Isaura Daniel
São Paulo – Parte dos abacaxis plantados na Paraíba chegaram murchos e manchados à época da colheita em 2002. O responsável foi um fungo de nome Fusarium subglutinams. No ano passado, os agricultores que semearam uma nova variedade da fruta, chamada Imperial, não tiveram problemas com a doença.
Assim como os plantadores de abacaxis, os produtores brasileiros de soja, milho, mandioca, feijão e de outras dezenas de alimentos são beneficiados anualmente pela pesquisa agrícola feita no país. Quem desenvolveu o abacaxi Imperial, resistente à fusariose, foi a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), a mesma que criou variedades de uvas sem sementes, algodões que germinam coloridos, girassóis próprios para ornamentação, cebolas doces.
A Embrapa, empresa do governo federal que trabalha com pesquisa agrícola, que completou 31 anos este ano, é uma forte aliada dos agricultores e pecuaristas brasileiros quando o assunto é redução de custos e aumento de produtividade. Só no ano passado foram economizados R$ 11,6 billhões com o uso de variedades que diminuíram a necessidade de fungicidas e inseticidas, métodos que aumentaram o rendimento das lavouras e melhoria da qualidade dos produtos. O retorno para cada R$ 1 investido em pesquisa agropecuária foi de R$ 14.
O investimento em novas tecnologias é, na verdade, umas das responsáveis pelo impulso do agronegócio no país. O Brasil saiu de uma produção de 58 milhões de toneladas de grãos na metade da década de 1980 para 123 milhões de toneladas no ano passado. Uma das provas de que a pesquisa teve papel fundamental no processo é o fato de que a produção cresceu além do aumento de área plantada. Enquanto o número de hectares cultivados evoluiu 10%, o volume de grãos colhidos aumentou 111% no período.
Mais emprego no campo
O bom desempenho também se refletiu no número de empregos gerados. Foram abertos 185 mil novos postos de trabalho no campo em 2003, 51 mil no setor de hortaliças e 42,5 mil na sojicultura. "Houve uma expansão da área plantada de soja e também foram desenvolvidas variedades próprias para novas regiões produtoras", explica o diretor-presidente da Embrapa, Clayton Campanhola.
Na safra 2003/2004 foram plantados 21,1 milhões de hectares, área 14,3% maior que na colheita anterior. A produtividade média das lavouras de soja brasileiras é a maior do mundo, com 3.100 kg/hectare.
O desenvolvimento de variedades de maior rendimento, na verdade, está intimamente ligado ao aumento de produtividade no campo. Só na área de soja foram criadas sete novas variedades pela Embrapa em 2003. A maioria delas para áreas onde então outras sementes de soja não se adaptavam plenamente. A empresa desenvolveu um total de 44 cultivares em conjunto com universidades e outras instituições de pesquisa.
Somada ao aumento de oferta de produtos agrícolas, a evolução da produtividade acabou resultando na queda do preço dos alimentos no país. Entre os anos de 1975 e 2000, o valor dos itens que compõem a cesta básica caiu 5,25%. No caso do arroz, por exemplo, o rendimento por hectare saiu de 2.362 quilos no início da década de 1990 para 3.559 quilos neste ano.
O trabalho de pesquisa agropecuária da Embrapa, a maior do mundo na área, é sustentado por uma equipe altamente qualificada, com 1.257 pesquisadores com doutorado, 905 com mestrado e 50 com graduação. O trabalho é oferecido aos agricultores e pecuaristas de forma gratuita. A conta acaba saindo barata se forem levados em conta os benefícios. O governo federal vai gastar R$ 223 milhões com a Embrapa este ano. As prioridades da empresa em 2004, de acordo com Campanhola, são as pesquisas com biocombustíveis e produção florestal.