São Paulo – Com nações europeias em recessão e Estados Unidos e Japão com previsão de crescimento pequeno, serão os países em desenvolvimento que farão com que a economia mundial cresça em 2012, segundo o Relatório de Comércio e Desenvolvimento – Políticas para o Crescimento Inclusivo e Equilibrado, divulgado nesta quarta-feira (12) pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). O estudo afirma também que austeridade em políticas macroeconômicas não se reflete em crescimento e alerta que é preciso reduzir a desigualdade social.
De acordo com o levantamento, o Produto Interno Bruto (PIB) global cresceu 4,7% em 2010, avançou 2,7% em 2011 e não deverá se expandir mais do que 2,5% este ano. Isso só será possível devido ao desempenho dos países em desenvolvimento, que deverão crescer 5% em 2012. A previsão de crescimento menor do que nos anos anteriores é resultado da frágil recuperação das nações desenvolvidas.
O estudo afirma que a China foi capaz de absorver a queda no superávit em conta corrente com uma pequena queda no seu crescimento, mas sem afetar o aumento salarial, e que a América Latina, que também vê o seu avanço econômico desacelerar, deverá crescer 3,5% em 2012. “Este crescimento é sustentado por uma poderosa demanda doméstica, aumento de salários e crédito ao setor privado”, afirma o relatório.
A previsão de crescimento para a Ásia é de 6,8%, mesmo com desaceleração. Na África, o avanço esperado é resultado da expansão das economias dos países da África Subsaariana e da recuperação das economias das nações do Norte da África, após a Primavera Árabe, em 2011.
Menos austeridade
“Apesar de uma modesta melhoria no crescimento do PIB dos Estados Unidos e um pouco mais significante no PIB do Japão, as economias desenvolvidas de uma forma geral estão próximas de crescer pouco mais de 1% em 2012 devido à recessão que atualmente afeta a Europa”, afirma o relatório.
Ainda de acordo com o levantamento, a recessão se concentra nos países da Zona do Euro, onde as autoridades falharam em apresentar uma solução convincente para os desequilíbrios internos e dívidas. “A política [macroeconômica] escolhida de austeridade incondicional está sufocando o retorno ao crescimento econômico sustentável. Além disso, não se pode excluir a possibilidade de deterioração das condições econômicas na Europa.”
O estudo da Unctad critica as reformas macroeconômicas que têm sido feitas que permitem o corte de salários, a disparidade de renda entre os setores da economia e o enfraquecimento das negociações coletivas. Segundo a agência da ONU, esse tipo de reforma estrutural é “perigoso” porque aumenta o desemprego e faz cair a demanda do consumo. E, na avaliação da instituição, o que tem tornado a Europa incapaz de se recuperar é a queda na demanda. Para a organização, uma política econômica com crescimento do PIB e juros baixos contribuiria para garantir o equilíbrio fiscal dos países e manter as dívidas em um patamar “sustentável”.
Combate à desigualdade
Outra forma de promover o crescimento das economias, e assim combater a crise econômica, é reduzir a desigualdade social, que, contudo, cresceu no mundo nos últimos anos. De acordo com o levantamento da Unctad, a desigualdade aumentou na América Latina nos anos 1980 e 1990 em 14 dos 18 países e caiu, a partir do ano 2000, em 15 dos 18 países. Mesmo assim, a desigualdade na região permanece mais alta do que era antes dos anos 1980. Na África, a desigualdade social cresceu entre 1980 e 1995, quando começou a cair, mas, dos dez países mais desiguais do mundo, seis ficam na África Subsaariana. A desigualdade também cresceu na Ásia e na China, a partir dos anos 1980.
O relatório sugere que é necessário promover uma revisão das políticas trabalhistas e salariais para que a distribuição de renda seja mais justa e a desigualdade social, menor. Uma das sugestões é de que o salário esteja atrelado à produtividade. Além disso, diz o relatório, não deveriam existir grandes distorções salariais entre empresas e setores da economia. Os reajustes deveriam ser obtidos por meio de uma negociação entre sindicatos e empregadores “complementada por recomendações do governo”. Na avaliação da Unctad, é a distribuição de renda que gera o crescimento sustentado de uma economia, e não o contrário, como geralmente ocorre.

