Roma, Itália – El Houssine Maani tem a voz calma e segura. Características que considera fundamentais para a profissão que vai exercer a partir de agora, a de treinador de um time de futebol na Itália. Em tempos de Copa do Mundo, o jovem técnico marroquino, morador da província de Trento, no norte da Itália, diz que "venceu sua primeira partida". Maani foi escolhido treinador do Cembra 1982, time de uma região onde a Lega Nord, tradicional partido italiano com dura posição contra os imigrantes, é quem dá as cartas.
Maani nasceu em Casablanca e conta que desde pequeno era um apaixonado por futebol. Para tristeza da sua mãe, diz ele, não estudou para se dedicar ao esporte. Seu sonho era jogar em um dos times da Europa, destino de boa parte dos jovens jogadores brasileiros. Em 1992, correndo atrás do seu objetivo, fez as malas e partiu para Itália cheio de esperança. Chegou na província de Trento, que não era famosa por seus times, e sim pela prática de esqui. Foi barrado pela burocracia da imigração e, para legalizar sua situação no país, teve de encontrar um emprego formal. Não como jogador.
O futebol foi ficando em segundo plano, por conta da carga horária pesada no trabalho. Mas Maani não desistiu, "a paixão é grande", diz ele em entrevista à ANBA. Outro obstáculo surgiu: a idade. Maani tinha 22 anos quando chegou na Itália, era considerado velho pelos times, que preferem formar seus esportistas e, por isso, investem em escolas de base ou adquirem jogadores jovens, entre 16 e 20 anos, casos dos brasileiros como Robinho e os dois Ronaldos (Nazário e Gaúcho), por exemplo, que chegaram ao futebol europeu antes dos 20. Observador atento, Maani enxergou uma oportunidade, a de atuar como treinador. "Gosto de trabalhar a cabeça dos jogadores, motivá-los", diz.
O futebol vale a pena
O marroquino se empenhou. Porteiro de um hotel durante a noite, Maani passou aproveitar o dia para investir na carreira de técnico. Fez cursos, inclusive o da UEFA (União das Federações Européias de Futebol), e contatos. O primeiro trabalho surgiu no Calisio, como técnico-assistente, para treinar jogadores com idade entre 13 e 14 anos. O time foi vitorioso, competiu com 18 seleções da região de Trento e venceu o campeonato local. "É um campeonato muito disputado e conseguimos vencer logo no primeiro ano de trabalho", conta Maani.
O desempenho no Calisio abriu as portas para outros trabalhos como técnico-assistente. Maani passou pelo Albiano e pelo Garibaldina, todos da região de Trento. Neste último, Maani conheceu Ítalo Battisti, que teve participação importante no futebol italiano, e era o técnico do time. "Aprendi muito com ele", diz o marroquino. Enquanto fincava o pé no futebol, Maani também adotava a Itália como país: casou-se, nasceram dois filhos e veio uma proposta para o futebol profissional. O técnico foi convocado para atuar como assistente no Mezzocorona, time estruturado, que investe nas categorias de base.
Trabalhando de noite no hotel e treinando futuros profissionais durante o dia, Maani diz que o sacrifício pelo futebol sempre vale a pena. No Mezzocorona, trabalhou, primeiro, com jogadores entre 14 e 16 anos, repetindo a dobradinha com Ítalo Battisti. Para a temporada 2009/2010, esteve ao lado de outro técnico, Nello Santim, com jovens até 18 anos, na categoria chamada Beretti pelo futebol italiano. "É importante trabalhar as bases, mesmo numa região que não aposta tanto no futebol, como Trento. Podemos formar bons jogadores aqui, que depois vão para os times grandes", diz.
Futuro
No Cembra 1982, Maani ainda não tem uma estratégia definida, chega com muita experiência e vontade. "Agora temos de esperar a Copa do Mundo terminar para depois começar a trabalhar", diz ele, que continua conciliando o trabalho de treinador com o de porteiro. A aposta do marroquino é uma final entre Brasil e Argentina. Quem vence? "Melhor esperar os próximos jogos".
Para o futuro mais longínquo, Maani não descarta sair de Trento e treinar times no exterior. Recebeu até uma proposta de um time do Marrocos, da série A, mas na época não pôde aceitar. "No Marrocos e na Tunísia, por exemplo, podemos formar craques e, quem sabe, até realizar uma Copa, como fez a África do Sul", diz Maani orgulhoso, que agora está aberto a propostas de trabalho no exterior. "Nos países árabes ou quem sabe até no Brasil", brinca ele.
Contato
El Houssine Maani
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