Joana Rozowykwiat, especial para ANBA
Recife – A tâmara, uma fruta típica do Oriente Médio, pode ajudar a transformar a realidade do semi-árido nordestino. Essa é a aposta do agrônomo egípcio, Magdi Ahmed Ibrahim Aloufa, que desenvolveu, no laboratório de biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mudas de tamareiras que se adaptaram ao clima do Nordeste brasileiro. O pesquisador busca agora parceiros interessados em cultivar as plantas para comercializar as tâmaras, um produto bastante valorizado no país. Para ele, no entanto, tão importante quanto o potencial econômico da fruta é a sua capacidade de adaptação a áreas degradadas e regiões secas.
Coordenador do laboratório e professor de fisiologia vegetal da UFRN, Magdi Ahmed acredita que o Nordeste tem tudo para se tornar exportador de tâmaras, mas ainda não começou a investir nesse nicho de mercado. "A planta tem um valor econômico muito bom. E o único país latino que faz a aclimatação da tâmara é o México, de onde o Brasil importa a maior parte da tâmara que consome hoje", conta o egípcio, radicado no Rio Grande do Norte desde 1983.
Segundo ele, em Petrolina, Sertão de Pernambuco, há alguns produtores de tâmaras, mas que plantam a partir de sementes, o que não garante a qualidade dos frutos. "No laboratório, nós desenvolvemos mudas em processo de biotecnologia, que assegura o tamanho, o sabor e a precocidade das tâmaras", explica. Desta forma, as tamareiras demoram apenas quatro anos para darem frutos, quando, a partir de sementes sem controle de qualidade, as tâmaras poderiam demorar até 15 anos para nascerem.
O objetivo maior de Magdi Ahmed, contudo, é ocupar regiões degradas e solos do semi-árido com a tamareira. "É uma planta do Oriente Médio, produzida em todos os países árabes, e que se desenvolve no deserto. Então, além da questão econômica, que é o que mais interessa hoje, há também a questão ambiental, que está na ordem do dia", avalia. As palmeiras de tâmara fertilizam o solo, suavizando a temperatura e interrompendo a progressão das zonas em processo de desertificação.
Apesar da viabilidade de seu projeto, o egípcio tem encontrado dificuldades na busca por parceiros. Já apresentou a proposta a diversas entidades governamentais. Todas demonstram interesse na empreitada, mas alegam falta de recursos. "A secretaria de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte mostrou-se sensível, mas ainda não deu resposta", explicou o pesquisador, que procura também empresas e organizações não-governamentais que queiram desenvolver a cultura da tâmara.
"Deduzo que muito dessa resistência seja por não se tratar de uma fruta nativa da região. É uma visão curta porque é um projeto com grande potencial. Mas teria que haver um trabalho amplo, para introduzir essa nova fruta", explica. Segundo ele, os parceiros poderiam ajudar ainda fornecendo estrutura para o desenvolvimento de mudas. "Apesar de ter capacidade de produzir uma grande quantidade de mudas, o Laboratório de Biotecnologia da UFRN não possui estrutura suficiente para a fase de aclimatação", lamenta.
Ele, que é um dos pioneiros na clonagem de plantas no Nordeste, acredita que o futuro de toda a região está no investimento em agricultura com aplicação de tecnologia. "O avanço é lento pela falta de recursos. Lamento tanto, porque poderíamos fazer bem mais. Com o apoio do governo, poderíamos desenvolver a região, colocando em prática o que produzimos no laboratório", conta.
Frutas nativas
Apesar da falta de parceiros para o cultivo de tamareiras, o agrônomo comemora um convênio firmado entre a UFRN e o Banco do Nordeste (BNB), que já possibilitou pesquisas para produção de mudas selecionadas de cajueiros e umbuzeiros. "Pretendemos produzir essas mudas em grande quantidade e distribuí-las para pequenos produtores, pessoal de agricultura familiar", informa Magdi.
O laboratório recebeu R$ 128 mil para o projeto e o resultado dos estudos é que o caju, abundante na região, já pode ser produzido com controle de qualidade, assim como o umbu, uma fruta ameaçada de extinção.
O município de Serra do Mel, a 320 quilômetros de Natal, será um dos beneficiados com a iniciativa. "A cidade vive hoje da comercialização do caju, mas a fruta produzida lá nasce de maneira nativa, sem garantia de qualidade", relata o agrônomo, que pretende distribuir cerca de 50 mudas para as famílias de Serra do Mel.
Conservação
Além da produção de mudas selecionadas de frutas nativas, os recursos do BNB estão sendo empregados também na reforma e modernização do Laboratório de Biotecnologia Vegetal, que há 23 anos desenvolve pesquisas em clonagem de plantas. De acordo com Magdi, o local vai ganhar ainda um centro de conservação de espécies nativas com risco de extinção.
"As verbas devem ser gastas em etapas. Então, além de modernizar o laboratório, estamos montando este banco de germoplasma, onde conservaremos algumas espécies ameaçadas in vitro", explica o coordenador do laboratório.
Segundo ele, a preservação em laboratório será referência no Nordeste, onde só existem experiências semelhantes em campo. "In vitro, garantimos que as plantas não sofrerão perda por acidentes naturais, condições climáticas ou doenças", explica. Ainda de acordo com ele, a reforma da estrutura já existente no laboratório deve ser concluída até o final do ano, mas a criação do centro de conservação é um projeto para longo prazo.
As pesquisas de melhoramento genético de plantas no Rio Grande do Norte começaram em 1984, com a chegada de Magdi Ahmed – doutor em Biotecnologia pela Université de Pierre e Marie Curie (Paris) – na UFRN. Nessa época, não havia nem laboratório, nem pessoal especializado em engenharia genética na Universidade. Determinado, Magdi enviou um projeto ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq) e conseguiu recursos para a aquisição de equipamentos, além de bolsas para os alunos de graduação trabalharem no laboratório.
Hoje, além de coordenar o espaço e dar aulas de fisiologia vegetal, o egípcio tem uma base de pesquisa sobre biotecnologia vegetal e é consultor da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) e do próprio CNPq.

