Cláudia Abreu
São Paulo – A chegada dos mouros na Espanha, no século oito, abriu espaço para a música árabe no país europeu. Lá, o som encontrou um cenário propício para se desenvolver. Cresceu, recebeu a influência espanhola e depois retornou às suas origens, dessa vez ainda mais forte. E é essa música, árabe-andaluza, que Sami Bordokan, um brasileiro filho de libaneses, e seu grupo, o Conjunto de Música Árabe, apresenta no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. O show Bahabac ia Lubnan, Amo-te meu Líbano acontece na quinta (9) e na sexta-feira (11).
Os estilos musicais que Bordokan apresentará ainda são poucos conhecidos no Ocidente, segundo o produtor Ali El-Khatib. Trata-se da longha e do basharaf. Dentro desses dois estilos, os músicos executam, além do tipo clássica árabe-andaluza, um repertório variado. "Vamos mostrar também canções de dabki, uma dança circular que remonta os antigos mutirões de construção de casas de barro, e al ahat, que são improvisos musicais, entre outros", explica. As composições são de Bordokan, como Ai de Mim, mas também de outros autores, ainda pouco conhecidos do público.
A poesia também integra o repertório do conjunto. Bordokan apresenta ao público o muachah, um estilo típico andaluz de poesia cantada, criado no século oito pelos árabes, com rima e métricas poéticas um pouco mais livres que as formas que a antecederam (qasida) e se destaca pela habilidade do poeta na escolha das palavras. "É semelhante à lapidação de um diamante", conta El-Khatib. O tema é o amor, quase sempre protagonizado por uma vítima apaixonada.
Outra surpresa do show fica por conta dos instrumentos árabes que serão usados na execução das músicas. Além do alaúde de Sami Bordokan e do derbaki (espécie de tambor) de William Bordokan, o grupo conta com a experiência de Cláudio Kairouz e seu kanun (peça que deu origem ao cravo). Ele é um dos únicos músicos do Brasil que toca o instrumento. Segundo El-Khatib, o kanun foi criado por um filósofo, matemático e músico árabe, Al-Farabi, que queria criar uma peça que, quando tocada, lembrasse o som do movimento de corpos celestes. O resultado foi o kanun. "O instrumento é um dos mais tradicionais na formação de qualquer conjunto musical árabe e do Oriente Médio até os dias de hoje, tem um som único", explica El-Khatib.
Mais espetáculos
Depois da curta temporada no Sesc Vila Mariana, o conjunto também se apresentará no interior de São Paulo, no Sesc Rio Preto. O concerto será no dia 25, o repertório será o mesmo apresentado na capital. O show faz parte de um especial de Cultura Árabe que acontece na cidade. Além de música, culinária, espetáculos de dança também integram a programação.
Bordokan e o conjunto
Sami Bordokan é filho libaneses nascido em São Paulo. Tocou alaúde pela primeira vez aos seis anos, foi influenciado pelo pai, um alaudista e cantor amador. Ainda adolescente viajou ao Líbano e decidiu ficar por lá para aperfeiçoar seus estudos de alaúde e de canto oriental. Foi lá que ele pesquisou sobre os vários estilos árabes e as influências da Andaluzia.
De volta ao Brasil, após a temporada no mundo árabe, Bordokan montou um grupo musical composto por quatro integrantes: ele, Kairouz, que também estudou no Líbano e William, percursionista. Em 2005, o grupo gravou um CD chamado A Corda da Alma, que traz algumas músicas árabes clássicas dos séculos 10, 12, 18 e 19, além de composições do próprio Bordokan.
Serviço:
Conjunto de Música Árabe
Quando: 9 e 10 de novembro
Hora: 8h30 da noite
Ingresso: 6 reais (normal), 4 reais (usuário inscrito) e 3 reais (trabalhador no comércio e serviços matriculado, estudante com carteirinha, idoso e aposentado)
Site: www.sescsp.org.br