Isaura Daniel
São Paulo – Antes da era Cristã, nos aposentos da realeza árabe, eram os vestidos femininos que ocupavam os principais lugares. Isso porque as mulheres também se sentavam no trono. E não por uma gentileza dos homens. Eram elas mesmas que mandavam. Na verdade, as mulheres lideravam a sociedade árabe no período que antecede o nascimento de Jesus Cristo. A conclusão é do escritor Alberto Mussa, formado em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj), autor de livros que tratam do mundo árabe.
De acordo com Mussa, informações que levam a essa formulação estão em textos sobre os árabes do período pré-cristão. Segundo ele, o que há de referências escritas sobre essa época cita soberanas e rainhas como lideranças da região. "Em textos não árabes, de fontes não árabes", ressalva. Um dos livros que menciona as autoridades femininas da região, segundo Mussa, é History of Arabs (História dos Árabes), do historiador Philip Hitti.
A primeira rainha a qual Hitti se refere é Zabibi. A obra conta que ela foi forçada pelo imperador assírio Tiglat Pileser III a pagar tributos. A época: 742 antes de Cristo (a.C). Outra rainha, Samsi, também é mencionada como forçada a pagar tributos para Tiglat em 736 a.C. O livro fala também de Téelkhunu, rainha dos árabes capturada pelo rei assírio Senaqueribe em 688 a.C. Há ainda, segundo Mussa, a famosa Zenóbia, que chegou a derrotar exércitos romanos, mas foi capturada. Isso, no entanto, ocorreu já na Era Cristã, no ano 270.
Não há, na verdade, muitas referências à história dos árabes no período pré-cristão. "Mas quando há referências a esse período se fala em rainhas", explica Mussa. Em textos que relatam os anos que antecedem o nascimento de Jesus Cristo, segundo o autor, isso começa a mudar. "Passa a haver referências a reis", diz o escritor.
Atualmente, assim como a maioria dos países do mundo, as nações árabes são lideradas por homens. Apesar disso, porém, várias mulheres estão em postos de comando. A ministra da economia dos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, é uma mulher: Lubna Al Qasimi. Na Argélia, país árabe que fica no Norte da África, a ministra da Cultura é Khalida Toumi. Segundo matéria publicada na ANBA, as mulheres dos Emirados Árabes têm sob sua gestão US$ 3,3 bilhões.
Mussa
O escritor Alberto Mussa é autor de Enigma de Qaf, livro que narra a história de um poeta beduíno árabe que vaga pelo deserto entre batalhas e a busca de sua amada. A história é ficção, mas está baseada na vida dos poetas beduínos árabes que habitavam a Península Arábica por volta do século seis, sobre os quais o autor traz informações no livro.
Mussa é autor também de Os Poemas Suspensos, tradução de poemas feitos por estes árabes beduínos. Recentemente o carioca, descendente de libaneses, publicou um novo livro, Movimento Pendular, que relata triângulos amorosos ocorridos em diversos momentos da história.