Roma – Na Itália, cresce o fenômeno dos jornais de pequeno e médio portes destinados às comunidades estrangeiras, principalmente aos imigrantes que vivem nas grandes cidades como Milão e Roma. São publicações diárias, semanais ou mensais destinadas aos árabes, filipinos, paquistaneses, chineses, albaneses e romenos. Têm publicidade garantida de empresas de telefonia, grandes bancos, centros médicos, dentistas e até mesmo mercadinhos de bairro, que vendem comidas típicas. O Al Jarida, com sede em Milão, por exemplo, é um jornal ítalo-árabe direcionado, principalmente, a imigrantes marroquinos e egípcios que vivem na região da Lombardia, da qual faz parte a cidade de Milão.
A publicação, criada por um grupo de entusiastas liderado por Marco Sergi, diretor do Al Jarida e ligado à associação Medinaterranea, foi lançada em setembro de 2008. Foi financiada pelo governo da província de Milão e pela Fundação Cariplo, braço social do grupo bancário italiano Intesa San Paolo e uma tradicional apoiadora de projetos que tenham o desenvolvimento social como objetivo.
Segundo Sergi, no começo eram apenas artigos avulsos escritos em árabe e distribuídos nas escolas e universidade de Milão, onde os estudantes estrangeiros representam 10 por cento da população. “Aos poucos, percebemos que o interesse crescia, tinha gente que queria colaborar, escrever, mandar pautas”, conta.
De acordo Sergi, somente na região da Lombardia são 120 mil imigrantes árabes legalizados, 45 mil egípcios e o restante proveniente do Marrocos, Tunísia, Palestina etc. “Em geral, trabalham na construção civil, mas também no comércio, em negócios de pequeno porte”, diz. A Associação para o Desenvolvimento de Empreendimentos de Imigrantes em Milão (Asim), por exemplo, tem em seus registros cerca de 6.200 empresas em propriedade de egípcios e 1.844 nas mãos de marroquinos.
Formato
Sergi conta que, no início, o Al Jarida inovou no formato, abria na horizontal, como um calendário de parede. “Parecia o formato mais adequado para os dois idiomas, principalmente para o árabe, e também inovava”. A tiragem inicial era de 2 mil cópias. Mas o projeto gráfico não agradou tanto e agora o jornal é mais parecido com uma revista semanal. E a tiragem deu importantes saltos: primeiro para 5 mil cópias e agora para 10 mil. O Al Jarida é escrito em árabe e italiano, e, geralmente, traz ‘neologismo’, por conta da ‘contaminação’ com o idioma italiano e com os dialetos do Marrocos e do Egito. Um exemplo: ‘prefetturat’, para dizer prefeitura. A redação, de 10 pessoas e mais colaboradores eventuais, é mista, metade árabe, metade italiana. “São jovens, vindos da universidade que estudam a língua árabe, ou escolas de italiano para imigrantes”, conta Sergi.
Futebol e imigração
Na pauta do jornal, assuntos que interessam aos imigrantes, como visto para viver na Itália, anistia para os que trabalham no país, mas também reportagens mais leves, sobre eventos culturais no Norte da África, campeonato de futebol na região, times e jogadores, entrevistas com personalidades da comunidade árabe na Itália ou no país de origem. O jornal também tem um site na internet, www.aljarida.it, mas a página não é atualizada diariamente. Vão para web somente os artigos considerados mais importantes. Uma vantagem é que o internauta pode baixar o jornal via web.
Com a crise econômica na Itália, outro assunto está ganhando destaque nas páginas do Al Jarida: investimentos. Segundo Sergi, muitos imigrantes, que pensavam em fazer a vida na Itália, agora pensam em voltar para o seu país e lá construir uma vida melhor. “A ideia é informar o imigrante árabe sobre as possibilidades de investimento no seu país de origem, com reportagens sobre a maneira segura de transferir dinheiro, sobre as oportunidades de negócios no país etc.”, diz.
Para aprender italiano e árabe
Outro projeto da Medinaterranea, sempre na linha de aproximação cultural, é o site www.italianoarabo.it, um dicionário aberto ao público que tem, até o momento, 1.032 palavras registradas. A página é simples, tem as opções de busca em árabe e em italiano, e um arquivo com textos, para quem quer estudar gramática ou ler um artigo, por exemplo. Como a Wikipedia, essa parte do conteúdo é aberta, com o objetivo de ser compartilhada pelos usuários, portanto, pode ser editada por quem quiser colaborar, postando um texto, uma música ou uma lição. Como o site é novo, boa parte dos links ainda está vazio, como o caso de música italiana.