Barueri – Perto de completar 63 anos, o egípcio Karim Rashid (foto acima), um dos designers industriais mais importantes da sua geração, foi destaque na World Plastic Connection Summit de 2023, que ocorreu em Barueri, no estado de São Paulo. O artista foi o último convidado a palestrar no evento nesta terça-feira (22). Ele relembrou momentos importantes da sua carreira e falou sobre a importância de usar plástico na criação das suas peças.
“Já fiz muitos produtos com plástico, de pequena a grande escala. Já trabalhei com embalagens e design industrial, passei por design de mobiliário, papéis de parede, pisos e arquitetura. Em todo esse tempo, o mais importante para mim sempre foi saber qual era o material certo para usar nas minhas peças, que tivesse mais longevidade. Eu sempre pensava: o que posso fazer para que o produto dure mais?”, questionou Karim.
O egípcio contou que a preocupação com meio ambiente e reutilização de materiais é algo que o acompanha desde a infância. Nascido no Cairo, ele fez faculdade e viveu por muitos anos no Canadá, um país muito rigoroso em relação à reciclagem.
“Eu fui criado para ser alguém muito preocupado com o meio ambiente. Durante minha graduação projetei produtos e pensava sobre todo o ciclo de vida deles, do começo ao fim. Esse cuidado acabou fazendo parte da minha vida, do que sou, da minha natureza”, conta Karim.
Apesar da importância do tema, de acordo com Karim, a reciclagem deixou de ser um algo interessante por alguns anos, principalmente nos Estados Unidos, país onde vive atualmente. “Ninguém mais falou sobre isso por um tempo, mas agora vemos a temática sendo discutida por todos os lados, a educação ecológica voltou a fazer parte das conversas.”
Além de servirem como materiais nas criações, os itens reciclados são utilizados na hora que o artista se inspira para criar. “Quando você se senta e começa a projetar, antes de mais nada é preciso pensar no que é responsável fazer naquele projeto. Dentro desse pensamento de responsabilidade e cuidado com o meio ambiente, você precisa pensar em quais materiais você vai escolher, qual método de produção vai usar, etc.”
Karim conta que seu estilo atual de trabalho, além de ter sido influenciado pelo ambiente onde foi criado, também foi influenciado pelo pai, que era pintor. “Fui criado em uma época que o plástico no design estava em seu ponto alto. Meu pai era um artista e não ganhava muito, por isso éramos uma família pobre. Mesmo sem condições financeiras boas, a gente sempre tinha produtos lindos e democráticos, pelos quais eu era obcecado”, relembra.
“Por causa do meu pai sempre achei que bom design não era algo só para elite ou ricos, mas sim para todos. Percebi com o passar do tempo que a maneira de fazer produtos democráticos era usando plásticos como matéria-prima. Essa forma realmente era o único caminho.”
Conquistas da carreira
Durante a palestra, Karim também relembrou as principais conquistas profissionais que teve ao longo dos 40 anos de carreira. Na década de 1990 se dedicou à área de cosméticos. Diferentemente do que era feito na época, o egípcio criava produtos que tivessem mais de uma função, chegando a fazer uma garrafa cuja tampa dava para ser usada como copo.
“Gosto de criar produtos feitos de polímero, porque quando mexo com esse material é possível brincar com ele. Há 20 anos, junto com a Coca-Cola, fiz uma garrafa diferente. Quando o lacre da tampa era quebrado, soltava um cheiro de limão. A ideia era que o consumidor sentisse o cheiro da fruta antes de beber o refrigerante.”
Outro item que o egípcio destacou durante a palestra foi uma cadeira produzida em 1997, que é vendida até hoje. Para utilizar menos plástico, ele resolveu fazer diversos buracos na criação. “Como sabemos, o que usa menos plástico, produz menos emissões de carbono na atmosfera e ainda gasta menos energia. Por isso, tive a ideia de fazer buracos na cadeira”, contou Karim.
No final, além de fazer um produto com utilidade, o designer conseguiu fazer uma cadeira flexível que fazia com que o sangue do consumidor continuasse num bom ritmo de circulação, mesmo quando estava sentado.
Avaliando sua trajetória, Karim disse se considerar um bom designer, porque além de fazer produtos funcionais, também cria itens que geram uma conexão com consumidores. Assim como aconteceu durante sua infância, quando se conectou com os objetos de sua casa, atualmente o artista proporciona a mesma experiência para outras pessoas.
Em quatro décadas, o artista, que conta com mais de quatro mil projetos em produção e mais de 300 prêmios, faz produtos duráveis, bonitos, originais, que oferecem soluções reais e utilizam poucas matérias-primas.
Karim já atuou em mais de 40 países e está à disposição para fazer parceria com empresas brasileiras. “O Brasil é uma economia poderosa, cheia de tecnologia de produção e de gente talentosa e educada. Apesar disso, as marcas brasileiras ainda não são muito conhecidas no mundo, por isso elas precisam melhorar suas abordagens.”
Os debates da World Plastic Connection Summit de 2023 ocorreram nesta segunda-feira (21) e terça-feira. A programação segue com outras atividades como rodadas de negócios. O evento é uma iniciativa do programa Think Plastic Brazil, do Instituto Nacional do Plástico (INP) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). A Câmara de Comércio Árabe Brasileira foi uma das apoiadoras do evento.
Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA