Alexandre Rocha
São Paulo – O Brasil já é o principal fornecedor de açúcar para os países do Oriente Médio e Norte da África e deverá reforçar ainda mais esta posição, após a Organização Mundial do Comércio (OMC) ter limitado as exportações da commodity pela União Européia. O painel aberto na OMC concluiu que a UE causava distorções no comércio internacional, principalmente por causa dos subsídios que os governos do bloco concedem aos seus produtores, e a condenou a limitar seus embarques a 1,4 milhão de toneladas por ano.
Os efeitos da decisão, que entrou em vigor no final de maio, ainda não foram sentidos na safra européia 2005/2006, terminada em setembro, mas a partir da safra 2006/2007 o limite de embarques passará a ser respeitado, segundo o economista da Organização Internacional do Açúcar (OIA), Leonardo Bichara Rocha. De acordo com ele, a produção da UE, que foi de 21,8 milhões de toneladas na última safra, com exportações de 7,5 milhões de toneladas, deverá ficar em 17,1 milhões na próxima.
"As exportações da Europa para o Oriente Médio e Norte da África são basicamente de açúcar branco, direto para o consumo. Com a previsão de queda destas vendas, alguns destes países estabeleceram capacidade de refino e passaram a importar mais açúcar bruto do Brasil", disse Rocha à ANBA. Existem até empresas brasileiras investindo em refinarias na região, como é o caso da Cristalsev que está construindo uma planta na Síria em parceria com a Cargill África e companhias locais.
Este é um movimento que já vem ocorrendo há algum tempo, mas agora deverá ser acentuado. De acordo com o economista, até o final da década passada os países do Golfo Arábico importavam cerca 500 mil toneladas de açúcar do Brasil por ano, volume que hoje está na casa de 1,5 milhão. "Estão aparecendo refinarias no Oriente Médio usando açúcar VHP brasileiro", disse.
Esta sigla VHP significa que o produto tem um alto índice de polarização, ou seja, não é refinado, mas está quase lá, o que faz com que os custo de refino seja menor. Além desse diferencial, o custo de produção no Brasil é baixo e o país tem plenas condições de suprir a demanda. Segundo o especialista, somente em 2007 devem ser inauguradas mais de 20 novas usinas no Brasil, o que deverá ampliar a capacidade de produção em cerca de dois milhões de toneladas.
"Com empresas nestes países refinando para eles mesmos, elas têm lucro, já que o preço do VHP é mais baixo do que o do açúcar branco pronto para o consumo", afirmou Rocha. "E os países que não têm refinarias e antes compravam da UE, agora importam de seus vizinhos que têm refinarias", acrescentou.
Se a produção da UE deve cair para 17,1 milhões de toneladas na safra 2006/2007, só as exportações brasileiras deverão subir de 17,8 milhões de toneladas para 20,8 milhões, dentro de um comércio que deverá movimentar mais de 46 milhões de toneladas no mundo no mesmo período.
Rocha observa, no entanto, que no longo prazo as exportações brasileiras não devem continuar a crescer no mesmo nível, deverão ficar em torno de 2% ao ano depois que o mercado entrar em equilíbrio. "Existe um limite natural para o crescimento do consumo", concluiu.