Doha – O Catar é um pequeno país encravado na Costa Leste da Península Arábica, com uma população pequena, altamente dependente da indústria do petróleo e gás e da mão-de-obra estrangeira. Para garantir um desenvolvimento sustentável e de longo prazo, o governo lançou um plano que tem entre seus objetivos diversificar a economia e fortalecer o setor privado.
Mas a estratégia nacional não envolve somente a seara econômica, pois o país quer avançar em várias áreas, como na cultura, comunicação, esportes, educação, turismo, transporte aéreo e diplomacia. Algumas dessas iniciativas já são bem conhecidas, como é o caso da rede de TV Al Jazeera e da Qatar Airways, companhia aérea que terá, a partir de 24 de junho, seu 91º destino: São Paulo, no Brasil. As ambições do Catar vão além, e a ANBA vai mostrar isso a partir de hoje (24) em uma série de reportagens.
Na área da cultura, por exemplo, foi criada a Cultural Village, por iniciativa de Mozah Bint Nasser Al Missned, mulher do emir Hamad Bin Khalifa Al Thani. O empreendimento, dirigido pelo brasileiro Márcio Barbosa, ex-diretor geral adjunto da Unesco, tem como objetivo incentivar a produção cultural local e transformar Doha em um pólo para eventos da área.
De acordo com Barbosa, a Cultural Village tem o desafio de, por um lado, preservar as tradições e os valores históricos do país e, de outro, “oferecer oportunidades culturais” modernas por meio de diferentes manifestações, como música, artes plásticas, teatro, cinema, entre outras. “A ideia é mostrar que, na cultura, o país tem uma estratégia de convivência do antigo com o novo”, afirmou.
No esporte, o Catar tenta se projetar como promotor de grandes eventos internacionais. Em 2006, o país foi sede dos Jogos Asiáticos, e, em janeiro de 2011, vai receber a Copa Asiática de Futebol. No dia 14 de maio, a Associação de Futebol do Catar (QFA, na sigla em inglês) apresentou oficialmente à Fifa sua candidatura para sede da Copa do Mundo de 2022.
Para o brasileiro Caio Júnior, técnico do time catariano Al Gharafa e eleito o melhor treinador da temporada no país, o torneio asiático de seleções vai servir como teste e vitrine da capacidade do Catar em promover eventos do gênero. Caio garante que, para profissionais como ele, as condições de trabalho são ótimas e em seu clube “não falta nada”.
Na aviação, de acordo com o CEO da Qatar Airways, Akbar Al Baker, a tendência é de crescimento contínuo. A empresa confia na criação de demanda com a abertura de novas rotas, como no caso do novo vôo de Doha para São Paulo e Buenos Aires.
Assim como a cultura e o futebol, a aviação catariana representa oportunidade de trabalho para brasileiros. Os pilotos Cezar Prates e Alexandre Moraes, órfãos da antiga Varig, encontraram na companhia árabe condições de trabalho que hoje não existem no Brasil. “O mercado de aviação no Oriente Médio e na Ásia estão em franca expansão”, declarou Moraes.
Na imprensa, a Al Jazeera, segundo seu diretor-geral, Wadah Khanfar, pretende avançar no lançamento de canais em novos idiomas, além do árabe e do inglês, ampliar o número de sucursais, reforçar a cobertura esportiva e investir em novas mídias.
Khanfar falou também da diplomacia do país, que tem tido sucesso em mediar disputas regionais. “O Catar fornece segurança para quem quiser vir negociar porque não tem interesses particulares nos temas em disputa”, afirmou.
Na economia, o fortalecimento do empreendedorismo é um das prioridades, tanto que recentemente o governo lançou um pacote de 2 bilhões de riais (US$ 550 milhões) para incentivar as pequenas e médias empresas. Segundo Sarah Abdallah, vice-gerente geral da Associação dos Empresários Catarianos (QBA, na sigla em inglês), a indústria de petróleo e gás continuará a ser a mais importante do país, mas o desenvolvimento de atividades como o turismo de negócios, a indústria e o setor bancário vai diminuir essa dependência.
O Catar diversifica também na seara externa. O fundo soberano local, que tem na Qatar Holding seu braço executivo, está sempre em busca de oportunidades de investimentos em diferentes e segmentos e países. “Nós somos oportunistas”, disse o CEO da companhia, Ahmad Al-Sayed. Um dos focos de interesse hoje é o agronegócio brasileiro. Leia mais sobre esse tema amanhã (25) na ANBA.