Da redação
São Paulo – O Brasil pode colher neste ano cerca de 6,5 milhões de toneladas de trigo. A estimativa é da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno, do Ministério da Agricultura, que se reuniu hoje (23) em Brasília para avaliar as perspectivas da safra 2004. Segundo o presidente da câmara, Rui Polidoro Pinto, a área plantada e a produção de trigo podem aumentar cerca de 10% neste ano em comparação com 2003, quando o país plantou 2,46 milhões de hectares e colheu 5,85 milhões de toneladas – em 2002, haviam sido colhidos apenas 2,9 milhões de toneladas de trigo.
A perspectiva de aumento da produção, explica Polidoro, deve-se à quebra da safra de verão, prejudicada pela ferrugem asiática e pela seca no Sul do país. “Há uma tendência de crescimento da área do trigo como forma de compensar as perdas com a soja”, disse, segundo nota divulgada pelo Ministério. A estiagem também deve reduzir a segunda safra de milho, o que estimula o plantio de trigo.
Para cumprir a previsão de expansão, entretanto, o setor reivindica a antecipação da liberação dos recursos de custeio. Polidoro estima que seriam necessários R$ 600 milhões para cobrir os gastos com as lavouras em todo o país. Segundo ele, a medida é importante para influenciar a decisão de plantio dos produtores do Paraná e do Rio Grande do Sul, principais produtores brasileiros. Em ambos estados, a demanda para o custeio da safra chega a R$ 250 milhões. No Centro-Oeste e no oeste da Bahia, onde o trigo irrigado tem se expandido, seriam necessários R$ 100 milhões.
Durante a reunião, a câmara setorial também debateu a mudança do sistema de classificação do trigo. Segundo o secretário-executivo da câmara, José Maria dos Anjos, o setor tem reivindicado a alteração das normas de classificação do produto, que estariam desatualizadas em relação à realidade de triticultura brasileira.
Primeira exportação
No ano passado, o Brasil exportou trigo pela primeira vez, e o principal destino foi o Egito. Conforme a ANBA informou no final de janeiro, pelo menos 20% de um carregamento de 55 mil toneladas que deixou o porto de Rio Grande no final de novembro tiveram o país do norte da África como destino, segundo disse o diretor de commodities da Rural Trading, empresa do Banco Rural que está negociando o trigo produzido por 30 cooperativas gaúchas no mercado internacional.
A exportação foi resultado de uma supersafra de 5,2 milhões de toneladas. Segundo o Ministério, várias medidas do governo ajudaram os produtores. Entre elas, está a inclusão do trigo irrigado e de sequeiro do Mato Grosso no zoneamento agrícola. Estima-se um potencial imediato de 12 mil hectares para a cultura no estado.
O governo também destinou R$ 200 milhões para as operações de EGFs e Cédulas do Produto Rural (CPRs). Anunciou ainda R$ 50 milhões para o pré-custeio do trigo, com juros de 8,75% ao ano, para financiar a compra de sementes e fertilizantes pelos produtores de Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.