Alexandre Rocha, enviado especial
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Dubai, Riad e Sanaa – Os Emirados Árabes Unidos fazem fronteira com a Arábia Saudita, que faz fronteira com o Iêmen. São três países árabes de forte tradição muçulmana, produtores de petróleo e de ligações históricas com o mar e com o deserto. Mas também não poderiam ser mais diferentes. Durante 11 dias a reportagem da ANBA circulou pelas três nações e mostra a partir de hoje as particularidades de cada uma.
Apesar de ricos em história e tradições, a configuração territorial e política desses três países é relativamente recente. A federação dos Emirados foi criada no início dos anos 70, o Reino da Arábia Saudita foi formalmente fundado em 1932 e o Iêmen, antes dividido entre Sul e Norte, foi unificado em 1990.
A partir desses marcos históricos o desenvolvimento econômico, político e cultural de cada uma das nações seguiu caminhos diferentes. Os Emirados, em especial Dubai, turbinaram sua tradição comercial e se abriram para o mundo em termos econômicos e culturais; a Arábia Saudita, por sua vez, apesar da abertura comercial, se manteve conservadora na religião e na cultura; enquanto que no Iêmen é possível travar contato com costumes existentes há séculos.
A Península Arábica é uma região de contrastes. Os arranha-céus futuristas de Dubai e a verdadeira babel que compõe sua população contrastam com a austeridade saudita, que por sua vez contrasta com a colorida desordem iemenita, que tem como pano de fundo monumentos históricos e paisagens de cair o queixo. “Que contrastes!”, observou o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, ao final do giro pela região.
Em Dubai, por exemplo, é possível ser atendido por um garçom filipino, pegar um táxi com um motorista paquistanês, para ir a uma reunião com um executivo indiano, ou assistir uma palestra com um especialista britânico. É possível almoçar em um restaurante tailandês, fumar uma shisha em um café sírio e tomar uma cerveja australiana em um resort de frente para as águas do Golfo.
O emirado é também um centro internacional de negócios, onde mercadorias de todas as origens chegam e saem o tempo inteiro. “Dubai é como um shopping center. Aqui você acha produtos do mundo inteiro em apenas uma parada”, resumiu o vice-presidente da Dubai Airports, Ali Al Jallaf, responsável pela divisão de cargas da operadora aeroportuária do emirado.
A festa cosmopolita de Dubai não se repete na Arábia Saudita, onde a ortodoxia religiosa veda o consumo de álcool, as cinco orações diárias são seguidas à risca e as mulheres, mesmo as estrangeiras, andam com a abaya, espécie de robe preto utilizado por cima da roupa, cobrem a cabeça com lenços e, muitas delas, o rosto com véu, deixando apenas os olhos a mostra. De Meca e Medina, hoje no território do Reino, o Islã se irradiou pela Península e de lá para os quatro cantos do mundo.
Mas a riqueza econômica do país é visível em lugares como a Kingdom Tower, em Riad, prédio de quase 100 andares e sede da Kingdom Holding, empresa do príncipe Alwaleed Bin Talal, um dos homens mais ricos do mundo; em shopping centers que reúnem marcas de alto luxo como Tiffany, Dolce & Gabana, Ralph Lauren e Saks Fifith Avenue; e supermercados que oferecem uma infinidade de mercadorias das mais diferentes procedências. “O consumidor aqui compra até mais do que precisa”, disse o diretor-geral de laboratórios e controle de qualidade do Ministério da Indústria e Comércio saudita, Mohammed Al-Debasi.
No Iêmen a religião muçulmana chegou logo. A Grande Mesquita da Cidade de Velha de Sanaa, a capital do país, por exemplo, foi construída cerca de 20 anos após a morte do profeta Maomé. Chamado de Arabia Felix (Arábia Feliz) pelos romanos e gregos, por causa de suas terras férteis e comércio pujante, a região é habitada desde a pré-história e foi lar de diferentes reinos e povos, como o bíblico Reino de Sabá, os judeus, cristãos e muçulmanos.
Foi lá que o café, planta originária da Etiópia, começou a ser cultivado e ganhou o mundo a partir do Porto de Mohka, no Mar Vermelho, e chegou ao Brasil. Governado por uma monarquia até a década de 1960, o país se manteve isolado do resto do mundo, fato apontado como um dos fatores de preservação de seu patrimônio histórico e costumes. “O turismo aqui é muito promissor”, destacou o presidente da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria do Iêmen, Mohammed Abdo Saeed.
O Iêmen é tema da segunda reportagem da série, que a ANBA publica amanhã (10).