São Paulo – Sozinho e com uma câmera pequena na mão, o jovem diretor brasileiro de cinema Diogo Faggiano gravou imagens e conversas com jovens no Egito durante passagem pelo país, entre junho e julho deste ano. Em meio à primeira eleição presidencial democrática após a queda do ex-presidente Hosni Mubarak, ele registrou momentos e anseios vividos por homens e mulheres que se mostravam dispostos a mudar o rumo de sua nação.
“Fui recebido por um jornalista que morava perto da Praça Tahrir. Lá, as pessoas discutiam política o tempo todo, havia muita exaltação”, conta Faggiano, 26. “Interessava-me ouvir a opinião dos mais jovens. Os que nasceram na década de 80 nunca souberam o que é um processo democrático”, destaca.
As gravações deram origem à primeira fase do documentário de longa-metragem The Revolution of The Year (A revolução do ano). “É uma juventude que, toda noite, quando eles se reúnem para tomar um chá ou fumar um narguilé, eles falam sobre política. A discussão política é uma constante, como não vemos aqui. À frente do futebol, da televisão, está a política”, diz o cineasta sobre o que mais lhe chamou a atenção no Egito.
Ele conta que, graças à ajuda de amigos, conseguiu vencer a desconfiança de seus entrevistados para realizar as filmagens. “Foram nove ou dez conversas que, às vezes, aconteciam primeiro sem a câmera e depois com a câmera ligada”, revela. “Além disso, fazíamos a cobertura do cotidiano, do comércio e da vida dos jovens, que são o foco do trabalho.”
A reportagem da revista norte-americana Time, que escolheu a figura do “manifestante” como “Personalidade do Ano” em 2011 ajudou a definir personagens do documentário, como o jovem Saleh Fekry, um dos destaques da produção. “No filme, eles aparecem como pessoas normais. Abordamos questões mais humanas do que políticas”, afirma o diretor.
Para finalizar o documentário, Faggiano planeja viajar novamente ao Egito, ainda este ano, acompanhado de uma equipe da produtora Massa Real Filmes, de São Paulo. “Em julho, focamos no que o jovem estava achando da eleição. Em dezembro, vamos ver o que ele está achando da democracia”, explica.
“Vamos fazer um balanço sobre para onde o país foi depois do Mubarak, da ascensão da Irmandade Muçulmana, se os jovens já arrumaram emprego, se os muros que estavam pichados já foram pintados, como é este processo de democratização. O filme acaba quando acaba o ano e eles deixam de ser a ‘Personalidade do Ano’”, revela.
Para finalizar o documentário, no entanto, a equipe está em busca de patrocínio. “Somos três pessoas, é uma logística complicada, envolve deslocamento, equipamento, seguro”, diz Faggiano. Os custos da viagem somam US$ 25 mil. Para juntar o montante, os cineastas colocaram um trailer do documentário em um site público de arrecadação de recursos. “Já recebemos ajuda do Canadá, Alemanha e até da Síria”, conta Faggiano. O total necessário, entretanto, ainda está longe de ser alcançado e o grupo espera por novas contribuições para terminar o filme.
Quem quiser assistir às primeiras imagens de The Revolution of The Year e também contribuir com o projeto pode acessar o site www.indiegogo.com/projects/266057.