Isaura Daniel
São Paulo – O diplomata Mohamed Heimeda Saad Matri vai deixar o cargo de embaixador da Líbia no Brasil para abraçar uma nova missão na construção das relações do país árabe com o continente americano. Matri embarca de volta para a Líbia hoje (29) para chefiar o Departamento das Américas no governo local. "O objetivo é melhorar as relações com a América Latina, especificamente com o Brasil, dar mais prioridade para esta região, para o Brasil", afirmou Matri em entrevista à ANBA ontem durante visita à sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo.
De acordo com Matri, o governo líbio quer dar prioridade ao Brasil nas suas relações internacionais. O embaixador lembra que a Líbia não tem relações históricas negativas com o país e que as duas nações fazem parte do grupo de países em desenvolvimento e por isso têm interesses comuns. "A Líbia está liderando a União Africana e o Brasil liderando a integração da América Latina", diz Matri. O Brasil e a Líbia podem trabalhar juntos, por exemplo, segundo o diplomata, pela reforma da Organização das Nações Unidas (ONU), que precisa ser mais democrática.
O primeiro-ministro da Líbia, Al-Baghdadi Ali Al-Mahmud, virá ao Brasil no primeiro semestre do próximo ano, segundo Matri. O objetivo será discutir possíveis investimentos líbios no país e o aumento do intercâmbio comercial. Algumas empresas líbias já manifestaram a intenção de investir no Brasil. O embaixador afirma que se as empresas brasileiras fossem mais agressivas comercialmente teriam muitas oportunidades de negócios na Líbia, já que o país árabe dá prioridade ao Brasil em suas relações comerciais. Mas para isso, segundo o diplomata, é preciso que os empresários brasileiros conheçam a Líbia.
Matri afirma que as relações comerciais do Brasil com a Líbia têm condições de avançar, apesar do aumento que houve no intercâmbio entre os dois países nos últimos anos. O diplomata ficou à frente da embaixada da Líbia por mais de seis anos. De acordo com ele, quando chegou no país, a corrente comercial das duas nações era de US$ 45 milhões e agora está ao redor de US$ 250 milhões. No ano passado, a soma entre exportações e importações foi de US$ 247,6 milhões. Entre janeiro e julho deste ano já chegou a US$ 163,2 milhões.
De acordo com Matri, o trabalho da Câmara Árabe é e continuará sendo muito importante para o aumento do comércio entre o Brasil e os países árabes. "O trabalho da Câmara Árabe complementa o trabalho das embaixadas, principalmente no campo de comércio", afirma. Matri afirma que viu as relações comerciais do Brasil com a Líbia aumentarem muito nestes anos em que esteve à frente da embaixada. Do trabalho feito na embaixada ele ressalta as visitas a diferentes estados do Brasil, o que, segundo ele, ajudou a divulgar informações sobre a Líbia pelo país afora. A embaixada participou de atividades no Piauí, Tocantins, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Matri volta para a Líbia levando na bagagem a imagem do Brasil como um país de futuro. "O Brasil tem um grande potencial. Tem muitas riquezas, como a água, a Amazônia, e precisa protegê-las", afirma. Matri é formado em Direito e começou a sua carreira diplomática em 1974 no Ministério de Relações Exteriores da Líbia. Ontem ele foi homenageado pela Câmara Árabe em função do seu trabalho na embaixada.
O diplomata foi recebido pelo presidente da entidade, Antonio Sarkis Jr., pelo vice-presidente de Marketing, Rubens Hannun, pelo vice-presidente de Relações Internacionais, Helmi Nasr, pelo secretário-geral, Michel Alaby, e pelos diretores Sami Roumieh e Mustapha Abdouni, que também é cônsul honorário da Jordânia. Matri recebeu uma placa de homenagem e um abridor de cartas em prata.