São Paulo – A historiadora e arqueóloga brasileira Fernanda de Camargo-Moro é uma especialista em contar histórias e levar o leitor a viajar pelo tempo, revelando os segredos e o passado de lugares e povos. A pesquisadora, que já viveu na Índia, Iêmen, Palestina, Israel, Himalaia, Terra Santa, Egito e Itália, estuda há mais de 30 anos as rotas comerciais, os costumes, as lendas, as religiões e a gastronomia da Arábia e de diversas regiões do Mediterrâneo, Bálcãs, Oriente Médio, Norte da África e Ásia.
Ao longo dos anos, especializou-se nas rotas do Oriente e publicou sete livros sobre o tema. Em 2007 lançou As Caravanas da Lua. Para fazer o caminho do olíbano, ou incenso, percorreu 1.750 quilômetros da Rota dos Incensos, fazendo caminhos a pé, outros de ônibus, jeep e alguns trechos nas costas de um dromedário. "Viajei pelos principais pontos da rota além de Sana, a capital do Iêmen, e de Marib a região do Reino de Sabah, indo do Oceano Índico até Petra”, disse à ANBA por e-mail Fernanda de Camargo-Moro, uma "jovem" de 75 anos de idade.
“As resinas da Arábia do sul (antigo nome do Iêmen) são os diversos tipos de olíbano, que ali são da máxima qualidade, os melhores do mundo. A mirra que vendem ali também é magnífica. São ambos odores fantásticos. Ali também tem perfumes de origem animal como o âmbar da baleia que uso muito com as rosas na formação do meu Bukhur (perfume sólido)”, explicou.
De acordo com a pesquisadora, a busca da espiritualidade determinou roteiros em direção a Meca e Jerusalém, “não esquecendo da viagem noturna de Maomé entre as duas cidades. Os aromas são parte da tradição obrigatória”, afirmou.
Já Mar das Pérolas, seu novo livro, é dedicado aos Emirados Árabes Unidos. Banhada pelo Golfo Pérsico, a região guarda uma rica história geológica e está em constante mudança. Enriquecido pelo petróleo, o conjunto de pequenos estados que compõem o território reflete hoje uma imagem moderna de grande influência financeira no mundo ocidental e arquitetura arrojada. “Essa sociedade cosmopolita, de estilo de vida internacional, tem, no entanto, raízes profundas nas tradições pré-islâmicas e islâmicas da Arábia”, destaca a autora.
“Os Emiratos Árabes me fascinam faz muito tempo, e desde o tempo que começaram a evoluir como estados modernos achei que era preciso mostrar também suas belas raízes. Estive lá diversas vezes, em diversos lugares nas mais diferentes situações, além de ter estudado, pesquisado, e criado ligações amistosas com a população”, explica.
"Hoje a a principal característica dos Emirados Árabes é educação primorosa, cultura, proteção ambiental, e desenvolvimento comercial apurado, além de tecnologias bastante avançadas”, acrescentou.
Em abril de 2007, a pesquisadora partiu para rever o mar das pérolas, conhecer os lugares que haviam escapado de percursos anteriores entender melhor a transformação desse ambiente. Munida de estudos históricos, memórias de outras viagens, um bom guia de Dubai e a curiosidade instintiva de uma pesquisadora, a autora vasculhou as culturas do Golfo, sua tradição, história e mitos.
Ao voltar da viagem, a autora construiu estas memórias do mar das pérolas, um misto de investigação arqueológica, sociológica e antropológica. “O deserto se modifica e vai gerando novos encantamentos para os que o freqüentam”, observa.
A próxima viagem de Fernanda ainda não está marcada “mas será sempre ao contrário do caminho do sol, isto é, em direção do Oriente”, garantiu.
Trajetória
Fernanda de Camargo-Moro nasceu no Rio de Janeiro em outubro de 1933. Arqueóloga e historiadora, fez doutorado em Arqueologia e pós-doutorado em Arqueologia Ambiental, especializando-se nas rotas do Oriente. Foi professora titular da cadeira de Arqueologia da antiga Faculdade de Museologia do Museu Histórico Nacional e presidente da Fundação Estadual de Museus e do Conselho de Proteção do Patrimônio do Rio de Janeiro.
Consultora há muitos anos das Nações Unidas, da Unesco e da Cepal, foi também presidente do Comitê Internacional de Arqueologia e História do Conselho Internacional de Museus. Atualmente é diretora científica da Rede Internacional de Arqueologia & Meio Ambiente, conselheira científica do Projeto Himalaias e diretora-geral do Projeto Rotas, no qual divide seu tempo com uma pesquisa aprofundada sobre a Rota das Caravanas e suas ligações com a Rota da Seda, em busca do caminho das religiões.
Além de diversos ensaios e livros sobre sua pesquisa científica, também é autora de Arqueologias culinárias da Índia, Nos passos da Sagrada Família, Veneza: o encontro do Oriente com o Ocidente, Arqueologia de Madalena e A ponte das turquesas, todos publicados pela editora Record.