Riad – Empresários brasileiros que integram delegação do Ministério da Agricultura em missão a quatro países árabes do Golfo tiveram nesta terça-feira (16) reuniões com executivos de grandes companhias do ramo de alimentos e potenciais investidores em Riad, na Arábia Saudita. Dos dois lados, a opinião sobre o potencial para o encaminhamento de negócios foi positiva.
“Eu gosto de 90% do que foi apresentado”, disse o presidente da empresa saudita de investimentos WK Capital, Wahdan Al Kadi. A companhia tem um escritório em São Paulo. “Aqui o governo e a iniciativa privada estão focados no agronegócio em locais como o Brasil”, destacou.
Como a água é escassa na Arábia Saudita, a estratégia do país atualmente é preservá-la para consumo humano e investir na produção agropecuária em locais que tenham áreas e recursos naturais abundantes. “Este é o melhor momento para estrangeiros virem aqui, pois há interesse em olhar para fora e em diversificar a economia para além do petróleo”, observou Kadi.
Janine de Menezes, diretora da Biofish, que cria peixes amazônicos de água doce em Rondônia, gostou do encontro com Kadi e pretende dar seguimento às conversas. Ela quer aumentar a produção por meio de módulos de 500 hectares de lâmina d’água cada, o que exige um investimento de R$ 50 milhões por módulo.
“Existe demanda já mapeada na Ásia, nos Estados Unidos e no próprio Oriente Médio”, disse Menezes. Hoje, o que a empresa produz atende somente ao mercado brasileiro. “Mas os projetos que estamos apresentando aqui são direcionados para exportação”, afirmou.
Na mesma linha, Ana Ferrari, da Granja Barufi, do interior de São Paulo, busca recursos para aumentar a capacidade de produção de aves e ovos férteis. “Eles têm interesse numa produção personalizada para a Arábia Saudita, com rastreabilidade e alimentação de origem 100% vegetal, e é isso o que oferecemos”, declarou.
A granja cria frangos, mas não faz o abate. Ferrari disse, porém, que a empresa tem frigoríficos parceiros certificados para exportação. A ideia é aumentar a produção de 1,5 milhão de aves por ciclo de 42 dias para 6 milhões, e para isso são necessários também R$ 50 milhões.
Ainda na avicultura, Nestor Freiberger, presidente da Agrosul e da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), apresentou um plano de negócios com prazo de cinco anos e necessidade de US$ 50 milhões em investimentos. O objetivo é dobrar a capacidade de abate atual da fábrica, que é de 80 mil frangos por dia. Sua companhia já exporta para a Arábia Saudita.
“Temos que ir ao encontro dos negócios, ao encontro dos investidores. Eles têm o capital e nós temos os recursos naturais”, destacou Freiberger. “Não é ficando em casa que a gente consegue as coisas”, observou.
Leonardo Einsfeld, diretor da AgrinvestBR, empresa que capta investimentos para empreendimentos do agronegócio brasileiro, apresentou oportunidades de aportes em fazendas de soja, café e gado, usina de açúcar e em frigoríficos. São negócios que precisam de injeção de capital, de um sócio ou de um comprador. “Houve uma receptividade bastante grande quanto à oferta de opções no Brasil”, ressaltou.
Ao presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, e ao diretor-geral da entidade, Michel Alaby, Kadi defendeu a realização de mais visitas de empresários brasileiros à Arábia Saudita e de homens de negócios sauditas ao Brasil como forma de manter vivo o interesse no comércio e nos investimentos bilaterais. Ele acrescentou que o Brasil é visto como prioridade para os investimentos no agronegócio e que pretende viajar ao País no final deste ano para conhecer projetos de perto.
Gigantes
Também nesta terça-feira, a delegação visitou a sede da Arabian Agriculture Services Company (Arasco), que atua no transporte marítimo, importação, processamento e comercialização de produtos agrícolas, sendo que 70% das matérias-primas que importa vêm da América do Sul, principalmente da Argentina.
Os executivos da Arasco que conversaram com os brasileiros conhecem bem o Brasil. “Fazemos muitos negócios com o Brasil e planejamos fazer mais”, disse o CEO da companhia, Abdulmalik Alhusseini.
O diretor de investimentos, Khaled Alrubaian, acrescentou que Arábia Saudita está entre os quatro maiores importadores de grãos do mundo. A empresa responde pela compra de três milhões de toneladas por ano, mas planeja aumentar sua capacidade para algo entre cinco milhões e seis milhões de toneladas até 2020.
Além de distribuir para terceiros, a Arasco, que tem sua própria frota de navios, usa parte dos itens que importa para fabricação de ração animal e de insumos para a indústria alimentícia, e ainda produz carne de frango e fertilizantes.
“Somos uma companhia privada e temos muitos parceiros. Já fomos muito ao Brasil e adoramos fazer negócios no País”, garantiu Alhusseini. “A resposta para a questão da segurança alimentar na Arábia Saudita não é a autossuficiência, mas o negócio da importação, da cadeia de fornecimento”, disse.
Uma das preocupações da empresa é com a infraestrutura portuária brasileira e a possibilidade de demora no embarque e desembarque de mercadorias dos navios em função de congestionamentos, e nesse sentido os executivos fizeram muitas perguntas ao diretor de Planejamento e Desenvolvimento do Porto de Itaqui, no Maranhão, Jailson Macedo Luz.
A companhia tem interesse também na exportação ao Brasil de produtos como fertilizantes. O País importa boa parte dos fertilizantes que utiliza. “Pode ser que a oportunidade esteja aqui ou nos dois países”, observou Alhusseini.
Os empresários foram recebidos ainda por executivos do grupo Savola, que atua nas áreas de agronegócio e no varejo. Saiba mais sobre este encontro em breve na ANBA.