São Paulo – As exportações do Brasil aos países árabes renderam US$ 7,07 bilhões entre janeiro e setembro, um aumento de 35% em comparação com o mesmo período do ano passado. A participação da região nas vendas externas totais do Brasil chegou a 4,69%, a maior da história das relações bilaterais. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
As principais mercadorias embarcadas foram as carnes de frango e bovina, num total de US$ 2,2 bilhões, seguidas de minérios (US$ 1,15 bilhão), açúcar (US$ 1,12 bilhão), semimanufaturados de ferro e aço, incluindo vergalhões (US$ 431 milhões), veículos e autopeças (US$ 265,4 milhões), máquinas e equipamentos (US$ 227,2 milhões), aeronaves (US$ 167,5 milhões), óleos vegetais (US$ 136 milhões), cereais (US$ 129,2 milhões) e café, chá e especiarias, principalmente café (US$ 107 milhões).
O secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, disse que as exportações de setembro ainda refletem as encomendas feitas para o Ramadã, que este ano coincidiu exatamente com o mês passado. Apesar do jejum diurno observado pelos muçulmanos no período, o consumo de alimentos é alto à noite. Além disso, o mês é seguido de feriado e festas de quebra do jejum.
Os números mostram que os embarques aos países árabes não foram afetados pela crise financeira internacional até o momento, uma vez que os contratos cumpridos até setembro foram assinados antes de seu agravamento. Alaby acredita que os reflexos não serão sentidos este ano e aposta que a corrente comercial, soma das exportações e importações, deverá ficar entre US$ 18 bilhões e US$ 19 bilhões até o final de 2008.
Até setembro as importações de produtos árabes somaram US$ 8,36 bilhões, um aumento de 101% em comparação com os primeiros nove meses de 2007. A corrente comercial chegou a US$ 15,43 bilhões. “Eventuais efeitos devem ocorrer apenas a partir dos novos contratos, só a partir de janeiro”, afirmou Alaby.
Ele ressaltou que mesmo que a crise venha afetar o comércio entre o Brasil e o mundo árabe, o impacto não deve ser grande, uma vez que boa parte dos produtos brasileiros exportados é composta por alimentos. A região depende da importação de gêneros alimentícios para suprir as necessidades de sua população e, mesmo em caso de recessão mundial, a comida é sempre o último item a ser cortado pelos consumidores.
Na mesma linha, o especialista em comércio exterior e diretor-executivo da Rodobens Trading, Joseph Tutundjian, disse que o efeito da crise na balança comercial brasileira de modo geral “não será devastador”, já que o agronegócio ocupa uma fatia de 36,7% nas exportações do país e é o principal responsável por seu superávit comercial.
Só para se ter uma idéia, de janeiro a setembro o comércio do Brasil acumulou saldo de US$ 31 bilhões, mas considerando apenas o agronegócio o superávit foi de US$ 36,6 bilhões. Sob esta ótica, Tutundjian acredita que as exportações aos países árabes serão menos afetadas pela crise. Além disso, ele ressaltou que, apesar da desvalorização das commodities agrícolas, os preços de alguns produtos, como as carnes, devem continuar em alta.
Alaby acrescentou que, mesmo com o recente recuo do preço do petróleo, os grandes exportadores da commodity, especialmente os países do Golfo Arábico, continuam a ter alta liquidez por causa das receitas acumuladas nos últimos anos. “Talvez eles venham a ter mais cautela nos investimentos, mas não no comércio”, disse.
Para Tutundjian, o que pode afetar o comércio bilateral é a falta de crédito no Brasil para os exportadores. Ele não acredita em queda significativa na demanda na região, especialmente entre os grandes produtores de petróleo, que estão menos sujeitos aos riscos da crise financeira. “O problema é mais aqui do que lá”, afirmou.
Destinos
Os principais destinos das mercadorias brasileiras no mundo árabe, de janeiro a setembro, foram a Arábia Saudita, com importações de US$ 1,86 bilhão, um aumento de 73,13%; Egito (US$ 955,77 milhões, redução de 3,13%); Emirados Árabes Unidos (US$ 943 milhões, 0,61% a mais); Kuwait (US$ 492,25 milhões, crescimento de US$ 210%); e Argélia (US$ 418,12 milhões, ampliação de 18%).
O principal destaque no período ficou por conta do Kuwait, que passou a integrar a lista dos cinco maiores mercados da região. As mercadorias que mais pesaram na balança foram as carnes, cujas importações cresceram quase 100% e chegaram a US$ 237,5 mil, e os produtos semimanufaturados de ferro e aço, que não foram adquiridos pelo país de janeiro a setembro do ano passado, mas em 2007 figuram como segundo maior item da pauta, com compras de US$ 207,4 milhões.
Na seara das importações, os principais produtos comprados pelo Brasil de janeiro a setembro foram petróleo e derivados (US$ 6,7 bilhões), adubos e fertilizantes (US$ 882,2 milhões), químicos inorgânicos (US$ 305,7 milhões), sal, enxofre, pedras, etc., principalmente ácido fosfórico (US$ 253,3 milhões), alumínio (US$ 32 milhões), itens de vestuário (US$ 29,4 milhões), material elétrico (US$ 28 milhões), plásticos e suas obras (US$ 22,5 milhões), sardinhas (US$ 15,5 milhões) e produtos químicos orgânicos (US$ 12,3 milhões).
Superávit
Em setembro somente as exportações brasileiras renderam US$ 965 milhões, 53% a mais do que no mesmo mês do ano passado. Já as importações somaram US$ 815 milhões, um crescimento de 58%. O superávit para o Brasil foi de US$ 150 milhões, o maior do ano. Aliás, em 2008 a balança só tinha ficado positiva para o Brasil em fevereiro. No acumulado dos nove primeiros meses, porém, o Brasil teve déficit de US$ 1,29 bilhão.