São Paulo – A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a Universidade de Colônia, na Alemanha, atuaram em parceria para implantar uma estação de coleta de dados de satélite no Sudão, país árabe da África. Chamado de Extreme Sudan Climate (Xsude proposal), o projeto começou a ser desenvolvido em 2022, mas foi suspenso no ano passado em função do conflito que atinge o Sudão.
O projeto previa implantar no Sudão a estação descentralizada de recepção. Trata-se de tecnologia e equipamentos criados pela Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos (Eumetsat) para captação e processamento de imagens de satélites. Com a parceria da Eumetstat, foi adaptada pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Ufal 2007.
O sistema é chamado de EUMETCast. De acordo com o coordenador do Lapis, o professor Humberto Alves Barbosa, alguns diferenciais do EUMETCast são a infraestrutura simplificada, o baixo custo e o fato ser descentralizado, ou seja, não depende de burocracias governamentais para obter e processar dados específicos. O sistema também dispensa a internet.
Essa estação, recebe, processa e armazena informações obtidas pelos satélites e as combina com outros dados referentes ao solo, clima e vegetação local. Juntas, todas as essas informações contribuem para interpretar o que ocorre com uma vegetação no decorrer do tempo.
O sistema empregado no laboratório da Ufal é capaz de mapear a cobertura vegetal de todo o Brasil e avaliar a evolução das matas e das lavouras. No caso brasileiro, dados obtidos pelo EumetCast ajudaram a identificar, por exemplo, expansão de áreas áridas no semiárido brasileiro.
Implantação, transferência tecnológica e treinamento no Sudão
A parceria com o governo sudanês, embora no início, previa que uma agência europeia forneceria equipamentos enquanto o Lapis ofereceria treinamento aos técnicos sudaneses e compartilharia algoritmos desenvolvidos no próprio laboratório para atuar junto com o sistema descentralizado de recepção no Sudão. Tanto a Ufal como a Universidade de Colônia contribuiriam com conhecimento técnico e pesquisadores. A universidade alemã tem um pós-doutorando na área de hidrologia que é sudanês.
“A Ufal foi a primeira universidade a instalar o sistema, com sua própria infraestrutura, que era pequena. Isso foi uma boa vitrine porque viram que seria possível fazer em qualquer outro lugar no Brasil. Aí começamos a treinar, as notícias começaram a chegar”, recorda o professor. “Instituições de países de língua portuguesa, como Angola e Moçambique, também receberam treinamento com o Lapis”, diz.
Essa “notícia” entre órgãos governamentais, diz o pesquisador, chegou ao Ministério da Agricultura e Florestas do Sudão. As primeiras reuniões virtuais para estabelecer cronogramas e o papel de cada instituição na parceria se realizaram em 2022. Em abril de 2023, porém, o projetou foi suspenso. “Em 2025 acho muito pouco provável que a gente consiga [seguir com a parceria], mas pode ser que as coisas mudem. Não estamos trabalhando com [a ideia de] fazer visitas de campo e começar a estabelecer um cronograma em 2025”, diz Barbosa.
Os sudaneses se interessaram pelo projeto pela simplicidade de sua estrutura, em comparação a outras estações do tipo, e porque no país africano seria inicialmente empregado no Centro-Sul e no Sul do território em regiões com características de vegetação similares àquelas encontradas na transição entre Cerrado e Caatinga no Brasil. O Rio Nilo, disse Barbosa, teria papel fundamental nas pesquisas dos técnicos sudaneses. O rio atravessa o território do país e é usado pelos agricultores locais para o cultivo da lavoura.
Os sudaneses manifestaram o propósito de utilizar a estação descentralizada de recepção em lavouras de milho e de algodão. Se fossem empregadas nelas, afirma Barbosa, poderiam contribuir para um aumento na produtividade.
Barbosa diz que, embora o projeto estivesse sendo levado ao Sudão, outros países podem se beneficiar desta tecnologia e deste treinamento, inclusive outros árabes, porque alguns países árabes se situam em regiões caracterizadas por eventos climáticos extremos.
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