São Paulo – A psicóloga Síria Maria Mohamed, filha de um libanês, lançou neste mês o seu primeiro livro. A obra se chama “Kiwi, o pintinho diferente” e orienta pais e filhos a como lidar com o preconceito e a discriminação nas primeiras inserções sociais das crianças. Síria tem 47 anos, é psicóloga clínica e da infância e atua há cerca de 20 anos na área. O livro fará parte de uma coleção que tratará também, em uma linguagem própria para adultos e para pequenos, do déficit de atenção e da infertilidade feminina.
No seu primeiro livro, Síria conta a história de Kiwi, um pintinho que nasceu verde. Quando a cor do bichinho é relatada nas páginas do livro, por exemplo, a autora escreve aos pais para ensinarem seus filhos a se gostarem como são. Quando Kiwi é alvo de gozação na escola, Síria diz aos adultos para ensinarem suas crianças a se defenderem. A descendente de árabe afirma que a obra partiu da sua própria experiência, já que ela tem disfunção cognitiva e sofreu na infância porque os pais não compreendiam o seu problema.
“Os meus pais achavam que era preguiça, limitação”, lembra a autora. A disfunção cognitiva faz com que a criança tenha dificuldade de absorver, elaborar os conteúdos e executar o que aprendeu. No caso de Síria, o que causou o problema foi a falta de oxigenação no cérebro na hora do parto. “Oriento os pais a cuidar do sentimento de humilhação do filho, entender a dor da criança e sustentar o universo sentimental dela”, descreve a psicóloga. Síria tem uma filha, Maria Augusta, de seis anos.
Em seu consultório, a psicóloga não trabalha diretamente com crianças, mas atende pais e mães. “Cuido da criança interna dos adultos”, diz. Síria é formada em Psicologia pelo Centro Universitário Celso Lisboa, do Rio de Janeiro. Apesar de ter sempre morado em São Paulo, ela se mudou para o Rio de Janeiro, logo após o falecimento do pai, em 1985, para cursar Psicologia. Atualmente, porém, ela trabalha em São Paulo. Síria conta que seu pai, Mohamed Zein El Abdine Sammour, apesar de muçulmano xiita, sempre fez questão de que ela estudasse. “Dava valor ao estudo da mulher” conta.
Filha e escritora
A filha de libanês, apesar de não falar árabe e não ter muitas lembranças da cultura árabe em sua infância, acredita que herdou do seu pai e do povo árabe a força. “O povo árabe tem uma capacidade de superação incrível”, afirma ela, que já foi três vezes ao Líbano, uma delas logo após uma guerra. O pai de Síria desembarcou do Líbano no Brasil lá pela década de 50 e trouxe com ele, no navio, segundo a psicóloga, apenas uma pedrinha na mão. Ele acreditava que a pedrinha, que ainda existe e está nas mãos de Síria, o ajudaria.
E tudo deu certo mesmo. Logo que chegou no Brasil, Sammour se estabeleceu no estado de Minas Gerais, onde trabalhou como mascate. Um tempo depois, se mudou para São Paulo, onde abriu um armarinho com os irmãos na rua 25 de Março, ponto tradicional do comércio árabe. Mais tarde saiu da sociedade e abriu uma malharia no bairro do Brás, em São Paulo, chamada de Malharia Gigante. Até o seu falecimento atuou com indústria e comércio de confecções no Brás. “Ele ia uma vez ao ano para o Líbano, era muito bem quisto pela colônia, trouxe muitos amigos do Líbano para morar no Brasil”, conta Síria.
No Brasil, Sammour se casou com uma mineira. Por isso, a língua árabe não era falada na casa de Síria. Mas a comida árabe a sua mãe, mesmo sendo brasileira, aprendeu a fazer. Sammour teve quatro filhos no Brasil. Além de Síria, teve mais uma filha, administradora de empresas, e dois filhos, médicos. Apesar do pai ser muçulmano, Síria se define como eclética e mais voltada para a linha espiritualista. “Mas tenho profundo respeito pela cultura muçulmana e também pelas mulheres muçulmanas”, fala.
Mais educação
A obra “Kiwi, o pintinho diferente” foi lançado neste mês na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Síria também pretende lançar um vídeo educativo para gestantes e mães de recém-nascidos. Nele será mostrada a importância dos três primeiros meses de vida da criança para o seu desenvolvimento futuro e dadas informações como o fato de que o bebê, em seus primeiros meses, não deve, por exemplo, frequentar lugares como shopping centers, deve mamar em silêncio e não ser exposto a barulhos, como o da televisão. A idéia é preparar novos pais.
O primeiro livro de Síria foi lançado pela Editora Vida & Consciência. O desenvolvimento da obra teve apoio da psicopedagoga Mônica Salomão, do médico homeopata José Carlos do Vale, direção de arte de Luiz Antonio Gasparetto e apoio, para a publicação, da diretora da Vida & Consciência, Silvana Gasparetto. O livro tem 64 páginas. Síria está preparando um lançamento para a obra também na cidade de São Paulo.
Serviço
Livro: Kiwi, o pintinho diferente
Autora: Síria Maria Mohamed
Editora: Vida & Consciência
Páginas: 64
Preço: R$ 23