São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, pediu apoio dos países árabes para a candidatura da capital paulista à sede da Expo 2020, exposição universal que ocorre a cada cinco anos em lugar diferente e que dura seis meses. O prefeito conversou com embaixadores de países árabes e representantes da Câmara de Comércio Árabe Brasileira nesta terça-feira (26), durante encontro na sede da Prefeitura. A reunião fez parte de agenda cumprida pelos diplomatas na capital paulista, que incluiu também encontros na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e com dirigentes do grupo de comunicação Bandeirantes.
Além de São Paulo, são candidatas à sede da Expo 2020 Izmir, na Turquia, Ayutthaya, na Tailândia, Ecaterimburgo, na Rússia, e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. “Temos muito respeito pelos Emirados, mas chegou a hora de trazer essa exposição para a América Latina”, falou Haddad, lembrando antes, em tom descontraído, que a cidade brasileira tem uma população árabe maior do que Dubai. O prefeito se colocou à disposição para mostrar aos embaixadores o projeto da exposição, que, segundo Haddad, é uma demonstração da cultura de paz e diversidade da cidade. “Sei que o árabe atende a argumentos racionais, mas sem paixão o árabe também não consegue se mover. Então aqui fica o pedido de um libanês apaixonado”, disse Haddad, que é de origem libanesa.
O embaixador da Palestina e decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil, Ibrahim Alzeben, afirmou que a decisão sobre o apoio não seria tomada ali na hora, mas encaminhada a cada país. “Pode estar seguro que isso será levado ao mais alto nível”, disse ele, sobre o pedido. Alzeben também fez, em nome dos embaixadores, seus pedidos ao prefeito, todos na direção da cooperação e da cultura. Ele convidou Haddad a visitar as cidades árabes e avaliar a possibilidade do estabelecimento do laço de cidade irmã entre algumas delas e a capital paulista. O decano sugeriu que São Paulo seja sede de vários eventos, como um grande encontro entre cidades latino-americanas e árabes e um fórum econômico entre o Brasil e a região, e que seja também uma capital cultural árabe no País.
O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Marcelo Sallum, que participou do encontro, falou de um projeto da entidade para o qual espera apoio da Prefeitura: a criação da Casa da Cultura Árabe em São Paulo, sobre a qual já houve conversas com a administração municipal anterior. Ele também contou ao novo prefeito da realização de um convênio, há cerca de dois anos, entre a Câmara Árabe e o Instituto do Mundo Árabe em Paris, iniciativa que pode, segundo ele, trazer troca de experiências e exposições relativas ao mundo árabe para o Brasil.
No encontro com os embaixadores, Haddad falou das suas origens e de como a presença árabe é importante para a cidade. “Temos uma das maiores comunidades árabes do mundo em São Paulo participando ativamente da vida comunitária, seja no comércio, na construção civil, na política, na medicina”, disse ele, afirmando ainda que os imigrantes árabes também trouxeram para São Paulo sua religiosidade, por meio dos cristãos maronitas e ortodoxos e dos muçulmanos. “Tenho muito orgulho da educação que recebi dos meus antepassados”, disse. O seu avô, Cury Habib Haddad, se tornou padre ortodoxo no Líbano após ficar viúvo e seus restos mortais foram enterrados na cripta da Catedral Ortodoxa na rua Vergueiro, em São Paulo.
Fiesp
Os embaixadores tiveram também reunião na Fiesp, onde pediram a realização de uma missão empresarial, encabeçada pela entidade, aos seus países. O decano Alzeben afirmou que essa seria uma iniciativa importante para a aproximação comercial entre São Paulo e os países árabes. “Para nos conhecer mutuamente precisamos intercambiar delegações especializadas”, disse o diplomata. Alzeben pediu investimentos da indústria paulista na região, ressaltando que os países que passaram pela Primavera Árabe e guerras precisam ser reconstruídos. “Queremos contar com vocês”, afirmou.
Alzeben lembrou, no entanto, da diversidade do mundo árabe. “Alguns países oferecem petróleo, outros mercado, outros terras para a segurança alimentar, e outros precisam de investimentos de vocês”, afirmou. O embaixador da Palestina lembrou que os árabes também querem investir no Brasil, mas encontram dificuldades burocráticas, como dupla tributação e falta de acordos de proteção aos investimentos. “Vocês precisam de investimentos e nós precisamos de segurança para os investimentos”, falou o decano.
Uma das conclusões do encontro foi a necessidade de criação de um comitê que trabalhe por essas questões, como o fim dos entraves burocráticos para investimentos. “Tenho certeza que juntos contribuiremos muito para a redução ou eliminação destes obstáculos”, disse Marcelo Sallum, referindo-se ao Conselho dos Embaixadores, Câmara Árabe Fiesp e Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), ali representados. O vice-presidente da Fiesp, Elias Haddad, que recebeu o grupo, afirmou que o encontro foi o primeiro de muitos que ele espera que se sigam.
Na Bandeirantes
Os embaixadores ainda foram recebidos pelo presidente do grupo Bandeirantes, João Saad, sua filha Daniela Saad, e o vice-presidente executivo do grupo, Paulo Saad. A família Saad, fundadora da empresa, é de origem libanesa. No encontro, os diplomatas fizeram um apelo para que os meios de comunicação brasileiros mudem a sua forma de mostrar o mundo árabe, com coberturas que nem sempre refletem a realidade dos países, e pediram ao grupo Bandeirantes que ocupe um papel importante nesse processo. “Temos a tarefa de esclarecer o que é o mundo árabe e aqui temos um canal bem expandido e de respeito”, disse o embaixador da Palestina, em nome dos colegas.
Os diplomatas fizeram uma série de sugestões a João Saad, como a criação de programas mensais sobre a região, envio de jornalistas ao mundo árabe para apresentar os países e a abertura de um escritório da Bandeirantes em algum país árabe. “Obtenham informações diretamente em nossos países”, pediu o embaixador da Argélia, Djamel Bennaoum. O presidente do grupo ficou de estudar a possibilidade de ter uma base em uma nação árabe e de encaminhar encontros futuros dos seus jornalistas com os embaixadores para ter um canal de comunicação mais direto. “Fico feliz de ver nossos embaixadores tão conscientes da importância vital da área de comunicação”, disse Saad.
Além de Alzeben e Bennaoum, participaram da agenda de atividades em São Paulo o embaixador do Sudão, Abd Elghani Elnaim Awad Elkarim, que também é vice-decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil, o embaixador do Kuwait, Yousef Abdulsamad, o embaixador de Omã, Khalid Salim Al Jaradi, o embaixador do Egito, Hossameldin Zaki, o embaixador da Liga dos Estados Árabes, Bachar Yaghi, o encarregado de Negócios da Embaixada do Marrocos, Abdeslam Maleh, o encarregado de Negócios da Embaixada da Jordânia, Hasan Saraireh, o encarregado de Negócios da Embaixada da Tunísia, Merhez Ferchichi, e o encarregado de Negócios da Embaixada da Mauritânia, Ahmed Mahmoud Ould Ethmane. Também participou o diretor-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby, entre outros representantes da entidade.