Marina Sarruf
São Paulo – O Seminário de Negócios, Investimentos e Cultura Árabe, realizado ontem (29) em Campinas, no interior de São Paulo, despertou o interesse de professores e estudantes da região em levar a temática árabe para dentro das universidades. "A idéia é trabalhar em conjunto com as universidades em médio e longo prazo", afirmou o superintendente do Instituto Jerusalém, Ali El Khatib, um dos organizadores do evento.
No seminário compareceram cerca de 200 pessoas, a maioria estudantes de Comércio Exterior, Jornalismo, Relações Públicas e Relações Internacionais. Segundo El Khatib, após o evento, alunos e professores da Universidade Paulista de Campinas (Unip) e da Faculdade Paulínia (FACP) o procuram para falar sobre o interesse em dar continuidade ao trabalho dentro das escolas.
"Outras universidades de Campinas também vêm demonstrando interesse no seminário de negócios e cultura árabe", disse El Khatib, que se referiu à Faculdade de Campinas (Facamp), Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), entre outras.
Uma das apresentações foi do secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, que falou sobre o papel da entidade e do potencial do mercado árabe. "O mundo árabe é o quinto parceiro comercial do Brasil", afirmou. No ano passado, as vendas externas para a região somaram US$ 5,2 bilhões e as importações US$ 5,3 bilhões. "Este ano a corrente comercial deverá atingir US$ 12,5 bilhões, um aumento de 20%", completou Alaby.
De acordo com ele, é preciso despertar nos empresários e estudantes o interesse pelo mercado internacional. "Nosso desafio é diversificar a pauta exportadora para os países árabes e trazer mais produtos árabes para o Brasil", afirmou Alaby.
Os produtos agroindustriais somam mais de 50% das exportações brasileiras para a região. No entanto, o país já vende, em menor quantidade, autopeças, cosméticos, móveis, calçados, vestuário, material de construção e produtos farmacêuticos. As importações árabes do Brasil representam apenas 1,6% do total comprado pelos países árabes.
Outra apresentação foi do pró-reitor de extensão e assuntos comunitários da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Mohamed Habib, que falou sobre a influência árabe no Brasil. Ele começou sua palestra com uma foto do Mercado Municipal de Campinas, que apresenta uma construção arquitetônica árabe. "A cultura árabe no Brasil está presente na música, arquitetura e gastronomia", disse Habib.
Durante sua apresentação, Habib disse que os árabes conheceram o Brasil antes mesmo de o país ter esse nome. "Os navegadores árabes já tinham conseguido chegar na costa da América do Sul antes de Pedro Álvares Cabral", afirmou. Ele falou também que foi a partir do século 19 que começaram os grandes movimentos migratórios dos árabes. "O número de libaneses e descendentes que moram no Brasil hoje é bem maior do que o da população de lá", disse. Existem nove milhões de libaneses e descendentes no Brasil contra 3,6 milhões no Líbano.
O seminário também contou com a apresentação do presidente da Companhia Brasileira de Alimentos Halal, Mohamed Hussein El-Zoghbi, que falou sobre a importância do abate halal, modo de abater os animais de acordo com as regras islâmicas. "Halal quer dizer alimento permissível. Os muçulmanos só consomem alimentos saudáveis", disse. Segundo ele, o abate é feito em um único movimento de corte na jugular, o que impede o sofrimento do animal. "A base de tudo é que se escoe todo o sangue do animal porque as impurezas estão no sangue", explicou.
Além do procedimento halal, foi falado sobre a reconstrução do Líbano pela empresa Solidere; sobre o papel econômico e social dos árabes no Brasil e o trabalho da empresa de Campinas Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (SANASA).
O próximo evento do Instituto Jerusalém do Brasil, sobre concertos musicais e danças árabes, será realizado no dia 06 de outubro, às 20h30 no Teatro Municipal do Centro de Convivência Cultural de Campinas. Há 25 anos a cidade promove atividades voltadas para a cultura árabe.