Alexandre Rocha, enviado especial
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Cairo – Empresários egípcios querem realizar uma missão ao Brasil. O anúncio foi feito ontem (03) pelo cônsul honorário do Brasil em Alexandria, Ashraf El Attal, que também é empresário de comércio exterior, no seminário que abriu, no Egito, as atividades da delegação comercial brasileira que está em viagem ao Norte da África. “Nossa balança é muito desigual, existe muito a ser feito, nós não temos realizado o esforço necessário. É preciso conhecer o Brasil e encorajar seus empresários a comprar também matérias-primas e produtos acabados do Egito”, disse.
A idéia é realizar a viagem no final do ano e, junto com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Attal, que é coordenador do Conselho Empresarial Brasil-Egito, quer identificar os setores mais propícios para a realização de negócios no Brasil. Ele citou alguns segmentos fortes em seu país, como os de naftas, fertilizantes, cimento, arroz, móveis, produtos químicos e artesanato.
Para o vice-presidente de marketing da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, a missão é oportuna, já que diversas atividades relacionadas ao intercâmbio com os árabes deverão ocorrer no final do ano. Para o embaixador do Brasil no Cairo, Elim Dutra, que também participou do seminário, os egípcios devem ir ao Brasil conhecer o mercado e vender.
No ano passado, as exportações brasileira ao Egito renderam US$ 1,35 bilhão, enquanto que as importações somaram apenas US$ 38 milhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do governo brasileiro.
Na área de investimentos, o secretário-geral da Associação de Empresários Egípcios (EBA), Mohamed Youssef, disse à ANBA que o Egito está desenvolvendo um novo tipo de zona industrial destinada a países “Oferecemos uma área para um país com todas as facilidades”, afirmou.
Este tipo de empreendimento nasce de um acordo de representantes do setor privado de determinado país e o governo egípcio. A Turquia, por exemplo, tem uma área destinada à toda a cadeia da indústria têxtil; a Rússia terá um pólo destinado à indústria pesada e aeronáutica; a Alemanha e a Índia, segundo ele, estão em fase final de negociação para a constituição de negócios do gênero. No caso da Alemanha, o projeto visa o ramo automotivo, e no da Índia ainda não há setor definido. “As zonas industriais podem atuar em apenas um segmento ou vários”, disse Youssef.
Os produtos podem ser destinados à exportação ou vendidos no mercado interno. De acordo com ele, os investidores têm acesso à infra-estrutura necessária, incluindo energia elétrica e água a custos baixos, e podem gozar dos acordos comerciais que o Egito tem com a União Européia, outros países árabes e africanos. Para se beneficiar dos acordos, porém, os produtos têm que ter 40% de insumos egípcios.
A empresa estrangeira pode ter um parceiro local ou não e a escolha do lugar onde será realizado o empreendimento é livre. “Isto vai de acordo com as necessidades do investidor”, disse. Para Attal, no entanto, ter um parceiro no país é importante para saber o caminho das pedras. As zonas industriais são dotadas também de centros de treinamento para a capacitação da mão-de-obra local.
Attal destacou também o potencial do turismo no Brasil. “Vi muitos lugares impressionantes no país, eu recomendo”, afirmou. Hannun acrescentou que o Brasil deverá se tornar um destino importante para os turistas árabes. Ele lembrou as regiões representadas pelos empresários que compõem a missão brasileira. Eles são do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e do Nordeste.
Oportunidades
Hannun destacou ainda que a delegação brasileira que está no Egito mostra o vigor e a diversidade de economia brasileira pois engloba vários setores, como os de alimentos, insumos para a indústria alimentícia, material de construção, bebidas, frutas, ferramentas, móveis, máquinas agrícolas, ferramentas e equipamentos médicos e odontológicos. O coordenador da unidade de investimentos internacionais da Apex, Juarez Leal, ressaltou que os produtos brasileiros têm bom preço e qualidade.
Elim Dutra citou alguns exemplos de setores brasileiros que podem ampliar suas exportações para o Egito. “O mercado egípcio de milho amarelo é de US$ 500 milhões por ano, sendo que o país compra dos Estados Unidos e da Argentina. O Brasil não exporta um quilo sequer ao Egito, mas vende US$ 460 milhões no mercado internacional. Por que não vender ao Egito?”, questionou.
Na mesma linha, ele disse que o mercado de madeira movimenta US$ 600 milhões por ano no país, mas o Brasil só participa com US$ 1,6 milhão. Na área de autopeças, de acordo com o diplomata, o tamanho do mercado egípcio é de US$ 300 milhões, mas a fatia brasileira é de US$ 4 milhões. “Se o Brasil exporta carros para cá, por que não peças?”, indagou. Ele citou ainda o ramo de produtos médicos, que movimenta US$ 100 milhões e no qual o Brasil participa com US$ 10 milhões.
Crédito
O presidente do Banco ABC no Egito, Essam El Wakil, também presente ao evento, acredita que a instituição pode ter um papel importante no comércio entre os dois países. “Hoje vi muitas oportunidades, e vamos pegá-las”, disse. O grande diferencial do ABC, segundo ele, é o fato do banco ter filiais no Egito e no Brasil.
O ABC foi fundado em 1980 pelo emirado de Abu Dhabi, pelo Kuwait e pela Líbia. No final dos anos 80 ele começou a operar no Brasil. “Hoje o Brasil está se tornando uma das histórias de sucesso do grupo, com US$ 1,7 bilhão de ativos, um pouco mais que no Egito”, disse. A filial brasileira surgiu também antes da egípcia, criada em 1999.
Um dos papéis do banco, segundo ele, é cobrir o comércio entre os países árabes e o resto do mundo. No Egito ele financia 2% das exportações do país e quer ter um papel ativo no crédito ao comércio exterior entre os dois países e na identificação de oportunidades de negócios.
O diretor da divisão de investimentos e empresas da consultoria KPMG no Egito, Abdel Abou Shenef, também participou do seminário e falou sobre o ambiente para investimentos no país. Hoje (04) os empresários brasileiros participam de rodadas de negócios com companhias egípcias no hotel Four Seasons Nile Plaza, no Cairo.