo é levar as vendas externas à marca de US$ 2 bilhões até 2008. Para empresários, o ponto de partida para esse crescimento deve ser política industrial e tecnológica, anunciada no final do ano passado pelo Planalto e prevista para ser detalhada nesta quarta-feira (31).
Software é um dos quatro setores considerados prioritários pelo governo, ao lado de bens de capital, fármacos e medicamentos e semicondutores. Empresários que participaram da elaboração das medidas de incentivo para a indústria de software acreditam que a meta de US$ 2 bilhões é factível, mas ponderam que é "preciso esforço". "É totalmente viável, mas toda a indústria tem de se esforçar", disse à ANBA o coordenador-geral da Softex, Djalma Petit.
"Não vai ser fácil chegar aos US$ 2 bilhões, mas é possível", afirmou o presidente da Associação das Empresas de Software e Serviços (Assespro), Ernesto Haberkorn.
Para Haberkorn, as principais dificuldades do setor são a falta de linhas de financiamento e de incentivos fiscais. Na avaliação do empresário, o governo deve levar em conta que cerca de 80% do setor são empresas de pequeno porte.
De forma geral, as exportações das micro e pequenas empresas brasileiras são muito baixas: representam em torno de 12% de tudo o que o país vende ao exterior. Por uma série de razões, desde falta de tradição até burocracia e altos custos. Não é diferente na indústria de software.
Para se ter uma idéia, hoje existem cerca de 5 mil companhias de software no país, de acordo com as estimativas da Assespro. Dessas, segundo Haberkorn, apenas 60 exportam. "O investimento para exportar é muito alto para as pequenas organizações", acredita. Ele lembra que as companhias da Índia – que estão entre as principais concorrentes do Brasil no mercado mundial – receberam incentivos tributários, por exemplo.
Petit coloca na lista de dificuldades o pouco conhecimento da indústria brasileira de software no exterior. Para ele, ações de promoção do governo são necessárias, mas as empresas também precisam "se esforçar". "Os pequenos empresários indianos exportam muito e têm planos de crescer", declarou Petit. "Além disso, a Índia hoje tem uma imagem forte no exterior", acrescentou.
Mercado interno: diferença entre Brasil e Índia
Apesar de aos grupos indianos serem muito mais conhecidos no exterior do que os brasileiros, o faturamento dessa indústria nos dois países é similar. Só que a Índia exporta praticamente tudo o que produz. Uma das principais razões, segundo Petit, é o fato de que o mercado interno indiano é "muito pequeno" e brasileiro é "enorme". "É o sétimo maior mercado do mundo, absorve boa parte da produção local. O que deve, na verdade, ser um diferencial para o Brasil", avalia.
Isso porque, explica o empresário, ao atender companhias locais, as empresas brasileiras passam a conhecer o negócio do cliente. "Elas não fazem o software simplesmente. Elas conversam com o cliente, entendem o que ele precisa, sugerem soluções etc.", diz. Segundo ele, na Índia é diferente: a maioria das empresas recebe as especificações do software que deve ser desenvolvido por consultorias internacionais. Ou seja, tem pouca relação com o cliente e com o setor que está atendendo".
Na avaliação de Petit, foi essa diferença do mercado brasileiro que fez o país começar a ser reconhecido internacionalmente como referência em software para o setor bancário, por exemplo. "As empresas nacionais agregam valor ao produto porque conhecem o negócio", diz.
Certificação
O que o Brasil não tem é certificação internacional. De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia, apenas 20 empresas nacionais possuem o Capability Maturity Model (CMM). O CMM é um modelo de avaliação da produção de software, uma espécie de ISO 9000, mas voltado só para tecnologia e reconhecido mundialmente.
Para Haberkorn, poucas empresas brasileiras têm o certificado porque o custo é alto para as organizações de pequeno porte. "O custo mínimo para fazer as adaptações e obter o CMM é de US$ 150 mil", estima.
A questão dos certificados internacionais também foi debatida nas discussões entre governo e empresários para o fechamento da política industrial para o setor de software, segundo os empresários. Petit informou que o foco da política deve ser a promoção das exportações, mas ressaltou que muitas ações não são imediatas. "O governo quer criar pólos tecnológicos, programas de qualidade. O programa é bem completo. Estamos otimistas", declarou.