Randa Achmawi, especial para a ANBA
Cairo (Egito) – Para consolidar o comércio entre o Brasil e o Egito é preciso equilibrar a balança comercial entre os dois países, hoje favorável ao Brasil. Esta é a opinião de Ashraf El-Attal, coordenador do Conselho Empresarial Brasil-Egito, grande importador de produtos brasileiros e cônsul honorário do Brasil em Alexandria.
"Hoje em dia, nosso comércio está em torno de US$ 500 milhões. Mas, infelizmente, mesmo com perspectivas de grande aumento até o final do ano, o volume de exportações do Brasil para cá é muito maior do que do Egito para o Brasil. Esta situação deve ser melhorada", disse ele em entrevista à ANBA.
De fato, a corrente comercial entre o Brasil e o Egito chegou a US$ 496,6 milhões em 2003 e já atingiu US$ 446,2 milhões entre janeiro a agosto deste ano. Mas exportações brasileiras dominam a pauta bilateral. Nos primeiro oito meses de 2004 elas renderam US$ 420,4 milhões, contra importações de US$ 25,8 milhões. O Egito é o terceiro principal comprador do Brasil entre os países árabes, atrás apenas da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos.
Na avaliação de Attal, embora o comércio entre os dois países esteja crescendo, é necessário um esforço de ambas as partes para que todas as possibilidades de negócios sejam exploradas.
Foi justamente para promover ações nesse sentido que surgiu o conselho empresarial, criado quando da vista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Cairo em dezembro de 2003 e formado por cerca de 30 empresários egípcios e brasileiros. Attal é coordenador do lado egípcio.
Feira
Uma das ações previstas, conforme antecipou a ANBA em março, é a realização de uma feira para promover os produtos egípcios no Brasil, paralelamente à reunião de cúpula entre os chefes de estado dos países árabes e sul-americanos, programada para ocorrer em abril de 2005.
"Os próprios brasileiros ressaltaram a necessidade do aumento das exportações egípcias para o Brasil. Esta idéia foi levantada em março passado, durante a última visita ao Egito de Juan Quirós (presidente da Agência de Promoção de Exportações do Brasil) e de Paulo Atallah (presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira). Fui com eles encontrar com o então ministro da Economia, Youssef Boutrus Ghaly, e propusemos a ele que 20 à 25 companhias egípcias fossem ao Brasil participar desta feira", declarou o empresário.
Tais empresas, segundo ele, serão selecionadas e deverão ter produtos que correspondam à demanda brasileira em termos de qualidade e preço.
Ele acrescentou que o novo ministro egípcio da Economia, Rachid Mohamed Rachid, que já exerceu a função de cônsul honorário do Brasil, demonstrou um grande interesse em participar da feira. Antes disso, porém, Rachid deverá visitar o Brasil, no início de 2005, para tratar do acordo de livre comércio que está sendo negociado entre o Mercosul e o Egito.
Diversificação
Apesar do saldo da balança comercial entre os dois países ser favorável ao Brasil, Attal disse que é preciso também diversificar a pauta de exportações brasileiras para o Egito para incluir produtos de maior valor agregado.
"É preciso desenvolver uma cultura de comércio tanto do lado brasileiro, quanto do egípcio. Aqui no Egito pouco se conhece do Brasil. Para a maioria dos egípcios, o Brasil lembra café, açúcar e futebol. Poucas pessoas sabem que o Brasil possui tecnologias avançadas em diversas áreas, de boa qualidade e pode exportá-las a preços mais baixos que os vendidos pelos paises ricos. Eu mesmo antes de ir ao Brasil pela primeira vez, em 2000, não tinha idéia do que se produzia no país", declarou o empresário.
No entanto, ele reconhece que essa situação está mudando. "Hoje em dia, sobretudo nos últimos três anos, encontramos cada vez mais equipamentos brasileiros no Egito. Notei isso nas usinas de produção de arroz, que é uma área com a qual trabalho diretamente. Sei também que todos aqueles que estão trabalhando com produtos brasileiros estão muito satisfeitos", afirmou.
Attal disse ainda que uma das melhores maneiras para aproximar mais os dois países é estimular o turismo. "É sempre muito difícil, daqui do Egito, viajar de férias ao Brasil e o mesmo ocorre com os brasileiros que desejam conhecer o Egito. Por isso eu me pergunto, por que não criar condições para facilitar o turismo entre os dois países? Tenho certeza que esta também é uma maneira de incentivar o trabalho conjunto. Se algum empresário egípcio for ao Brasil numa viagem de lazer poderá facilmente se interessar em fazer negócios", concluiu.