São Paulo – O comércio do Brasil com os países árabes já ultrapassou, de janeiro a agosto de 2008, o total do ano passado. A corrente comercial, soma das exportações e importações, chegou a US$ 13,654 bilhões, ante US$ 13,417 bilhões em 2007 inteiro. Frente aos primeiros oito meses do ano passado, houve um aumento de 65,6%.
O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Antonio Sarkis Jr., lembrou que, em 2005, quando da sua primeira visita ao Brasil, o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, fez uma projeção de que o comércio bilateral poderia dobrar em cinco anos. “Na época a corrente comercial estava em US$ 8 bilhões e, passados três anos, nós vamos com certeza passar os US$ 16 bilhões”, afirmou.
Sarkis lembrou também que, na mesma ocasião, o então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luís Fernando Furlan, estimava que a corrente chegaria a US$ 15 bilhões em três anos. Ou seja, mais do que atingidas, as duas metas estão muito próximas de ser superadas.
O presidente da Câmara Árabe acrescentou que o comércio cresceu de maneira expressiva com as três regiões árabes: o Golfo, o Norte da África e o Levante.
As exportações brasileiras ao mundo árabe renderam US$ 6,1 bilhões, um crescimento de 32,5% sobre os primeiros oito meses de 2007. Isso representa 4,67% de tudo o que o Brasil exportou no período, a maior participação desde o ano 2000. Os principais destinos foram Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos e Kuwait.
Entre os destaques estão as vendas de carnes, minério de ferro, semimanufaturados de ferro e aço, vergalhões, chapas e tiras de alumínio, madeira e derivados, lácteos, cereais e óleos de origem animal e vegetal.
Materiais para o ramo de construção, como vergalhões e produtos de madeira estão em alta, pois a região continua com o mercado de construção bastante aquecido, havendo inclusive escassez de insumos em alguns países.
“O mercado está favorável, embora haja uma concorrência acima da média por parte de fornecedores europeus”, disse Damaris Eugênia Ávila da Costa, diretora da trading Braseco, que atua no ramo de material de construção e hoje tem no mundo árabe seu segundo maior mercado atrás apenas da África.
Segundo ela, que vende especialmente madeira para os Emirados, a empresa recebeu muitos pedidos após ter participado da Big 5 Show, feira da construção que ocorreu em Dubai no final do ano passado.
Sarkis destacou que a participação brasileira na Big 5, uma mostra bastante concorrida, com certeza refletiu na balança comercial deste ano. O pavilhão brasileiro foi organizado pela Câmara Árabe e pela Agência de Promoção das Exportações e Investimentos do Brasil (Apex).
Damaris acrescentou, no entanto, que as empresas brasileiras têm que manter uma presença cada vez mais constante na região para fazer frente aos concorrentes, em especial a China, que tem uma forte participação no mercado local e não fornece mais apenas produtos de baixa qualidade. Ela, que também vende vidros para o Egito e vai participar da próxima edição da Big 5, disse que sua empresa avalia a abertura de um escritório nos Emirados.
Para o chefe do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, Evandro Didonet, a aproximação diplomática entre o Brasil e o mundo árabe, com trocas de visitas de chefes de estado, visitas de ministros e negociações de acordos, teve também reflexo no comércio. “Quando o ministro do Comércio do Egito vem ao Brasil, por exemplo, e faz contatos, algum impacto há”, disse ele, referindo-se à visita do ministro Rachid Mohamed Rachid ao Brasil em agosto.
Ele ressaltou, porém, que outros fatores influem nos números da balança, inclusive o aumento dos preços dos produtos negociados entre as duas partes, como petróleo, fertilizantes, commodities agrícolas e minerais.
Agronegócio
Nos primeiros oitos meses de 2008 houve um aumento da participação de produtos manufaturados e acabados na pauta de exportações. O agronegócio, embora tenha respondido por quase US$ 3,2 bilhões dos embarques no período, viu sua fatia na pauta diminuir, afinal as vendas do setor cresceram apenas 4,4% em comparação aos primeiro oito meses do ano passado.
Embora as exportações de carnes de frango e bovina, o principal item da pauta, tenham crescido quase 50%, houve queda nas vendas de alguns produtos, especialmente o açúcar, que é a segunda mercadoria mais importante no rol das vendas externas brasileiras aos árabes.
De acordo com o diretor do Departamento de Promoção Internacional do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Eduardo Sampaio Marques, o preço do açúcar não aumentou muito em comparação com o ano passado, quando estava em baixa. Mesmo assim não houve um crescimento expressivo dos volumes embarcados, e não só para o mundo árabe, mas para o mundo em geral.
Ele acrescentou que o Brasil tem também sofrido a concorrência de outros países produtores, como a Índia. “A Índia está muito forte no açúcar e deve ter muita presença por lá [no mundo árabe]”, opinou.
Importações
Na seara das importações, o Brasil comprou o equivalente a US$ 7,546 bilhões do mundo árabe nos primeiros oitos meses de 2008, um aumento de 107,66% sobre o mesmo período do ano passado. O crescimento das receitas, no entanto, não se reflete na diversificação da pauta, concentrada em alguns produtos, como petróleo e derivados, fertilizantes e produtos químicos.
Os principais fornecedores do Brasil no período foram Arábia Saudita, Argélia, Líbia e Marrocos.