Randa Achmawi
Cairo – A 10ª Bienal Internacional de Artes Plásticas do Cairo, que segue até o final de janeiro no Centro Guezira, no Palácio das Artes e Museu de Arte Moderna da capital egípcia, tem como principal tema das obras questões humanitárias ligadas ao Oriente Médio. "São obras com uma grande solidez artística e que se destacam pelo refinamento dos temas abordados assim como pelo alto nível de habilidade técnica com que foram feitas", explica o comissário geral da Bienal, Ahmad Fouad Selim. De acordo com ele, vários artistas estrangeiros estão apresentando um trabalho sério e inovador em videoarte.
Entre os participantes árabes se destaca o artista egípcio George Fikri, premiado pela Bienal por seu trabalho em vídeo. Ele participa da mostra com três quadros de 3m20 por 2m40, três outros circulares de 1m20 de diâmetro e com um vídeo de animação de oito minutos. "Todos estão ligados por um mesmo tema que chamo de Ícones de Narração", explica o artista. Segundo ele, as obras relatam as tradições egípcias e são inspiradas em ícones. Fikri usa técnicas e materiais como colagem, tinta chinesa, aquarela e pastel. "Em meu vídeo de animação projetei também desenhos também ligados a este tema" acrescenta.
A artista jordaniana Helda Hiyary foi uma das participantes árabes que se destacou com seu trabalho videoarte e também recebeu prêmio da Bienal na área. "Eu me lancei nesta aventura pois a participação de uma bienal exige do artista que ele rompa com todos os estereótipos e se embale em novas experiências" explica a artista. A obra de Hiyary é composta de uma tela onde aparece uma boca feminina que muda regularmente de forma cada vez que a figura suspira, juntamente com uma centena de tarbuches (tipo de chapéu tradicional árabe de forma cilíndrica) colocados em um estrado. Tudo é preto, exceto a boca e os tarbuches, que são vermelhos. "Esta obra se refere a certas mulheres árabes não vêem nos homens senão o seu tarbuche e pouco importa a cabeça onde ele está colocado", ironiza a jordaniana.
Entre os estrangeiros, a espanhola Francesca Martini expôs uma obra que dá a idéia de um corpo em busca de sua alma. Em seus quadros estão associados colagem e pintura. Se projetam sobre eles silhuetas humanas em diferentes posições. O artista sérvio Miodarg Krkobalic, que ganhou o prêmio de Estima do Júri para videoarte tem, na exposição, uma sala só para ele. Seu trabalho é uma elaboração sobre sua própria foto do passaporte. A imagem parece fixa, mas aos poucos começa-se a notar nela ligeiras mudanças. O que, segundo o artista, reflete o estado de isolamento das pessoas com as quais cruzamos todos os dias nas ruas e pelas quais não nos interessamos.