São Paulo – O aumento do imposto de importação de cem produtos, anunciado na última semana pelo governo brasileiro como forma de proteger a indústria nacional, interfere no comércio do Brasil com o mundo árabe. Vinte e quatro produtos que fazem parte da lista de exceções foram exportados pelos países árabes para o mercado brasileiro entre janeiro e julho deste ano, somando uma receita de US$ 137,8 milhões. O valor representa 1,8% do que o Brasil gastou com compras da região no período, que foi US$ 7,3 bilhões.
“Deve ter algum impacto”, afirma o CEO da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby. Os principais itens vindos do mundo árabe que passarão a pagar tarifa de exceção são as chapas de vidro, cujas exportações para o Brasil somaram US$ 50 milhões nos sete primeiros meses do ano, seguidas pelos polietilenos, com US$ 48,7 milhões, cabos de alumínio, com US$ 20,2 milhões, resinas epóxidas sem carga, com US$ 3,4 milhões, pneus para caminhões e ônibus, com US$ 1,9 milhão, e chapas de polímeros, US$ 1,4 milhão.
Também está na lista de exceção produtos que o Brasil importou dos árabes, mas em valores pequenos, como batatas preparadas, oxidietanol, etilenoglicol, polímeros, revestimentos de pavimentos, chapas de polímeros, laminados de aço, motores elétricos, entre outros. A maioria passará a pagar taxa de 25% para entrar no Brasil. As chapas de vidro deixarão de pagar imposto de 10% para pagar 20%. Os polietilenos passarão de 14% para 20% e os cabos de alumínio, que pagavam taxa de 12%, entrarão na tarifa de 25%.
Alaby lembra que o impacto não será apenas do percentual que será pago a mais em imposto de importação, mas também de outros tributos que incidirão sobre o preço maior, como Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), ICMS e PIS/Cofins. “Vai aumentar a dificuldade de eles exportarem para o Brasil”, afirma o CEO, referindo-se aos países árabes. Ele lembra, no entanto, que o impacto deve acontecer no comércio destes produtos, mas deve ser menor nas importações dos árabes como um todo, nas quais o petróleo bruto predomina.
Petroquímicos
O especialista em energia e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, afirma que no setor de petroquímicos, o aumento do imposto de importação deve, no curto prazo, proteger a indústria nacional de produtos importados. “A indústria nacional petroquímica é cara porque usa nafta (como matéria-prima)”, afirma, lembrando que o produto depende dos preços de petróleo, que têm se mantido altos.
As petroquímicas internacionais normalmente usam gás como insumo, mas o Brasil, diz Pires, não tem muita disponibilidade do produto. “Se tivéssemos gás mais barato, poderíamos ter uma indústria petroquímica mais competitiva e com tecnologia mais moderna”, afirma Pires. O Brasil importa naftas para petroquímica do mercado árabe. Entre janeiro e julho deste ano, as compras do produto somaram US$ 1,5 bilhão e foram o segundo item da pauta das importações da região, logo após o petróleo bruto, cujas compras somaram US$ 3,4 bilhões.
Mercosul
A decisão de aumentar os impostos foi tomada pelo conselho de ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) na última quarta-feira (05). A medida precisa ainda ter o aval dos demais países integrantes do Mercosul e deve entrar em vigor até o final deste mês. Ela não vale para os parceiros do bloco sul-americano.