São Paulo – Convidado para participar do 6º Fórum Anual da Al Jazeera, que teve como tema “O Mundo Árabe em Transição”, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez neste domingo (13), em Doha, no Catar, uma defesa enfática da democracia e falou das experiências latino-americanas, em especial do Brasil.
“Nós descobrimos que a democracia não é apenas um discurso, é uma construção muito difícil que demanda a participação de todos, o respeito às diferenças de opinião e maturidade para conviver com as divergências, mesmo que elas sejam muito irritantes”, disse Lula sobre o processo de redemocratização do Brasil após a ditadura militar, que durou de 1964 a 1985.
O evento organizado pela rede de TV com sede no Catar foi realizado no momento em que protestos por mudanças políticas, econômicas e sociais ocorrem ao redor do mundo árabe. Na semana retrasada, o ex-chanceler brasileiro Celso Amorim falou também sobre o exemplo brasileiro em um encontro semelhante.
“[A democracia] é uma construção complicada que demanda paciência e determinação, e um entendimento profundo de que o povo deve estar no centro da vida política, que suas demandas devem ser ouvidas e que elas devem ser levadas em consideração”, declarou o ex-presidente, de acordo com transcrição do discurso publicada no site em inglês da emissora. “É o povo, e não os líderes, a força por trás das transformações”, acrescentou.
Para exemplificar, Lula contou sua história pessoal. Da infância pobre em Pernambuco, na região nordeste do Brasil, ao trabalho como metalúrgico em São Paulo, passando pela liderança sindical, a entrada na política, até a eleição para presidente em 2002, após três tentativas frustradas.
Ele destacou que se não fosse pela democracia essa trajetória não seria possível, assim como as de outros políticos, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, primeiro negro presidente daquele país; o presidente da Bolívia, o líder indígena Evo Morales; o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela; e sua sucessora na Presidência brasileira, Dilma Rousseff, primeira mulher a governar o Brasil.
Lula destacou, porém, que a democracia não é apenas o direito do povo apresentar suas demandas, mas também de ver elas atendidas. Nesse sentido, ele ressaltou que, mais do que contemplar o direito de votar e ser votado, a democracia tem que promover a inclusão social. Como exemplo, ele citou ações e resultados obtidos durante seus dois mandatos como presidente do Brasil e acrescentou que, com a participação popular, os governantes cometem menos erros e são mais produtivos.
O ex-presidente aproveitou para defender reformas nos órgão multilaterais, como o Conselho de Segurança da ONU, para que eles passem a refletir a geopolítica atual. “Da mesma maneira que um país não pode ser propriedade de um ou outro governante, o mundo não pode ser propriedade de um ou outro país”, declarou, retomando um discurso que adotou durante todo o seu governo.
Para Lula, é mais fácil compreender o que está ocorrendo hoje no Oriente Médio “se nós entendermos que o mundo precisa de mais democracia”. “O mundo precisa de mais liberdade. O mundo precisa de mais igualdade”, afirmou.
Ele manifestou sua solidariedade a “todos no Oriente Médio, e em qualquer parte do mundo, que estão lutando por liberdade, por democracia e por igualdade social”. “É preciso entender que a mudança de poder não é algo ruim, é a necessidade de trazer oxigênio para a sociedade e para a democracia”, disse.