Alexandre Rocha, enviado especial
Argel – O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, recebeu ontem pela manhã (22) os ministros brasileiros Luiz Fernando Furlan, de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e Silas Rondeau, de Minas e Energia. Foi o último compromisso dos dois na missão comercial que lideraram a Argel, capital da Argélia. Durante a reunião, Bouteflika falou de uma série de investimentos em infra-estrutura e em parcerias.
De acordo com Furlan, o presidente disse ter interesse em parcerias na área de mineração com o Brasil, desde a extração dos minerais até a constituição de um projeto conjunto de siderurgia. "Eles querem desenvolver em conjunto um projeto siderúrgico, mas depois da parte de extração mineral", disse o ministro.
Rondeau acrescentou que representantes da sua pasta e do ministério das Minas e Energia da Argélia vão se encontrar no Brasil em janeiro para um workshop sobre mineração. "Eles querem o apoio do governo brasileiro na área de prospecção", afirmou.
Os argelinos querem também aprender mais sobre o beneficiamento de pedras semipreciosas, ofício que é bastante difundido no Brasil. Em janeiro também, durante o workshop, serão dadas informações sobre o trabalho dos artesãos.
Estrada de US$ 7 bilhões
"Ele (Bouteflika) falou também sobre várias licitações que vão ocorrer, como para a construção de uma estrada de leste ao oeste de mais de mil quilômetros", disse Furlan. O projeto citado pelo ministro é de uma rodovia de 1,2 mil quilômetros que vai atravessar o país, pelo litoral, ligando a fronteira com a Tunísia com a fronteira com o Marrocos.
Três empreiteiras brasileiras, a Andrade Gutierrez, a Queiroz Galvão e a Camargo Corrêa, estudam formar um consórcio para participar da licitação do empreendimento, avaliado em US$ 7 bilhões. A concorrência será destinada às maiores construtoras do mundo, já que o governo argelino exige que as participantes tenham um faturamento anual de US$ 2,5 bilhões. Só para se ter uma idéia, a Andrade Gutierrez tem um faturamento em torno de US$ 1 bilhão. Daí a necessidade do consórcio.
O prazo para apresentação das propostas se encerra no dia 20 de janeiro, quando os envelopes serão abertos. As empresas brasileiras vão tomar a decisão de participar ou não nos próximos dias.
De acordo com o presidente da Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex), Juan Quirós, que também participou da reunião, o governo argelino pediu ainda informações sobre produtos que o país tem interesse em importar, como equipamentos médicos e hospitalares, equipamentos agrícolas, softwares bancários, softwares para o gerenciamento de transmissão de energia e alimentos.
Nos próximos dias, Quirós ainda vai para a Tunísia, acompanhar a reunião do Conselho Empresarial Brasil –Tunísia, que terá a participação da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, e depois para o Marrocos.
Na reunião com Bouteflika, Furlan entregou uma carta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com o ministro, o presidente argelino disse já gostava do Brasil, mas agora, com Lula, gosta mais ainda.
Petrobras e Sonatrach
Os encontros que o ministro das Minas e Energia teve durante a missão com o seu colega de pasta, Chakib Khelil, e com o presidente da Sonatrach, Mohamed Meziani, resultaram em propostas concretas de cooperação entre a estatal argelina e a Petrobras. Conforme a ANBA revelou ontem (22), uma delegação argelina irá ao Brasil em janeiro para discutir as propostas.
A primeira proposta, segundo Rondeau, é fazer um swap, ou seja, a troca de áreas produtivas para a extração de petróleo, com a Petrobras atuando na Argélia e a Sonatrach no Brasil. "Eles mostraram um interesse muito grande nessa proposta", declarou Rondeau. Com isto, a Petrobras, que importa 80 mil barris por dia da Argélia, poderia obter o produto a preço de custo, enquanto que a Sonatrach avançaria em sua estratégia de internacionalização, incluindo mais um país em sua carteira de operações.
Outra proposta diz respeito a um projeto conjunto, idealizado há 20 anos, de construção de uma planta de liquefação de gás natural em Santos, mas que até hoje não saiu do papel. "Agora eles querem fazer um esforço para as duas empresas trabalharem juntas, da produção à comercialização", disse o ministro.
A Argélia é uma das maiores produtoras mundiais de gás natural e domina a tecnologia de liquefação. Ao todo, o país exporta 160 milhões de metros cúbicos de gás por dia, sendo que o consumo no Brasil gira em torno de 40 milhões de metros cúbicos.
O projeto, no entanto, seria feito de forma diferente. "A Petrobras participaria de toda a cadeia do GNL na Argélia", disse Rondeau. A idéia agora é aproveitar um gasoduto que a Sonatrach terá até Dacar, no Senegal, e lá erguer a planta de liquefação. No Brasil seria construída uma outra usina para gaseificação do produto, que, segundo o ministro, poderia ser instalada em Santos ou em alguma cidade do Nordeste, como Recife.
Na avaliação de Rondeau, tal parceria poderia até ajudar a "acelerar" a auto-suficiência do Brasil em gás natural, na medida em que deverá estimular o consumo. O Brasil tem enormes reservas provadas de gás, principalmente na Bacia de Santos, que ainda não foram exploradas.
A cooperação poderá se estender também para a área petroquímica. De acordo com Rondeau, os argelinos que virão ao Brasil em janeiro devem visitar também a petroquímica Braskem, em Camaçari, na Bahia. Há, segundo ele, interesse também em fazer swap entre naftas e produtos petroquímicos. A idéia é trazer naftas para industrialização no Brasil e devolvê-las na forma de mercadorias acabadas.
Eletricidade
Durante a missão, que contou com a participação de representantes de 50 empresas e entidades setoriais brasileiras, as autoridades argelinas deixaram claro que o país precisa de grandes investimentos em infra-estrutura e está atrás de parcerias. E há dinheiro para alavancar os negócios. O aumento dos preços do petróleo engordou os cofres públicos e o governo pretende investir US$ 60 bilhões em diversos projetos no prazo de cinco anos.
Segundo Rondeau, os argelinos estão interessados também na transferência de tecnologia relacionada à transmissão de energia elétrica. "Eles não têm como escoar a eletricidade adequadamente, então estão interessados na tecnologia brasileira de gestão e otimização do sistema", disse. Isso inclui os programas de computador utilizados no processo, que foram desenvolvidos no Brasil.