Isaura Daniel
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São Paulo – Em um parque da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, um obelisco foi construído há cerca de três anos para lembrar o acordo de paz que deu fim à Revolução Farroupilha, guerra que os gaúchos fizeram no século 19 contra o governo imperial do Brasil. A homenagem foi a um fato ocorrido em terras brasileiras, mas o monumento tem praticamente as mesmas formas dos primeiros obeliscos que foram construídos no mundo: cerca de 2.500 anos a.C., no Egito. "Eles eram uma homenagem ao deus sol, Ra", diz a historiadora Marcia Raquel de Brito Saraiva, professora e pesquisadora gaúcha que estuda o tema há cerca de cinco anos.
Marcia concluiu no primeiro semestre a tese de mestrado "Penduricalhos da Memória: usos e abusos dos obeliscos no Brasil – séculos 19, 20 e 21", que faz um levantamento dos obeliscos que existem no Brasil e fala das suas origens. Os obeliscos são monumentos de formato retangular com uma ponta triangular, em forma de pirâmide, criados originalmente no Egito. De acordo com as conclusões de Marcia, o formato ainda é o mesmo, ou pelo menos semelhante, ao do Egito Antigo, mas o seu significado foi se modificando ao longo do tempo. A pesquisadora detectou a presença de 190 obeliscos no Brasil.
No entanto, as mesmas obras que no Egito Antigo eram usadas para celebrar um deus, hoje são utilizadas para homenagear personalidades, fatos heróicos, revoluções locais, prefeitos, emancipações de municípios e até lembrar naufrágios. A tese de Marcia teve como objetivo resgatar a história destes obeliscos brasileiros. A gaúcha acabou descobrindo que em muitos casos, os registros da origem destes monumentos se perderam. Por isso não é possível saber com exatidão se todas as pessoas que tiveram a iniciativa de construir um obelisco conhecem as suas raízes egípcias e o significado que tinha na época dos faraós.
No Egito Antigo, segundo Marcia, eles eram muito usados na entrada de templos. "Eram construídos dois, um voltado para o sol nascente e outro para o sol poente", afirma a pesquisadora. O formato dele é um raio de sol, já que originalmente era uma homenagem ao deus sol. No início, porém, era chamado pelos egípcios de Teken. Foram os gregos que colocaram neste tipo de monumento o nome de obelisco, segundo Marcia. Hoje, lembra a pesquisadora, muitos obeliscos do Egito Antigo estão expostos em outros países, como Itália, Inglaterra e França. Foram levados do seu país de origem para serem expostos.
A pesquisadora
Marcia começou a pesquisar o tema dos obeliscos em 2002, quando ainda era estudante de História na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS), em Porto Alegre. O trabalho, que faz parte de uma pesquisa maior sobre egiptomania no Brasil, foi feito por meio de duas bolsas que a estudante recebeu do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O tema do trabalho de conclusão do bacharelado de Marcia também foi os obeliscos. E ela pretende continuar a pesquisando sobre o tema em um futuro doutorado.
A tese de Mestrado também foi feita na PUC-RS. Marcia mora em Charqueadas, cidade próxima à capital gaúcha, onde dá aulas de História para os ensinos fundamental e médio na Escola Técnica Dimensão. A intenção da profissional é continuar exercendo o magistério e também a pesquisa. Marcia afirma que o motivo que a levou a pesquisar os obeliscos foi a sua paixão pelo Egito Antigo. "Quando eu comecei, eu não sabia muito bem o que eram os obeliscos, mas sabia sobre o Egito Antigo", afirma.
Contato
Marcia Raquel de Brito Saraiva
E-mail: saraivaraquel@terra.com.br