Geovana Pagel
São Paulo – Pequenos agricultores de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul chamada Três de Maio estão conquistando fama fora do país como produtores de alimentos orgânicos. Os associados da Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai, a Cotrimaio, vão colher neste ano a sua sétima safra orgânica. Eles plantam soja, milho, centeio, trigo, hortifrutigranjeiros e também produzem leite e açúcar mascavo.
O grupo é formado por 71 produtores, a maioria de pequeno porte, com propriedades entre 10 e 20 hectares. A meta da cooperativa, porém, é aumentar esse número até 2006. A Cotrimaio tem um total de 12.144 associados.
"Mercado para os orgânicos há. O nosso problema é a disputa com a tecnologia e a produção de transgênicos”, afirma o presidente da Cotrimaio, Antônio Wünsch. Segundo ele, a cooperativa foi pioneira no incentivo da produção orgânica no país e o estágio de qualidade que atingiu pode ser medido pelas visitas de estrangeiros que acontecem de forma regular.
"Os orgânicos nos deram uma visibilidade tanto no país quanto no exterior e os reflexos disso podem ser notados pela procura de inúmeras organizações internacionais que querem mais informações sobre o programa de orgânicos", diz Wünsch.
Os orgânicos são justamente uma das apostas do Brasil para aumentar as exportações. O mercado mundial de orgânicos movimenta US$ 30 bilhões ao ano. Hoje o Brasil tem 7,1 mil produtores certificados e uma área ocupada de 170 mil hectares. Há espaço para produzir orgânicos, porém, em seis milhões de hectares.
Segundo a Federação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os produtores nacionais de orgânicos faturam US$ 250 milhões ao ano. Até 2010, porém, o Brasil pode ter 10% do mercado mundial de orgânicos, cerca de US$ 3 bilhões.
Conscientização
Para informar e orientar os produtores sobre os benefícios do cultivo de orgânicos, a Cotrimaio organiza reuniões, seminários, treinamento e visitas técnicas nas propriedades. A cooperativa também é responsável pela certificação dos orgânicos. "Desde o começo utilizamos o selo de uma certificadora francesa, a Ecocert, considerada uma das maiores da Europa e presente em mais de 50 países", afirma o supervisor de Agroindústria, Nelson Hammes.
Desde que o programa de orgânicos da Cotrimaio foi criado, em 1999, já foram exportados soja e farelo de soja orgânica para França, Alemanha e Estados Unidos. No mercado interno, os produtos orgânicos chegam às prateleiras dos principais supermercados, em todo o país. Os maiores compradores estão nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
A cooperativa também mantém uma loja de produtos orgânicos, na sede da entidade, onde comercializa farinhas, sucos, erva-mate, vinhos e produtos hortifrutigranjeiros.
Seca prejudicou produção
Na safra 2004/2005, em função da quebra provocada pela estiagem que castigou o sul do país, foram colhidas cerca de 150 toneladas de soja orgânica em uma área de 409 hectares, contra 369 toneladas, em uma área de 572 hectares, na safra 2003/2004.
O faturamento global da cooperativa em 2004 foi de R$ 227,3 milhões. O resultado líquido ficou em R$ 5,3 milhões. De acordo com Wünsch, na safra 2003/2004 a Cotrimaio recebeu 2,5 milhões de sacas de soja, entre orgânica e convencional, o que significa cerca de 180 mil toneladas. Na safra 2004/2005, em função da quebra de safra, foram apenas 40 mil toneladas do produto. A safra de trigo também foi afetada. Diminui de 1,2 milhão de sacas, 80 mil toneladas, na safra 2003/2004, para 1 milhão de sacas, cerca de 70 mil toneladas.
A China é o principal mercado importador da soja produzida no município. As exportações hoje representam 20% da produção e a tendência é aumentar nos próximos anos. "Nossa meta para o ano que vem é exportar pelo menos 30% da produção de soja", garante o presidente.
A cooperativa
A Cotrimaio foi fundada em 1968 por 25 agricultores. Hoje são 12.200 associados, sendo que 96% deles possui menos de 50 hectares de terra. A cooperativa tem a capacidade para armazenar aproximadamente 5,9 mil sacos de graõs.
A cooperativa está localizada na região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, com filiais instaladas em Dr. Maurício Cardoso, Humaitá, Independência, Horizontina, São José do Inhacorá, Vila Cascata do Buricá, Alegria, Esquina Araújo, São Caetano, Boa Vista do Buricá, Sede Nova, Tiradentes do Sul, Crissiumal, Três de Maio, Cruz Alta, Pejuçara, Boa Vista do Incra, Boa Vista do Cadeado, Fortaleza dos Valos, Três Capões e Ponte Queimada.
A cooperativa possui ainda supermercados, lojas de insumos agropecuários, postos de combustível e uma empresa de comércio e transporte de combustíveis, além de industrializar e comercializar produtos da marca Raízes.