São Paulo – Um marroquino vai servir de personagem para o ensino da História da África em escolas brasileiras. O Ministério da Educação (MEC) distribuirá, ainda este ano, materiais didáticos no qual Ibn Battuta, um marroquino que viveu no século 14 e passou 30 anos da sua vida viajando, relata uma das suas andanças pelo continente africano. Os materiais serão um videodocumentário, chamado “Viajando pela África com Ibn Battuta”, um livro para professores, um caderno para os alunos e um site. Eles foram elaborados pelo historiador José Rivair Macedo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com recursos do MEC.
De acordo com informações do ministério, o vídeo, o livro e o caderno estarão disponíveis por meio do Portal do MEC e na TV Escola até junho. Os materiais serão impressos e o vídeo reproduzido para distribuição até o final do ano. A idéia é que sirvam de subsídio para ensinar sobre a África. “Reconstituir a viagem de Ibn Battuta ao Mali me pareceu uma proposta diferenciada de abordar a História, por um foco diverso daquele que estamos habituados, uma mudança na perspectiva de olhar para o Velho Mundo”, diz Macedo.
No vídeo, em meio a entrevistas, imagens e locução com informações históricas, Ibn Battuta narra parte de suas impressões da viagem que fez, entre os anos 1352 e 1353, por uma região do Deserto do Saara então conhecida como Império do Mali. No local estão hoje outros países, como Mauritânia e Nigéria, além do próprio Mali. Protegido do sultão do Marrocos, Ibn Battuta viajou com uma caravana em busca de ouro, sal e escravos durante dois meses. “O relato de Ibn Battuta é o único testemunho ocular sobre o período de esplendor do Império do Mali. Outros escritores árabes escreveram sobre os reinos africanos, mas não foram lá”, diz Macedo.
No site estarão trechos das memórias de viagens de Ibn Battuta, relatadas ao poeta Ibn Djuzzay, como informações sobre túmulos de comerciantes e poetas encontrados no caminho, caçadores de cobras e encontros com sudaneses. Em um trecho, ele fala sobre os gênios do deserto: “No deserto há muitos gênios malignos. Quando o guia da caravana está só eles aparecem e brincam com ele, atraindo sua atenção, desviando-o do seu rumo e levando-o à morte, pois não há caminho visível nem qualquer ponto de referência, apenas areia que se move a todo instante com o vento”, disse o viajante.
O autor do projeto didático é paranaense, foi criado em São Paulo, mas trabalha na UFRGS, em Porto Alegre, desde 1993. Na instituição, ele leciona História da Idade Média, com ênfase em pesquisas sobre a Península Ibérica. “Mas desde 2001 tenho me interessado por assuntos relacionados a cristãos e muçulmanos. Publiquei alguns artigos acadêmicos sobre esse assunto e, ao tomar contato com o relato de Ibn Battuta, me pareceu que teria oportunidade de explorar um texto tão fascinante e rico quanto o de Marco Polo, que é um ícone no Ocidente”, conta. Quem encaminhou o projeto foi a Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS.