Isaura Daniel
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São Paulo – Pirâmides, esfinges e faraós. Esses e outros elementos do Egito Antigo fazem parte das charges e caricaturas publicadas na imprensa brasileira. É o que aponta a pesquisa da estudante de História da Pontificia Universidade do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Karine Lima. A gaúcha começou há cerca de dois anos uma pesquisa sobre o tema, que será seu trabalho de conclusão no bacharelado. Karine ainda não chegou ao final do estudo, o que deve ocorrer dentro de um ano e meio, mas já tem algumas formulações sobre o assunto. Uma delas é que esses elementos do Egito Antigo são usados por chargistas e cartunistas porque são conhecidos do público em geral. "Sobre as pirâmides você pode falar a um leigo ou a um especialista, os dois vão saber do que se trata", explica a estudante.
Nas charges são usados justamente figuras conhecidas do público. O intuito é que o leitor as veja e as entenda rapidamente, mesmo sem um texto explicativo. "Esses ícones estão na cabeça das pessoas, todo mundo conhece", diz Karine. A estudante já tem um acervo com 70 charges e caricaturas de jornais e sites de humor da América do Sul, principalmente do Brasil. Uma das caricaturas é de 1871, da Revista Ilustrada, uma das primeiras publicações de artes do Brasil, e mostra o rosto de Dom Pedro II no lugar da face da esfinge. "Dom Pedro era imperador do Brasil e adorava o Egito. Os brasileiros diziam que ele precisava se preocupar com o Brasil e não com o Egito", diz Karine.
As charges e caricaturas analisadas são dos séculos 19, 20 e 21. Uma delas mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de faraó, com as pirâmides ao fundo, e na sua mão, ao invés de um cajado, pontos de interrogação. A charge foi feita em 2003, quando o presidente brasileiro viajou para o país árabe, e tem como título "Lula Faraoleiro". Outra mostra também ele e a sua mulher, Marisa, olhando sarcófagos, túmulos com múmias egípcias. Uma outra ainda, do site humorístico Portuguelândia, mostra o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, na frente das pirâmides, com a seguinte frase: "Pirâmides do Egito. Mais uma obra do governo do estado do Rio de Janeiro".
Um dos objetivos da pesquisa de Karine é descobrir porque a antiga civilização egípcia está tão presente no imaginário dos brasileiros. Karine já coletou as charges e está atualmente estudando sobre a teoria do humor. O próximo passo, que ela já começou, será entrevistar cartunistas e chargistas para entender um pouco melhor o uso dos elementos egípcios nas suas criações.
A pesquisa da gaúcha está inserida, na verdade, em um estudo maior sobre a egiptomania no Brasil levado adiante pela professora Margaret Bakos, da PUC-RS, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Margaret é sua orientadora no trabalho de conclusão de curso. Karine está no sétimo semestre da graduação de História e começou a pesquisa já no segundo semestre quando conheceu a professora.
Karine afirma que resolveu cursar História em função da curiosidade sobre o Egito. "Desde a quinta-série (do Ensino Fundamental), quando ouvi falar pela primeira vez na escola sobre o Egito, gosto do assunto. Eu não gostava muito de História, mas gostava do Egito", afirma a estudante, que é nascida em Porto Alegre e ainda não chegou a visitar o país árabe. A intenção da jovem estudante é fazer seu mestrado e também seu doutorado sobre egiptologia. Karine não tem planos de transformar em livro a pesquisa sobre as charges, mas pensa em ampliá-la também para outros países, além da América do Sul.