São Paulo – O Brasil não está imune de ser contagiado pelas turbulências econômicas que atingem os países ricos e pode sofrer as consequências da desaceleração. No entanto, também pode se beneficiar deste problema ao se transformar em destino de investimentos que seriam feitos nas economias desenvolvidas se não houvesse crise.
Informações divulgadas nesta semana pelo Ministério da Fazenda com levantamento feito pelo Banco Central mostram que o Brasil recebeu, no ano passado, US$ 66,7 bilhões em Investimento Direto Estrangeiro, um recorde. Em 2010, haviam sido investidos desta forma no Brasil US$ 48,4 bilhões e, em 2009, US$ 25,9 bilhões.
Dados da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) também revelados pelo Ministério da Fazenda no documento "Economia brasileira em perspectiva", mostram que o Brasil foi o quarto país que mais recebeu investimentos de outros países em 2011.
Ficou atrás dos Estados Unidos (US$ 210,7 bilhões), China (US$ 202,4 bilhões) e Reino Unido (US$ 77,1 bilhões) e à frente de outros emergentes, como Rússia (US$ 50,8 bilhões) e Índia (US$ 34 bilhões). Ainda conforme o levantamento, os países que mais investiram no Brasil em 2011 foram Estados Unidos (18% do total), Espanha (15%), Bélgica (9%) e Reino Unido (7%).
Se a conjuntura econômica atual não mudar nos próximos anos, o Brasil deverá continuar a ser destino de investimentos. Segundo o economista da consultoria econômica Tendências, Bruno Lavieri, o Brasil vai receber mais investimentos nos próximos anos porque tem segurança jurídica e não oferece riscos como outros países em desenvolvimento.
Lavieri crê que o País manterá o patamar de IDE de 2011, uma previsão melhor do que aquela feita pelo Banco Central. O BC prevê que o Brasil receberá US$ 50 bilhões de IDE em 2012, menos, por tanto, do que em 2011, além de uma grande crise na Europa e, por consequência, maior aversão ao risco. "Nosso cenário é um pouco mais otimista do que o do Banco Central".
O coordenador do curso de Negócios Internacionais e Comércio Exterior do Programa de Educação Continuada da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Evaldo Alves, também prevê que o Brasil continuará a ser destino dos investimentos estrangeiros. "Certamente nos próximos anos nós teremos um investimento parecido com este [registrado em 2011]. A causa disso é a crise nas economias desenvolvidas, que vai se prolongar", diz.
Alves também observa que esses investimentos são "bons" porque a maior parte não é decorrente de fluxo especulativo, mas de dinheiro para ser usado em expansão e produção. Ele observa, porém, que o Brasil pode perder investimentos para outros países emergentes.
"Se não melhorarmos nossa infraestrutura logística, se não reduzirmos nossa alta carga tributária, podemos perder para outros países emergentes. A China é nosso maior parceiro comercial. Porém, também é nosso concorrente", diz.