Giuliana Napolitano
São Paulo – Completou 14 anos em junho o primeiro – e único – banco de origem árabe que opera no Brasil. O ABC Brasil, controlado pelo Arab Banking Corporation (ABC), foi fundado em 1989, em parceria com o grupo Globo. "Naquela época, estrangeiros não podiam ser donos de bancos no Brasil", lembra Alfredo Moraes, vice-presidente do ABC Brasil. A saída, então, eram as associações com empresas locais.
Em 1997, porém, quando a Globo decidiu se concentrar mais no setor de mídia e abertura do mercado brasileiro a investidores externos estava a pleno vapor, o ABC internacional comprou o controle acionário da subsidiária brasileira. Hoje, a instituição detém 84% das ações do ABC Brasil. O restante, segundo Moraes, pertence aos executivos do banco no país.
De 1989 para cá, o patrimônio da instituição no país aumentou seis vezes: cresceu dos US$ 20 milhões iniciais para US$ 120 milhões neste ano. Os ativos aumentaram ainda mais, de US$ 100 milhões para cerca de US$ 1 bilhão no período, o vice-presidente do ABC Brasil, informou Moraes. Hoje, o banco ocupa a 41ª posição entre as 164 instituições registradas no país, de acordo com o ranking da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).
Com isso, o Brasil passou a responder por cerca de 10% dos ativos do ABC no mundo. "Individualmente, somos grandes", afirma o executivo. Isso porque o país, sozinho, tem uma participação próxima à dos Estados Unidos e Canadá (15%) e à da Ásia (17%). Quase 60% dos ativos do banco concentram-se no mundo árabe e na Europa.
Credor
Alfredo Moraes lembra que o banco já viveu diversos momentos no Brasil. Quando começaram a operar no mercado local, o país havia acabado de decretar moratória. "E o ABC era credor do governo brasileiro", diz o executivo. Essa, aliás, foi uma das razões que levaram o banco a investir no país. "Acreditava-se que a melhor maneira de recuperar esses recursos era reinvestir no país", explicou ele.
Também era vedada a participação majoritária de instituições internacionais no comando de bancos no país. Hoje, estrangeiros controlam algumas das principais instituições financeiras do país, como o Real (ABN Amro) e o Banespa (Santander), além de manterem filiais operando no país – caso do Citibank e do BankBoston, por exemplo.
Abertura no Oriente Médio
Moraes compara o processo de abertura do setor financeiro no Brasil ao que vem acontecendo hoje no Oriente Médio. Os países da região começam a permitir que instituições de fora invistam em bancos nacionais. Por enquanto, porém, a abertura é "relativa", diz o executivo. "Está acontecendo o que aconteceu no Brasil: só é permitido se associar a bancos locais e as regras são rígidas", analisa.
Aproveitando a preferência que tem no mundo árabe, já que a sede do banco fica em Bahrein, país do Golfo Arábico, o ABC vem expandindo suas operações na região. Recentemente, segundo ele, o banco ampliou suas participações no Egito, na Argélia e na Tunísia.
Um negócio que movimentar o setor financeiro do Oriente Médio e Norte da África é o de finanças islâmicas. Estima-se que essa indústria gire US$ 260 bilhões, não apenas no mercado árabe, mas em todo o mundo. Uma das principais diferenças do setor financeiro islâmico para o tradicional diz respeito aos juros.
A lei islâmica, a Sharia, condena a cobrança de juros. Ou seja, os bancos não podem cobrar juros de empréstimos, nem remunerar fundos de investimentos renda fixa. O que acaba acontecendo é que essa remuneração, em vez de ser feita com base nas taxas de juros convencionais, é substituída por uma participação nos ganhos ou perdas que os bancos têm ao administrarem os recursos dos clientes.
O ABC opera esse setor nos países árabes, mas por enquanto não pretende criar serviços semelhantes no Brasil. "A demanda é muito pequena", justifica Moraes, lembrando que nos EUA, onde existem produtos financeiros islâmicos, a "densidade de mercado é muito maior".
Comércio exterior
No Brasil, para os próximos anos, a previsão do ABC – que tem escritórios em São Paulo, Campinas e no Rio de Janeiro – é continuar com o mesmo tipo de funcionamento no país: ou seja, focado em operações de crédito, underwriting (lançamento de ações e debêntures no mercado) e investimentos, inclusive em moeda estrangeira.
O banco também aposta no aumento das exportações do Brasil para os países árabes. Em entrevista à ANBA em setembro, o vice-presidente da área internacional e de mercado de capitais do ABC Brasil, Anis Chacour, afirmou que a estimativa do ABC é de um crescimento de cerca de 15% nas vendas. Para o banco, isso significa mais negócios, já que, neste ano, um terço dos ativos do banco será usado para financiar operações de exportação e importação.
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