São Paulo – Morreu na noite desta quarta-feira (05), no Rio de Janeiro, aos 104 anos, o arquiteto Oscar Niemeyer. Ele estava internado havia mais de um mês, inicialmente por causa de uma desidratação, mas posteriormente teve problemas nos rins e respiratórios, agravados nos últimos dois dias. Niemeyer, que completaria 105 anos no dia 15, deixa como legado marcos arquitetônicos ao redor do mundo.
O estilo de suas obras sempre se destacou pelas curvas. É o que ocorre, por exemplo, no Museu de Arte Moderna de Niterói, na Oca do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e nos palácios do Planalto e da Alvorada, em Brasília. Niemeyer deixou sua marca também em Paris, Nova York, Turim e no mundo árabe. Na Argélia, alguns projetos dele saíram do papel e se tornaram realidade. Já nos Emirados Árabes Unidos o desenho de prédios ainda é apenas rascunho.
Niemeyer projetou em 1938-1939 o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York ao lado de Lúcio Costa. Dali surgiria, quase 20 anos depois, uma parceria que iria resultar na criação da nova capital do Brasil: Brasília. Enquanto Lúcio Costa pensou no Plano Piloto, Niemeyer se responsabilizou pela Praça dos Três Poderes, pelo Palácio do Planalto, pelo Palácio da Alvorada, pelo Itamaraty, pelo Supremo Tribunal Federal. Todos são criações do arquiteto.
Antes de ser chamado pelo então presidente Juscelino Kubitschek para projetar os prédios da nova cidade, o arquiteto deixou sua marca em outras cidades brasileiras. Foi no Rio de Janeiro, em 1936, que o trabalho de Niemeyer ficou conhecido. Isso ocorreu depois que um grupo de jovens arquitetos colaborou com Le Corbusier no projeto do Edifício Gustavo Capanema, que seria a sede do Ministério da Educação. Foi de Niemeyer a sugestão de aumentar as colunas principais do prédio de quatro para dez metros de altura, que não constava dos originais do mestre suíço. A partir daí Niemeyer recebeu encomendas de todo o mundo.
Em Nova York o brasileiro integrou o time de profissionais que criou a sede das Nações Unidas. Ao lado de Le Corbusier, Niemeyer projetou os prédios onde ficam os escritórios do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral. Não sem, contudo, muitas discussões sobre o desenho final que esses prédios deveriam ter.
Em Paris Niemeyer projetou a sede do Partido Comunista Francês, sistema político que nunca abandonou. Ao contrário, foi amigo de líderes como o cubano Fidel Castro.
Os escritórios da montadora Renault na capital francesa também foram projetados por Niemeyer. Os traços do arquiteto, que nasceu em 1907, em Niterói, também ganharam formas em Milão e Turim, na Itália, até chegar à Argélia. Em 1968 o arquiteto viajou ao país convidado pelo então presidente Houari Boumediene. Lá, projetou cinco prédios da Universidade de Constantine. Em Argel, ele projetou os jardins do zoológico.
Outros projetos encomendados ao arquiteto que não saíram do papel são o Centro Cívico de Argel e a Mesquita de Argel. Foi o que ocorreu também com a Ilha de Lazer em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Projetada em 1981, essa ilha seria um grande parque temático com uma ala dedicada a recriar algumas das histórias do “Livro das mil e uma noites”. Em outra parte ficaria um zoológico. Ela teria também um terceiro setor com hotéis, lojas, restaurantes e um centro de convenções.
O arquiteto projetou também a Feira Internacional e Permanente do Líbano, que foi construída, mas não entrou em funcionamento.
Niemeyer recebeu em 1988 o Pritzker, o prêmio mais importante da arquitetura. A fundação que concede a homenagem reconheceu que Niemeyer concebe uma “escultura lírica, que expande os princípios da inovação de Le Corbusier para se tornar um tipo de livre forma da escultura”.
Os traços de Niemeyer não ficaram restritos a prédios. Entre 1955 e 1965, editou a revista técnica Módulo, que parou de circular por causa da ditadura militar e que foi retomada entre 1975 e 1987, para então sair de circulação. Niemeyer também já assinou móveis, estampas de calçados, escreveu um romance e até poemas.
O arquiteto se casou duas vezes. Do primeiro casamento, com Anita Baldo, teve sua única filha, Ana Maria. Anita morreu em 2004, após 76 anos de casamento. A filha, Ana Maria, morreu em junho deste ano, aos 82 anos. Em 2006, Niemeyer se casou de novo, com Vera Lúcia Cabreira, sua secretária, que hoje tem 65 anos. O arquiteto deixa quatro netos, todos filhos de Ana Maria.
A presidente Dilma Rousseff divulgou uma nota de pesar. “A sua história não cabe nas pranchetas. Niemeyer foi um revolucionário, o mentor de uma nova arquitetura, bonita, lógica e, como ele mesmo definia, inventiva”, disse. “O Brasil perdeu hoje um dos seus gênios. É dia de chorar sua morte. É dia de saudar sua vida”, acrescentou.
A presidente ofereceu o Palácio do Planalto para o velório, o que foi aceito pela família. O corpo será velado nesta quinta-feira, em Brasília, e sepultado no Rio de Janeiro na sexta.
*Colaborou Alexandre Rocha