Isaura Daniel
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São Paulo – O comércio do Brasil com a Arábia Saudita pode chegar a US$ 10 bilhões em quatro anos. A afirmação foi feita hoje (21) pelo chefe da delegação saudita que está no Brasil para uma missão comercial, Ahmed Suliman Al-Romaih, presidente da empresa Ahmed Al-Romaih & Bros. Ele falou durante a abertura das atividades da delegação no Brasil em um seminário na Câmara Árabe. No ano passado, o comércio entre as duas regiões ficou em US$ 3,1 bilhões, dos quais US$ 1,61 bilhões foram exportações sauditas ao Brasil e US$ 1,48 bilhões vendas brasileiras ao país árabe.
"A Arábia Saudita e o Brasil são economias complementares e o volume de negócios, que já é representativo, pode crescer muito devido o potencial dos dois países", afirmou o presidente da Câmara Árabe, Antonio Sarkis Jr., também na abertura do seminário. Sarkis lembrou que a Arábia Saudita é a maior economia no Oriente Médio e o Brasil a maior na América do Sul. Segundo Al-Romaih, a Arábia Saudita pode vender mais petroquímicos para o Brasil e os sauditas podem comprar dos brasileiros desde maquinário de todo tipo até automóveis, produtos elétricos, como cabos, e alimentos.
Entre os principais produtos que o Brasil já exporta para os sauditas estão aeronaves, carne de frango, minério de ferro e açúcar. A Arábia Saudita tem no ranking da pauta de vendas para o Brasil petróleo bruto e naftas para petroquímica. "Arábia Saudita e Brasil estão interligados com uma relação econômica profunda", disse Al-Romaih. O investimento e a cooperação entre os dois, porém, segundo chefe da delegação, ainda não atingiu o nível esperado. "Este encontro é uma oportunidade para troca de idéias, experiências e conhecimento entre os empresários", disse Al-Romaih.
A delegação saudita, que chegou no Brasil no final de semana, é formada por 16 empresários. Eles terão hoje pela tarde e amanhã (22) durante o dia rodadas de negócios com empresários brasileiros. Do seminário que ocorreu pela manhã participaram ao redor de 80 pessoas. "Este é um momento especial das relações do Brasil com os árabes. Nós, do Brasil, sentimos que nunca houve uma aproximação política e econômica como a dos últimos anos", disse Sarkis aos presentes. O Brasil e os países da Liga Árabe tiveram em 2006 uma corrente de comércio de US$ 12 bilhões.
O Brasil para os sauditas
O secretário-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby, falou aos sauditas, no seminário, sobre o potencial econômico do Brasil. Números como o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que é de US$ 1,6 trilhão, e a renda per capita de US$ 8,6 mil, foram apresentados aos empresários da Arábia Saudita. Alaby lembrou que o Brasil tem 50% da área territorial da América Latina, 50% da população e também 50% do PIB. "Temos um dos sistemas bancários e de telecomunicações mais avançados do mundo, o capital estrangeiro tem no Brasil o mesmo tratamento que o nacional", disse o secretário-geral.
Ele lembrou ainda de grandes nomes da pesquisa e a indústria brasileira, como a Empresa Brasileira de Tecnologia Agropecuária (Embrapa), que exporta tecnologia agrícola, e da Embraer, exportadora de aeronaves. "Temos uma base diversificada na área industrial", disse ainda Alaby. Ele falou ainda, aos sauditas, dos 54 portos que o Brasil tem, dos US$ 137 bilhões exportados pelo país em 2006 e das facilidades que há no país para envio de lucros para o exterior, caso os sauditas tenham interesse em fazer investimentos no Brasil. No ano passado, segundo Alaby, o Brasil recebeu US$ 18 bilhões em investimentos estrangeiros e investiu US$ 28 bilhões no exterior.
A Arábia Saudita para os brasileiros
Os sauditas também apresentaram os números da sua economia para os empresários brasileiros presentes no seminário. A Arábia Saudita, segundo o diretor-executivo do Centro Saudita de Desenvolvimento das Exportações (SEDC), Eid Al-Kahtani, está crescendo ano a ano. O país saltou de um PIB de US$ 188,5 bilhões em 2002 para US$ 347 bilhões no ano passado. Em 2002, o crescimento do PIB foi de 3%. Já no ano passado, o percentual passou para 13%. A Arábia Saudita está entre as 20 maiores economias do mundo, segundo Al-Kahtani.
O diretor afirmou que grande parte do desenvolvimento do país se deve ao petróleo, mas lembrou que a Arábia Saudita também está investindo em outros setores e exporta outros tipos de produtos. Entre as mercadorias vendidas no exterior pelos sauditas estão produtos elétricos, papéis, produtos médicos, artigos de limpeza, aço, tubos plásticos, ar-condicionado, vidro, cabos, tapetes, sistemas de irrigação, alimentos e cobre. As exportações não-petrolíferas saíram de US$ 6,3 bilhões em 2000 para US$ 21 bilhões em 2006. Os principais compradores, no exterior, são Emirados, China, Kuwait e Cingapura.
Os sauditas também falaram sobre suas cidades industriais: Jubail e Yanbu. Elas foram criadas com o objetivo de reduzir a dependência do país do petróleo e têm hoje 259 empresas em operação. As informações são do diretor geral adjunto para Investimento e Desenvolvimento da Comissão Real para Jubail e Yanbu, Mohammed Saad Al-Jurais. De acordo com ele, além das empresas em operação, há outras 93 em construção e 83 em projeto. O investimento recebido até hoje pelas cidades industriais foi de US$ 109 bilhões. Há no local desde indústrias primárias, como refinarias e siderúrgicas, até secundárias, como de plástico, e indústria leve, para, por exemplo, acabamento de produtos.
Missão
A delegação saudita vai ficar no Brasil até o final de semana. Em São Paulo o grupo fica até a quarta-feira. Eles também estarão em Brasília, na quarta e quinta-feira, e no Rio de Janeiro, na sexta-feira. Os sauditas terão, no Rio e no Distrito Federal, também rodadas de negócios com empresários locais. Hoje, na abertura das atividades, também participou o encarregado de negócios da embaixada da Arábia Saudita em Brasília, Abdullah Alowaifeer. A viagem foi organizada, no lado saudita, pelo Conselho de Câmaras de Comércio e Indústria da Arábia Saudita.