Giuliana Napolitano
São Paulo – A Síria e o Brasil têm um “bom relacionamento” político e diplomático. Na área econômica, porém, “ainda há muito potencial não desenvolvido”, e esse potencial pode começar a ser explorado com a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará ao país em dezembro. A avaliação foi feita pelo embaixador brasileiro em Damasco, Eduardo Monteiro de Barros Roxo, em entrevista à ANBA.
A Síria é o primeiro país árabe que o presidente Lula irá visitar durante sua viagem oficial pelo Oriente Médio e Norte da África, prevista para ocorrer entre 3 e 10 de dezembro deste ano. Para Eduardo Roxo, “esta será uma boa oportunidade histórica de fortalecer os vínculos que já existem entre os dois países”.
O embaixador faz questão de salientar o caráter histórico da viagem. Isso porque o último dirigente brasileiro a visitar a Síria foi um imperador, D. Pedro II, no final do século 19. A ausência é comum também em outros países árabes: um dos últimos presidentes a desembarcar na região foi João Baptista Figueiredo, que foi à Argélia no final dos anos 1980.
No caso da Síria, porém, a distância não esfriou o relacionamento bilateral, garante Roxo. “Os laços entre os dois países sempre foram muito estreitos”, disse, lembrando que o Brasil mantém ligações diplomáticas com o país desde sua independência, na década de 1940.
Boa parte desse contato, avalia o diplomata, vem da imigração. Os sírios, ao lado dos libaneses, foram os primeiros imigrantes árabes que chegaram ao Brasil no final do século 19 e, hoje, formam a maior parte da comunidade árabe que vive no país, estimada em cerca de 10 milhões de pessoas. “Esse intercâmbio ajuda muita”, afirma Roxo. A forte presença síria foi, aliás, um dos motivos que levaram o presidente Lula a incluir o país no roteiro da visita oficial, segundo o Itamaraty.
Ministro sírio vem ao Brasil
Durante a visita, Eduardo Roxo prevê que os países discutam acordos de cooperação tecnológica, cultural e educacional. Especificamente na área econômica e comercial, ele não espera que sejam feitos acertos concretos, como a assinatura de acordos comerciais. Isso porque, justifica, “a visita será muito curta”. “Deve durar um dia e meio, no máximo dois dias”.
Mas a viagem será o ponto de partida para negociações futuras, acredita o embaixador. “A idéia é colocar as pessoas em contato e discutir temas de interesse comum, que poderão ser retomados mais adiante”, disse.
E a retomada já tem data para começar. Está prevista para o primeiro semestre de 2004 a vinda ao Brasil do ministro de Comércio Exterior da Síria. “Ele já foi convidado pelo governo brasileiro”, informou.
A confirmação da data depende de um outro evento que está sendo organizado pelo Brasil para ampliar o relacionamento com o mundo árabe: a reunião de cúpula entre os chefes de Estado da América do Sul, do Oriente Médio e do Norte da África. O encontro está programado para o início do próximo ano.
Abertura econômica
Uma maior cooperação econômica e comercial entre os dois países depende também do grau de abertura que o governo sírio está disposto a promover. Segundo Eduardo Roxo, o país ainda tem uma política forte de substituição de importações – que favorece a produção local e restringe as compras externas. “Mas existe uma dinâmica no sentido de abrir mais a economia”, explicou.
Recentemente, por exemplo, a Síria já negociou acordos de livre comércio com a União Européia, com países do Mediterrâneo e algumas nações árabes. “É um começo”, diz o embaixador. “O país vive um processo de liberalização do comércio parecido com o que ocorreu no Brasil no início da década de 1990”, compara.
Um acordo de livre comércio com o Brasil, porém, ainda não faz parte dos planos da Síria, segundo Roxo. “Primeiro, é preciso verificar as oportunidades de comércio e investimentos bilaterais”, ressalta.
Petróleo e agricultura
A base da economia – essencialmente estatal – da Síria é o petróleo, que responde por 70% das exportações, e a agricultura, que contribui com um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
No ano passado, o PIB do país cresceu 3,5%, para cerca de US$ 60 bilhões, segundo o critério de paridade de poder de compra, usado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para comparações internacionais. Pelo mesmo critério, a renda per capita anual está em US$ 3,5 mil.
O país também fechou 2002 com superávit de US$ 1,3 bilhão na balança comercial, resultado de exportações de US$ 6,2 bilhões e de importações de US$ 4,9 bilhões.
No bloco de países em que está inserida, o Cham, a Síria é a maior potência econômica, seguida pelo Iraque, que registrou um PIB de US$ 58 bilhões no ano passado, e pelo Líbano (US$ 19,3 bilhões). Também fazem parte do Cham a Jordânia e a Palestina. Em termos populacionais, o Iraque é o maior país do bloco, com um total de 24,2 milhões de habitantes. A Síria vem em segundo lugar, com 17,1 milhões de pessoas e a Jordânia em terceiro (5,3 milhões).
Trocas com o Brasil
O comércio do Brasil com a Síria é pequeno e instável. Em 2002, as exportações e as importações realizadas pelos países ficou em pouco mais de US$ 90 bilhões, com um largo superávit para o lado brasileiro. O Brasil vendeu ao parceiro árabe o equivalente a US$ 87,5 milhões e comprou apenas US$ 3,7 milhões.
Neste ano, porém, a balança está mais equilibrada: as exportações brasileiras somam US$ 28,1 milhões até setembro e as importações já subiram para US$ 9,5 milhões.
A Síria compra do Brasil principalmente açúcares, tecidos, café e autopeças. No ano passado, esses itens representaram quase 65% da pauta exportada ao país árabe. Já as exportações sírias concentram-se em nafta para o setor petroquímico, que respondeu por 73% do total vendido ao Brasil em 2002, plásticos, sementes de anis e plantas para uso medicinal e também na indústria de cosméticos.