São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, nesta segunda-feira (21), as ações da coalizão internacional liderada por Estados Unidos, França e Grã-Bretanha na Líbia, país árabe do Norte da África onde forças rebeldes estão e conflito com o regime de Muamar Kadafi. “Sou solidário à posição do Brasil, que se absteve na ONU (Organização das Nações Unidas) contra a invasão. Essas invasões só acontecem porque a ONU está enfraquecida”, disse Lula, ao participar de uma homenagem feita a ele pela Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), no Clube Monte Líbano, em São Paulo.
O ex-presidente sugeriu que, em vez de ataques, deveria haver diálogo. “Em vez de mandar aviões para bombardear, devia ter mandado o secretário-geral da ONU [Ban Ki-Moon] para conversar”, disse ao Lula aos presentes. Os ataques da coalizão começaram após autorização das Nações Unidas para que forças internacionais tomassem as medidas necessárias para proteger a população líbia.
Apesar da crítica à ação da coalizão, porém, Lula fez uma defesa da democracia, dando um recado aos líderes da região. “Meus amigos árabes, ninguém é insubstituível. Alternância no poder é coisa sagrada”, disse o ex-presidente, lembrando que ele mesmo poderia ter brigado por um terceiro mandato e não o fez.
O ex-presidente ressaltou, na homenagem, a relação que construiu com o mundo árabe. “É bom saber, após o [término do] mandato, que conseguimos construir uma amizade sólida”, disse o ex-presidente à platéia. Lula lembrou da sua primeira viagem ao mundo árabe e de quanto foi criticado por investir na participação brasileira em uma feira de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. De acordo com ele, os críticos não acreditavam que os árabes estivessem interessados em fazer negócios com o Brasil. “Não era possível que o mundo árabe gostasse do Brasil se nós não íamos ao mundo árabe”, afirmou Lula, lembrando que as relações do país eram muito centradas nos Estados Unidos e União Européia.
Por isso mesmo, disse Lula, ele sugeriu a criação da Cúpula de Países Árabes e América do Sul (Aspa), que aconteceu pela primeira vez no Brasil em 2005 e teve uma segunda edição em Doha, no Catar, em 2009. O homenageado lembrou de como estas iniciativas fizeram o comércio do Brasil com o mundo árabe avançar, mas afirmou que a relação do país com o Oriente Médio e Norte da África vai além do lado econômico. “Os árabes nos ajudaram a construir o jeito de ser brasileiro”, afirmou Lula, lembrando dos laços migratórios e culturais e de como no Brasil convivem harmonicamente diferente religiões.
De acordo com Lula, é bom para o Brasil ter relações internacionais diversificadas. O ex-presidente afirmou que atualmente ninguém pode dizer que o Brasil não construiu “relações fortes com o mundo”.
Em discurso durante a homenagem, o presidente da Fambras, Mohamed Hussein El Zoghbi, afirmou que Lula comportou-se como um verdadeiro mascate durante a presidência, em seu trabalho para promover as exportações do Brasil. E Lula gostou do elogio. “Não tenho vergonha de dizer que fui um mascate, porque era um sonho meu”, disse Lula para a platéia, formada principalmente por descendentes de imigrantes árabes, a maioria filhos de homens que começaram seus negócios no Brasil como mascates.
Lula recebeu placa de homenagem da Fambras e teve seu trabalho, na liderança do Brasil, entre 2003 e 2010, elogiado por representantes da comunidade árabe. “Esse é um agradecimento pelo muito que vossa excelência fez no seu mandato presidencial”, disse Zoghbi, dizendo também que Lula sempre se pautou visando o bem e a paz de todos os povos. Também o pró-reitor de Assuntos Comunitários da Universidade de Campinas (Unicamp) e vice-presidente do Instituto de Cultura Árabe (Icarabe), Mohamed Habib, falou da trajetória de Lula no governo e lembrou que ele foi o primeiro presidente brasileiro a visitar os países árabes.
“O senhor está em nosso coração como um irmão”, disse Habib, afirmando ainda que Lula fechou seu governo com chave de ouro tendo ajudado a eleger uma mulher, a atual presidente Dilma Rousseff.
A homenagem, seguida de jantar, reuniu lideranças nacionais no Clube Monte Líbano. Participaram personalidades como os ex-ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge e Luiz Fernando Furlan, o atual ministro de Educação, Fernando Haddad, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e os senadores Marta Suplicy e Eduardo Suplicy. Também participaram o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Salim Taufic Schahin, o vice-presidente de Marketing da entidade, Rubens Hannun, o vice-presidente de Relações Internacionais, Helmi Nasr, o diretor Mustapha Abdouni e o secretário-geral, Michel Alaby.