Cláudia Abreu
São Paulo – O suco de laranja brasileiro está garantindo lugar nas mesas árabes. As exportações diretas do Brasil para os países da região somaram mais de 1 mil toneladas nos primeiros quatro meses do ano, o que rendeu US$ 777 mil aos exportadores. Em 2004, o volume comercializado foi de 390 toneladas, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
“O crescimento é expressivo e mostra o potencial do mercado árabe”, afirma Ademerval Garcia, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Sucos de Laranja (Abecitrus).
O grupo francês Louis Dreyfus, no Brasil desde 1940 e um dos maiores exportadores mundiais de suco de laranja, está entre as empresas que desfrutam do crescimento das exportações para o mercado árabe. A companhia vende para quase todos os países árabes. Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos são os principais compradores. Os embarques são feitos via Roterdã, na Holanda. No ano passado, a empresa vendeu cerca de 12 mil toneladas de suco concentrado e congelado para as nações do Oriente Médio.
Cláudio Barrozo, gerente comercial do grupo Louis Dreyfus, afirma que o mercado árabe é “maduro” e, portanto, o crescimento é consistente. Ele credita o aumento gradativo do consumo de suco de laranja a três fatores: ao clima da região, muito quente; às leis islâmicas, que proíbem a bebida alcoólica, e às políticas educacionais de algumas cidades, que incentivam o consumo de sucos. “Há escolas que não vendem refrigerantes. Só oferecem suco e leite para as crianças”, conta.
Outro ponto citado por Barrozo diz respeito ao abastecimento. O executivo afirma que concorrentes do Brasil no segmento de sucos, como Índia e China, que produzem bebidas de manga e tomate, são mais suscetíveis aos altos e baixos das safras. “Tem períodos do ano que esses sucos, também apreciados pelos árabes, desaparecem dos supermercados. Enquanto que o de laranja está sempre lá. Nunca falta”, afirma. O Louis Dreyfus atende o mercado árabe há 15 anos.
Segundo Barrozo, o suco laranja do grupo é exportado em barris de 270 quilos. Cada unidade rende 1.600 litros de suco pronto para beber. Todo o processo de empacotamento é feito nos países árabes, por empresas locais. “Vendemos diretamente para o engarrafador”, explica. Para manter o bom relacionamento, Barrozo visita os clientes uma vez por ano. Outro fato importante: “não especulamos com os árabes. Eles pagam o mesmo preço dos europeus”, afirma o executivo.
O grupo Louis Dreyfus está no Brasil desde 1940 e atua na área de cítricos desde 1988. Os sucos integrais e concentrados produzidos pela companhia são distribuídos e vendidos em 65 países. A empresa também comercializa subprodutos provenientes do esmagamento dos cítricos como aromas, polpas e farelo de polpa cítrica para consumo animal.
Aposta
Empresas de médio porte também estão apostando no crescimento das vendas de sucos aos árabes. Poliana Guerra, assessora de exportação da Suco Mais, do Espírito Santo, conta que, há dois meses, a companhia fez sua primeira venda para a Líbia, no norte da Àfrica. Desde então, seis contêineres de sucos prontos para beber foram embarcados para o país.
As bebidas da Suco Mais são distribuídas em atacadistas da Líbia. “Também estamos negociando com os Emirados Árabes Unidos, Líbano e Síria. Já apresentamos as cotações e enviamos amostras, agora estamos aguardando o contato deles”, afirma Poliana.
Segundo ela, as negociações com os árabes são demoradas, “não acontecem da noite para o dia”. As conversas para venda aos líbios, por exemplo, começaram em outubro do ano passado, numa feira em Paris, na França, e só foram concluídas em abril deste ano.
A empresa está adaptando as embalagens ao mercado árabe. Informações nutricionais e outros dados, que são exigidos pelos órgãos locais, serão traduzidos para o árabe e etiquetados nas embalagens. Outra estratégia para aumentar as vendas na região é a participação em feiras internacionais. Este ano, eventos em Angola, Portugal e Japão estão na agenda da companhia.
A Suco Mais emprega cerca de 400 funcionários e gera 4 mil empregos indiretos no estado do Espírito Santo. No ano passado, a companhia produziu 90 mil litros de sucos. Os números deste ano, no entanto, serão bem maiores. “Estamos em processo de expansão na produção”, afirma Poliana. A empresa exporta, principalmente, para Angola, Cabo Verde e Estados Unidos.
Laranja
No Brasil há 650 mil hectares de pomares de laranja. Eles reúnem mais de 200 milhões de árvores, segundo dados da Abecitrus. A produção está centralizada no interior de São Paulo. São 322 as cidades paulistas que vivem da laranja. No ano passado, o país exportou 1,3 milhão de toneladas – 80% de todo o comércio mundial. A receita com as vendas externas foi de US$ 1,3 bilhão.